Assim que sentiu o cara se aproximando, ela não pensou duas vezes: desferiu um chute certeiro bem entre as pernas dele — ou ao menos esperava que tivesse acertado. Não ficou para conferir. Saiu correndo até onde tinha visto um graveto mais encorpado, o tipo perfeito para virar arma improvisada. Com ele em mãos, virou-se de supetão, lançou um olhar furioso e empunhou o “pau-espada”.
— Olha só, se você estiver me seguindo feito um maluco, juro que vou arrancar essa sua cabecinha minúscula sem cérebro! Nem pense em se aproximar! — rosnou, mostrando os dentes como uma gata selvagem pronta pra briga.
Ajustou a madeira nas mãos e golpeou o ar como se estivesse ensaiando um ataque ninja.
— Eu sei lutar, tá legal? Faixa preta em alguma coisa que não vou revelar só pra manter o mistério. Então, fique aí mesmo e diga seu nome, endereço, idade, número do documento e onde trabalha. Agora.
Hocheol estava mantendo a outra em seu campo de visão apenas para garantir que ela chegaria em um local seguro e que aquele esquisito não a seguiria novamente. Chegou até mesmo a relaxar um pouco quando percebeu que tudo estava bem, pegando o celular por um momento para ver uma mensagem. No entanto, no momento em que ergueu os olhos novamente, a mulher já não estava mais ali.
O pior passou pela cabeça do promotor. Teria ela sido pega? Teria se machucado e rolado morro abaixo? Uma pitada de desespero para complementar a preocupação. Sendo assim, saiu apressado pelo caminho, olhando para os lados, procurando por qualquer sinal da outra. Se algo acontecesse, poderia mesmo ser considerado uma boa pessoa?
━ Onde que ela se enfiou? ━ Perguntou-se, parando perto de uma das árvores para dar uma outra olhada ao redor.
FLASHBACK
Quando Kyungmi foi finalmente colocada no chão pelo homem, revirou os olhos e o imitou com deboche antes de ajeitar o vestido e lançar um olhar mortal na direção dele. Se aquele cara estava achando que ia ganhar essa disputa, estava redondamente enganado.
— Eu peço, não tem problema nenhum. Me espera aqui — disse, jogando o cabelo na cara dele. E, claro, torcendo para que acertasse bem no olho.
Ela caminhou até o DJ com um sorriso simpático, puxando assunto sobre os remixes da festa e apontando discretamente para o homem que a observava do cantinho, perto da escadinha.
— Então, é o seguinte: tá vendo aquele ali? É meu amigo. Super tímido, sabe, coitado. E hoje é o aniversário dele! Legal, né? Ele queria muito um remix especial com as três músicas favoritas dele, e no final, aquele clássico “Parabéns pra Você”. Só que tem um detalhe: como está todo mundo de máscara, o nome dele hoje é... Sr. Brilhante.
Explicou com gestos teatrais, se divertindo horrores. O DJ entrou na onda com tanta empolgação que ela ainda saiu de lá com um adesivo fofo brilhante colado no braço, brinde VIP para a melhor história da noite.
Ao voltar, ela sorriu vitoriosa e bateu de leve nas costas do homem que a acompanhava.
— Pedi. Feliz agora? Ótimo, vira aí pra eu pular nas suas costas. Vamos descer com estilo.
E ela ia ficar com esse cara no meio do salão, com toda a certeza. Porque no momento em que o remix de “Barbie Girl” da Aqua começasse, seguido por “Baby” do Justin Bieber e “You Belong With Me” da Taylor Swift, e depois, o tradicional “Parabéns pra Você” com luzes focando diretamente nele, Kyungmi ia gargalhar até perder o ar. Claro, depois ainda ia tocar “Sugar Free” — cortesia, já que perguntaram se ela queria pedir uma também. Educação em primeiro lugar.
— Por que eu iria morrer? — perguntou rindo com o surto dela, ignorando os tapas que estava recebendo. — E você gosta de um drama, né? — devolveu a pergunta, revirando os olhos de brincadeira. Haesoo nunca mais reclamaria de ir para a academia depois disso, tinha subido as escadas com a mulher no colo sem nem ficar cansado. Ao final dela, colocou-a no chão e se afastou um pouco por achar que ela iria bater nele de novo. — E claro que eu não gosto de perder quando eu estou certo! Você quer tirar vantagem de mim depois de fazer isso comigo. — Apontou para a sua roupa manchada de bebida. — Agora você pode pedir a sua música, vai. — Estendeu a mão, indicando onde ela poderia pedir a música que queria, cruzou os braços e riu.
Ainda com os olhos arregalados, Kyungmi encarava o homem como se fosse capaz de cortá-lo em pedacinhos só com o olhar. Seus olhos brilharam em puro deleite ao vê-lo se encolher de dor, e quase riu, não por maldade, mas porque estava nervosa demais pra lidar direito com suas reações.
— Não sei se existe isso de perseguir alguém sem maldade. — Arqueou a sobrancelha, totalmente incrédula, e levantou a mão fechada em punho, ameaçando de novo. — E fica aí mesmo! — Estreitou os olhos, firme, esperando paciente como era Jesus, que ele respondesse tudo direitinho.
Ela se aproximou só um pouco, curiosa, para espiar o cartão. Olhou pra ele. Voltou pro cartão. Repetiu isso umas cinco vezes, como se estivesse decidindo se confiava ou não naquela história. POr fim, só se ajeitou e deu uns tapinhas imaginários na própria roupa, tirando a poeira invisível.
— Se eu te denunciar pro Ministério Público por perseguição, será que você seria o promotor do caso? — perguntou, visualizando toda a cena no tribunal, encarando ele se defendendo. — Que injustiça! Vou perder mesmo sem ter chance de me defender. — Ela suspirou fundo. — É bom mesmo que você não seja um maluco qualquer, porque eu não tô com grana pra advogado… e sinceramente, zero disposição pra passar meus dias numa cela.
Ela acertou, sim. Acertou até demais. Hocheol foi se encolhendo devagar, com as mãos à frente do corpo, a expressão dolorida. Entendia a reação dela, não podia julgá-la por se defender, mas Hocheol não queria ficar estéril naquele parque. Ergueu a mão aberta na direção dela, pedindo que a jovem esperasse enquanto ele se recuperava do impacto do chute em suas bolas. ━ Eu não estava te seguindo com maldade e não vou me aproximar. ━ Falou com um tom ainda dolorido, erguendo o tronco e ajeitando o corpo com um longo suspiro.
━ Eu sou Jeon Hocheol, tenho trinta e três anos, moro em Jinjuseong. Não posso te passar meu número de registro, mas posso te mostrar meu cartão. ━ Suspirou, pegando a própria carteira. Devagar, para evitar que a outra se assustasse e lhe atacasse novamente. ━ Aqui. ━ Estendeu o cartão na direção dela. ━ Sou promotor público.
Kyungmi odiava ter que ir à lavanderia. Ela simplesmente não nasceu pra esse tipo de vida, de jeito nenhum! Era sempre um caos: esquecia as próprias roupas, pegava as dos outros sem querer, e o pior — sempre tinha alguém querendo puxar papo justo quando ela estava com os fones no último volume, ouvindo Roxette como se fosse trilha sonora de um clipe esquisito. Por isso, decidiu ir num horário mais vazio. Apesar de ser extrovertida, Kyungmi também era um poço de contradição — tão introvertida quanto falante, dependendo do dia.
Enquanto esperava, ficou mexendo no seu velho MP4, até que resolveu pegar o Kindle e tentar ler alguma coisa. O livro era chato. Os protagonistas eram tão sem graça que ela quase torceu para algum deles morrer só pra ver se animava. Mas era o único livro que tinha, e reler os outros pela milésima vez estava fora de cogitação. Infelizmente, o cartão de crédito já tinha sido cancelado, então nem pensar em comprar um novo e muito menos assinar um plano. Só de lembrar disso, seu humor azedou. Fechou o Kindle com força e começou a andar pela lavanderia, cantarolando. Foi quando viu um cara mexendo nas calcinhas dela.
— Hey! Seu tarado! Larga aí minhas calcinhas! — berrou, dando um tapão nas costas largas dele, quase fazendo o MP4 voar da mão. Prioridades. — Xiiiii... xispa! Minhas calcinhas! Nem te servem, cara! Vai errabentar tudo, alargar o elástico, estragar o babado!
Tomou posse da cesta com dignidade ferida e ainda ameaçou dar mais uns tapas. Só que, no calor do momento, o fio do fone enroscou em alguma coisa, e a cesta caiu no chão. Lingeries espalhadas. A de babadinho. A calcinha de vó. Suas saias. E, como se não bastasse, aquela camisola ridícula que tinha a frase: “Yes, I'm slick. No, you can't touch”
Misericórdia. Até aquela tinha levado. Uma peça comprada por meme e pura zoeira — agora exposta ao julgamento alheio. Quis desfalecer ali mesmo, mas não era fraca. Ia sustentar.
Com uma expressão séria, tirou o fone (milagre que ainda estava pendurado em uma orelha) e encarou o homem de cima a baixo, avaliando com um olhar bem crítico.
— Olha só… por mais que eu seja boazinha e até empreste roupa de vez em quando, eu realmente acho que meu sutiã não vai caber em você — gesticulou com as mãos, feito um crítico da moda. — Por mais que você tenha uns peitões aí, acho que não rola nas costas. E essa camisola aqui? Não combina com a cor dos seus olhos. Aquela calcinha ali tá furada… ia pegar mal. E essa peça que você tá segurando? Definitivamente não te serve. Vai rasgar.
@talktomi reagiu 🧦 para um starter !!
Chanhyuk precisava comprar uma lava e seca urgentemente, mas enquanto isso não acontecia, a única lavanderia autosserviço do bairro teria que servir. Pra evitar fila e mais demora que o habitual, ele juntou toda a roupa suja dos últimos três dias e esperou passar das dez da noite pra sair de casa, com a esperança de que voltaria antes da madrugada.
Não tinha quase ninguém lá dentro mesmo, como esperado, quando a porta de entrada fez aquele barulho automático de seja bem vindo! e o ar condicionado gelado o atingiu em cheio. Com a disposição e elegância de quem tinha passado o dia inteiro em pé, mais de dez horas andando de lá pra cá atendendo clientes, Chanhyuk enrolou tudo na mão e socou a massaroca de roupa na primeira máquina disponível que viu pela frente. Isso, e porque as suas roupas cheiravam… Bom. Ao seu cheiro natural. Ele queria evitar ficar desfilando com elas debaixo do braço e acabar com alguém o reconhecendo, por mais mínimas que fossem as chances.
O processo a partir daí foi meio que tedioso. Chanhyuk arranjou um canto pra se sentar, puxou o celular, ficou rolando os reels do instagram até os olhos começarem a arder. Só se levantou quando a máquina apitou, e mesmo assim continuou com o nariz enfiado na tela, distraído. Jogou a pilha limpa de volta numa cesta e finalmente encarou, decidido ao último esforço da noite, de dobrá-las num padrão minimamente reconhecível antes de ir embora.
O que o encarou de volta com certeza não era seu. Tinha tanta cor, o seu cérebro cansado demorou pra processar a informação. Os seus dedos pinçaram uma saia, ou a faixa de tecido que ele supôs ser uma saia, e a ergueram no ar pra analisar mais de perto, enquanto as suas orelhas coloriram instantaneamente num cor-de-rosa ardido. Chanhyuk ficou um minuto inteiro travado igual tela azul, depois voou pra trás por instinto, como se tivesse enfiado a mão no fogo. A saia saiu voando também. Uma mortificação horrorosa se instalou no fundo do seu estômago.
“Isso é seu?!” Ele se escutou perguntar, numa vozinha quebrada, pra única dona possível das roupas. Quer dizer, Chanhyuk só poderia assumir, considerando o pedaço não identificado de renda que ficou enroscado na cesta. Os seus olhos retraíram rápido da imagem. Puta que pariu. Que um buraco abrisse do chão e o engolisse direto pro último círculo do inferno.
Kyungmi soltou algumas risadinhas ao ver o jeitinho atrapalhado da mulher, então olhou para cima, depois na direção da pequena cachorrinha salsicha. Esticou o saquinho de petiscos e, sem pensar duas vezes, a canina veio toda rebolante, abanando o rabinho, até ela. Esperta que só, Kyungmi aproveitou o momento para segurar a cachorrinha com delicadeza e alisar o pelo macio e sedoso. Quando a dona finalmente se aproximou, Kyungmi ficou completamente encantada. A mulher era linda. De verdade. De tirar o fôlego.
— Não! Acredita que tenho vários desses na bolsa? Vou te dar alguns, presente para a Rosy! Sua cachorrinha é uma fofura. — sorriu, entregando alguns petiscos — Ganhei num evento sobre cães-guia que fui recentemente, ali pertinho daqui. Hoje só dei uma passadinha por aqui pra tomar um suco e fingir que sou fitness.
Ela se ajeitou na toalha e deu um tapinha no espaço ao lado, convidando a mulher para sentar.
— Me chamo Kyungmi! E você? — perguntou animada, antes de soltar com um sorrisinho. — Aliás, você é muito linda. Sério. Parece até modelo de capa de revista.
Já completamente sem fôlego e com as pernas doendo, Xiaoli se deixou cair no chão e ficar ali mesmo sentada enquanto respirava fundo. Só tinha desistido, pois viu uma mulher mostrar um pouco de compaixão com a sua situação e tentar ajudá-la a pegar a sua filha canina. Quando viu ela tirando um pacote de petiscos da bolsa, já sabia que Rosy ia parar por puro interesse guloso. — Ai, cadelinha má! Você vai ver só, eu vou te deixar sem petiscos por um mês inteiro! — ralhou com a cachorra quando ela realmente foi para perto da mulher. Se levantou e se aproximou, a prendendo na coleira novamente. — Nossa, ainda bem que você tinha petiscos com você... mas é normal? Você andar com petiscos por aí?
Cansada de atormentar as pessoas para dançar com ela e já tendo provado um pouco de cada taça, Kyungmi se viu presa no olhar de uma mulher que a encarava. Por precaução, ajustou sua máscara, sentindo timidez por alguns segundos, mas logo abriu um sorriso travesso e piscou na direção dela.
Quando a viu se aproximar, sorriu de leve, mas não conseguiu segurar uma gargalhada alta ao ouvir o que a mulher disse.
— Posso te dar uma dica da primeira letra do meu nome se você aceitar dançar comigo ali! — Kyungmi apontou para um cantinho mais reservado onde poderiam se divertir juntas. — E então, você topa?
𝐎𝐏𝐄𝐍 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐓𝐄𝐑 ;
☆ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀Boram estava encarando. Não era por mal, nem mesmo muito consciente depois da terceira taça de champanhe. A curiosidade se iniciou pela roupa de muse, estava fascinada. Então, se pegou encarando o rosto mascarado. Estava um tantinho longe, a luz era baixa, não dava para arriscar um palpite de quem estaria por baixo. Infelizmente, só percebeu o que fazia quando percebeu que estava sendo encarada. Com um suspiro rendido, se aproximou e foi deixar suas desculpas: ━━ Desculpe ficar encarando, só estava tentando descobrir quem era...
Kyungmi estava se divertindo enquanto cuidava dos filhotinhos de cachorro. Tinha encontrado um anúncio da Universidade de Cheju Halla na internet e se inscreveu no evento no mesmo instante, afinal, quem em sã consciência recusaria um dia inteiro com doguinhos treinados para se tornarem cães-guia?
Ela estava radiante, acariciando as barriguinhas peludas e até latindo de volta para alguns que a respondiam com aqueles ganidos fofos. Sabia que os cães mais velhos não podiam receber esse tipo de carinho tão livremente, então se esbaldava com os filhotes. O problema era que... ela queria um. Um pet. Qualquer pet. Cachorro, gato, talvez até uma tartaruga dramática mordedora de pé. A vontade era tanta que começou a sentir uma leve tristeza crescendo no peito.
Foi quando pediram para ela levar um casal de filhotinhos até uma salinha mais silenciosa para descansarem. Sem pensar duas vezes, ela já estava ninando os pequenos nos braços como se fossem seus bebês. Só que, ao se aproximar da tal sala, percebeu que não estava vazia, havia alguém lá dentro. Seus olhos brilharam. Mais alguém pra conversar sobre como aqueles doguinhos!
Cheia de energia, escancarou a porta num impulso e só se deu conta do erro quando os filhotes reclamaram da luz com choramingos tristes. Fechou a porta num estalo e fez uma careta de desculpas.
Só não contava em ser recebida com um comentário malcriado daquele cara que estava na sala.
— Se eu soubesse ler, teria lido, tá?! — rebateu na defensiva, já recuando com as costas na porta e tentando abri-la de novo.
Mas a porta... não abriu. Ela girou a maçaneta mais uma vez. Nada. Respirou fundo e soltou um suspiro dramático, já aceitando o destino trágico de estar presa com um antipático. Bateu a mão pela roupa que usava e se deu conta que não estava nem com o celular. Ótimo, agora tinha mais isso para adicionar em sua grande lista de derrotas.
Sim, havia uma placa no chão. Sim, ela leu. E sim, chutou a bendita pro canto antes que o homem notasse. Paciência. Não que fosse mudar alguma coisa agora. Estavam trancados.
oh viver seu primeiro clichê! ( pelo menos tem cachorrinhos ) @talktomi
O evento era na Universidade de Cheju Halla, e alguns dos professores haviam se disponibilizado para auxiliar a instituição que treina cães guias. Yoonhak já muito namorava a ideia de adotar um bichinho, mas o fato de hesitar demais já lhe era um sinal vermelho. Aceitar ajudar no evento que apresentava todo o trabalho da organização, bem como os futuros cachorros que seriam a visão de alguém, foi uma tentativa de se ajudar também. No ginásio enorme, vários cercados tinham sido montados. Não queriam arriscar uma das chuvas surpresas da primavera. Entre os filhotes de labradores e golden, e outros não tão filhotes mais, Yoonhak sorria muito mais que o normal. Se encontrava energizado e encantado. Yoonhak quase não ouviu quando pediram para que ele fosse buscar mais garrafas de água na salinha que estavam a usar não só como estoque, mas um lugar para deixar os cachorrinhos mais novinhos que dormiam. Não que fossem mantê-los ali, mas, se havia entendido correto, eles tinham lá seu momento necessário de descanso e a agitação e barulheira de fora era boa. Ele foi, e devia ter prestado mais atenção na sua intuição que gritou que as fitas que seguravam papel colocado na porta, avisando para que não fechasse completamente, não aguentaria muito. Era a única sala que tinham no ginásio, no entanto. Yoonhak entrou tentando deixar o prendedor bem colocado na soleira da porta, não podendo deixá-la aberta por completo pelos cachorrinhos amontoados atrás de outro cercado montado. De costas, tirando os pacotes com galões de água de um 1L, Yoonhak só ouviu o som do trinco batendo. Ele se virou com o peso nos braços e a maior cara de: mentira, cara. “Tinha literalmente uma placa na porta, ô, caralho.” não conseguiu engolir nem o suspiro alto. Foi automático lembrar que ao menos ele nem com o celular estava - um belo clichê.
— Foi ontem o evento! — comentou com uma risada faceira, que aumentou ainda mais quando foi questionada. — Infelizmente, no momento, só tenho petiscos pra cachorrinhos, mas eu adoraria taaaaaaanto ter um gatinho! Acho que colocaria o nome dele de Meow. Ou talvez Peluche?
Kyungmi ficou pensativa por um instante, até notar que a moça finalmente se sentava ao seu lado. Aleluia! Olhar pra cima era um sacrifício, e a luz ainda incomodava seus olhos sensíveis.
— Wang Xiaoli? Que nome lindo!!! Combina perfeitamente com você — disse, oferecendo mais um sorriso doce. E quando ouviu que ela iria contar um segredo, Kyungmi se inclinou discretamente para ouvir melhor, como se estivessem conspirando. — Rá! Eu sabia! Você é linda demais. E obrigada, somos realmente duas gatonas.
Mas, assim como o sorriso apareceu com facilidade, também desapareceu rapidinho. Fitness? Jamais.
— Ai, mas aí já tá pedindo demais. Dá muito trabalho ser fitness. Será que não conta como exercício sair todos os dias pra comprar croissant na esquina? — perguntou com um olhar curioso, encarando a mulher que, além de bonita, era cheirosa, e isso Kyungmi definitivamente notou. — Você é fitness?
— E aí desde esse evento você vem andando com comida de cachorro na bolsa assim? — perguntou de forma curiosa, aceitando os petiscos oferecidos. — E para os gatos? Eles estão inclusos? — Lançou um olhar brincalhão para ela, fingindo estar a julgando.
Soltou um suspiro e sentou-se ao lado dela, resolvendo finalmente descansar de toda a correria que teve que fazer. — Eu me chamo Wang Xiaoli — se apresentou, rindo quando ela falou sobre parecer modelo de capa de revista. — Você acha? Pois vou te contar um segredo... — Colocou as mãos na frente da boca e sussurrou dramaticamente. — Eu sou modelo! E você também é muito linda. — Riu e firmou a coleira na sua mão quando notou Rosy tentando fugir novamente, a puxando. — E você devia parar de fingir ser fitness e ser de verdade.
O som das ondas era perfeito. Kyungmi estava completamente apaixonada por tudo ali, desde o vai e vem da maré até o cheiro salgado e inconfundível da praia. Era tão bom sentir o vento brincando com seus cabelos, batendo contra o rosto aquecido. Ela se virou para a amiga ao lado e abriu um sorriso largo. — É um lugar muito especial, então. Eu gostei disso. Ele é ótimo. — Concordou com a cabeça, deixando que Sunbin a puxasse suavemente para guiá-la pelo caminho.
A surpresa veio ao avistar o barco. Os olhos dela brilharam com um misto de espanto e animação. A empolgação cresceu, mas logo deu espaço a uma pontinha de preocupação: como ela iria subir ali? Por sorte, sua amiga ofereceu a mão, e Kyungmi aceitou sem pensar duas vezes. Ela quase soltou um gritinho quando sentiu o balanço leve do barco, mas engoliu o som antes que escapasse. Não queria parecer medrosa... e, principalmente, não queria que Sunbin desistisse da aventura por causa disso.
— Okay... — murmurou, concentrando-se nas dicas da amiga. Subiu com cuidado, pisando firme, deixando o corpo ir junto. Fechou os olhos com força quando percebeu que já estava lá dentro. — Yay! Consegui! Isso é muito legal. Você costuma vir sozinha?
Soltou o ar devagar, se permitindo relaxar um pouco, e lançou um olhar curioso.
— Já caiu alguma vez?
sunbin apertou de leve o braço de kyungmi, guiando-as com passos tranquilos pela trilha de madeira que levava até o píer. o som das ondas se misturava ao canto das gaivotas, e o cheiro salgado da brisa do mar fazia cócegas suaves em seu nariz. ❝ não venho sempre ❞, respondeu, num tom calmo, quase melódico. ❝ é o tipo de lugar que guardo pra quando eu preciso respirar, lembrar que o mundo é maior do que parece ❞ completou, antes de puxar gentilmente kyungmi pela mão, acelerando um pouco os passos. os barquinhos já balançavam suavemente, presos às cordas, pintando pequenas silhuetas contra o reflexo dourado da água.
sunbin tirou algumas notas dobradas do bolso do casaco e entregou calmamente ao barqueiro, agradecendo com um aceno discreto de cabeça. ele assentiu e começou a soltar a amarra enquanto se afastava para dar espaço às duas. ❝ vem, eu te ajudo ❞ disse com a voz suave, estendendo a mão para kyungmi. a madeira do píer balançava levemente com o movimento da maré, e o barquinho não era exatamente estável — mas sunbin já tinha feito aquilo antes. firmou os pés com cuidado, entrou primeiro, e depois virou-se, segurando a mão da amiga com firmeza e puxando-a com delicadeza. ❝ devagar, só pisar no meio e deixar o corpo ir junto ❞ orientou, os olhos atentos, prontos pra qualquer sinal de desequilíbrio.
🍒 Cherry Dreams in a Champagne World 🍒
Cereja e champanhe são os aromas que se desprendem de Kyungmi na menor aproximação, revelando muito sobre quem ela é. O aroma de cereja, mais marcante e vivo, reflete sua energia vibrante e sua natureza intensa e imprevisível. Já o toque de champanhe adiciona uma leveza efervescente, equilibrando sua personalidade volátil com uma doçura divertida e um charme irresistível, difícil de ignorar.
Lee Kyungmi era uma explosão ambulante de energia, e sua essência não podia ser diferente. Seu cheiro natural de cereja com notas de champanhe parecia traduzir exatamente quem ela era: vibrante, divertida e imprevisível. Não era um aroma discreto ou contido; ele chegava primeiro, risonho e efervescente, preenchendo o espaço como um convite para a bagunça e a aventura.
Em momentos de alegria — que, para Kyungmi, eram quase constantes — o cheiro de cereja se tornava ainda mais forte, adocicado e fresco, como uma tarde ensolarada de primavera. Era o tipo de aroma que animava o ambiente, que fazia as pessoas sorrirem sem nem perceber o porquê. Quando ela ria alto, contando alguma história absurda das suas viagens ou das trapalhadas ao vivo nas streams, parecia que a essência dela vibrava junto, como se espalhasse bolhas invisíveis de champanhe pelo ar.
Mas o aroma também carregava sua marca volátil. Quando ficava irritada — e ela era especialista nisso — a cereja ganhava uma acidez inesperada, mais viva e intensa, enquanto a nota de champanhe perdia a leveza, assumindo um tom quase mortal. Era fácil perceber: o ambiente mudava sutilmente, e quem estivesse por perto sentia a necessidade de pisar em ovos. E, no fundo, isso até divertia Kyungmi, que sabia que seu humor podia dominar o clima do lugar sem muito esforço.
Durante o cio, Kyungmi era como uma tempestade — impossível de conter, impossível de resistir. A leveza vibrante que sempre a acompanhava se condensava em algo mais denso, mais afiado, um magnetismo bruto que pairava no ar como eletricidade prestes a explodir. Sua voz adquiria um tom baixo e imperativo, seus gestos eram deliberados, cheios de promessas que ninguém ousava questionar. Ela não implorava, não seduzia: ela ordenava com o olhar, com o cheiro, com o toque. E por mais que alfas tentassem se impor, descobriam rapidamente que, diante dela, todo o instinto de domínio se voltava contra eles. No fim, era sempre Kyungmi quem controlava o jogo, com um sorriso torto nos lábios e a vitória gravada no perfume embriagante que deixava para trás.
Nesse período, mesmo sem querer, Kyungmi se tornava uma pequena bomba de desejo inconsciente, confundindo ainda mais quem tentasse decifrá-la.
Seu aroma deixava um rastro de confusão encantada, como quem sai de uma conversa com ela sem lembrar direito o que aconteceu, mas com a sensação de ter vivido algo inesquecível. E para ela mesma? Era liberdade pura. Kyungmi não escondia sua essência — pelo contrário, ela a usava como um estandarte brilhante de quem era, sem se desculpar nem suavizar as arestas.
Afinal, ser ômega para Kyungmi nunca foi sinônimo de fragilidade. Sua essência dizia isso melhor do que qualquer palavra: ela era viva, forte, insuportavelmente teimosa.
Apesar de ter uma rotina corrida e quase nunca sentir vontade de sair de casa, desde que chegou em Jeju, Kyungmi vinha se permitindo algumas aventuras. Lembrava de ter passado em frente a uma loja de música e, como boa sonhadora que era, entrou decidida: queria um baixo! Queria ser uma rockstar, pelo menos naquela tarde, e tocar todas as músicas da sua playlist "bajo bien bastardo".
Com um sorriso sonhador, piscou os olhos ao sair do devaneio e começou a dedilhar qualquer coisa que lhe vinha à cabeça — tudo completamente errado, mas ela não ligava. Não até Jae chamar sua atenção com aquele drama típico dele. Kyungmi revirou os olhos, negando com a cabeça, e ainda tocou mais algumas teclas só para provocá-lo, antes de cair na gargalhada. Foi então que aproveitou a deixa perfeita para imitar suas falas com ar teatral:
— Achocolatado? Por acaso você se esqueceu do que te ensinei sobre minha alergia a leite? — Era injusto, ela sabia. Mas também? Não se importava nem um pouco. Sabia que ele era um alfa... e aí mesmo que não ligava. Abriu um sorrisinho e sacudiu a cabeça. — Está querendo me matar lentamente com carinho? Tem refrigerante de morango? Ou de abacaxi? Talvez um suco de melão?
Enquanto ele decidia a bebida, Kyungmi voltou para o piano e tentou tocar “Someone Like You” da Adele — uma versão bem sofrida, diga-se de passagem. Mas pelo menos a voz dela compensava o desastre nas teclas.
⋆ㅤ⠀›ㅤ⠀starter fechado com @talktomi na loja de instrumentos
era engraçado como algumas conexões simplesmente aconteciam. a primeira vez que kyungmi entrou na loja tinha sido por acaso. ela entrou parecendo meio deslocada, como se tivesse tropeçado ali por engano. falaram sobre música, ele comentou algo sobre os tons de uma música que tocava no rádio da loja, e quando viu, já estava mostrando umas notas no piano. desde então, kyungmi aparecia de tempos em tempos, e jae — bem, jae começou a separar alguns minutos do dia pra ensinar uma coisa ou outra. especialmente no piano e no baixo. nada formal, nada forçado. mas naquela tarde… jae piscou, incrédulo, os ouvidos meio ofendidos com o massacre que ela acabara de fazer em cima de uma sequência simples. ❝ você esqueceu o que eu te ensinei? ❞ o tom era meio teatral, como se o coração dele tivesse acabado de partir. ele levantou dramaticamente do banquinho, caminhando em direção ao frigobar atrás do balcão. abriu a portinha e olhou pra dentro, procurando como se estivesse diante de uma grande decisão. ❝ refrigerante ou achocolatado? ❞ virou-se com as duas opções na mão, erguendo uma em cada lado.