— Porque significa pelúcia! — Kyungmi respondeu, toda orgulhosa do próprio conhecimento. — E porque bichinhos são fofos, então acho que combina demais! — Ah, mas meow é tão bonitinho... — ela fez um biquinho nos lábios, mas acabou cedendo com uma risadinha. — Porém, concordo. — Kyungmi se animou ainda mais quando viu Xiaoli pegando o celular e deslizando por fotos de gatinhos lindos e fofinhos. Seus olhos brilhavam. — Eles são tão lindos! E os nomes são ainda mais perfeitos! Eu posso amassar eles qualquer dia? — A pergunta saiu tão pidona que ela nem tentou disfarçar. Com as bochechas coradas, caiu na risada. Xiaoli era tão engraçada e adorável. Kyungmi não resistia. — Por favor, agradeça muuuuuito por mim! — falou, ainda rindo. — Mas, olha... eu só faço academia ou qualquer exercício se você for comigo. Caso contrário, nada feito. Sério, eu odeio tanto... E pior ainda é ir sozinha. Preciso de apoio moral pra não acabar no cantinho comendo biscoitos.
— Peluche? Por que esse nome? — perguntou inclinando a cabeça, não entendendo a palavra que ela tinha dito. — Meow é a mesma vibe que colocar o nome do gato de gato. — Riu, puxando o celular de seu bolso para mostrar para ela fotos dos gatos que tinha na sua casa na China. — Olha só, esses aqui são os meus gatos! Rourou e Michu, bonitinhos né? — Mostrou algumas fotos e vídeos, fazendo parte daquela porcentagem de pessoas que não perde uma chance de mostrar seus bichinhos de estimação se tiver oportunidade. — E obrigada, vou mandar os seus agradecimentos a minha mãe. — Riu ao falar isso quando ela elogiou o seu nome, brincando. — Mas olha... sair para comprar croissant não é fitness, mas é melhor do que pedir para ser entregue em casa, pelo menos. — Balançou a cabeça para o que ela disse, achando engraçada a resposta que ela tinha dado. — Mas eu sou sim. Não fervorosa, até porque você acabou de ver eu quase morrendo depois de ter que correr atrás da Rosy, mas o suficiente para me manter em forma por causa do meu trabalho. Você devia tentar...! — A cutucou de leve no ombro, apenas para implicar. — Faz bem para a saúde.
🍒 Cherry Dreams in a Champagne World 🍒
Cereja e champanhe são os aromas que se desprendem de Kyungmi na menor aproximação, revelando muito sobre quem ela é. O aroma de cereja, mais marcante e vivo, reflete sua energia vibrante e sua natureza intensa e imprevisível. Já o toque de champanhe adiciona uma leveza efervescente, equilibrando sua personalidade volátil com uma doçura divertida e um charme irresistível, difícil de ignorar.
Lee Kyungmi era uma explosão ambulante de energia, e sua essência não podia ser diferente. Seu cheiro natural de cereja com notas de champanhe parecia traduzir exatamente quem ela era: vibrante, divertida e imprevisível. Não era um aroma discreto ou contido; ele chegava primeiro, risonho e efervescente, preenchendo o espaço como um convite para a bagunça e a aventura.
Em momentos de alegria — que, para Kyungmi, eram quase constantes — o cheiro de cereja se tornava ainda mais forte, adocicado e fresco, como uma tarde ensolarada de primavera. Era o tipo de aroma que animava o ambiente, que fazia as pessoas sorrirem sem nem perceber o porquê. Quando ela ria alto, contando alguma história absurda das suas viagens ou das trapalhadas ao vivo nas streams, parecia que a essência dela vibrava junto, como se espalhasse bolhas invisíveis de champanhe pelo ar.
Mas o aroma também carregava sua marca volátil. Quando ficava irritada — e ela era especialista nisso — a cereja ganhava uma acidez inesperada, mais viva e intensa, enquanto a nota de champanhe perdia a leveza, assumindo um tom quase mortal. Era fácil perceber: o ambiente mudava sutilmente, e quem estivesse por perto sentia a necessidade de pisar em ovos. E, no fundo, isso até divertia Kyungmi, que sabia que seu humor podia dominar o clima do lugar sem muito esforço.
Durante o cio, Kyungmi era como uma tempestade — impossível de conter, impossível de resistir. A leveza vibrante que sempre a acompanhava se condensava em algo mais denso, mais afiado, um magnetismo bruto que pairava no ar como eletricidade prestes a explodir. Sua voz adquiria um tom baixo e imperativo, seus gestos eram deliberados, cheios de promessas que ninguém ousava questionar. Ela não implorava, não seduzia: ela ordenava com o olhar, com o cheiro, com o toque. E por mais que alfas tentassem se impor, descobriam rapidamente que, diante dela, todo o instinto de domínio se voltava contra eles. No fim, era sempre Kyungmi quem controlava o jogo, com um sorriso torto nos lábios e a vitória gravada no perfume embriagante que deixava para trás.
Nesse período, mesmo sem querer, Kyungmi se tornava uma pequena bomba de desejo inconsciente, confundindo ainda mais quem tentasse decifrá-la.
Seu aroma deixava um rastro de confusão encantada, como quem sai de uma conversa com ela sem lembrar direito o que aconteceu, mas com a sensação de ter vivido algo inesquecível. E para ela mesma? Era liberdade pura. Kyungmi não escondia sua essência — pelo contrário, ela a usava como um estandarte brilhante de quem era, sem se desculpar nem suavizar as arestas.
Afinal, ser ômega para Kyungmi nunca foi sinônimo de fragilidade. Sua essência dizia isso melhor do que qualquer palavra: ela era viva, forte, insuportavelmente teimosa.
Kyungmi estava se divertindo enquanto cuidava dos filhotinhos de cachorro. Tinha encontrado um anúncio da Universidade de Cheju Halla na internet e se inscreveu no evento no mesmo instante, afinal, quem em sã consciência recusaria um dia inteiro com doguinhos treinados para se tornarem cães-guia?
Ela estava radiante, acariciando as barriguinhas peludas e até latindo de volta para alguns que a respondiam com aqueles ganidos fofos. Sabia que os cães mais velhos não podiam receber esse tipo de carinho tão livremente, então se esbaldava com os filhotes. O problema era que... ela queria um. Um pet. Qualquer pet. Cachorro, gato, talvez até uma tartaruga dramática mordedora de pé. A vontade era tanta que começou a sentir uma leve tristeza crescendo no peito.
Foi quando pediram para ela levar um casal de filhotinhos até uma salinha mais silenciosa para descansarem. Sem pensar duas vezes, ela já estava ninando os pequenos nos braços como se fossem seus bebês. Só que, ao se aproximar da tal sala, percebeu que não estava vazia, havia alguém lá dentro. Seus olhos brilharam. Mais alguém pra conversar sobre como aqueles doguinhos!
Cheia de energia, escancarou a porta num impulso e só se deu conta do erro quando os filhotes reclamaram da luz com choramingos tristes. Fechou a porta num estalo e fez uma careta de desculpas.
Só não contava em ser recebida com um comentário malcriado daquele cara que estava na sala.
— Se eu soubesse ler, teria lido, tá?! — rebateu na defensiva, já recuando com as costas na porta e tentando abri-la de novo.
Mas a porta... não abriu. Ela girou a maçaneta mais uma vez. Nada. Respirou fundo e soltou um suspiro dramático, já aceitando o destino trágico de estar presa com um antipático. Bateu a mão pela roupa que usava e se deu conta que não estava nem com o celular. Ótimo, agora tinha mais isso para adicionar em sua grande lista de derrotas.
Sim, havia uma placa no chão. Sim, ela leu. E sim, chutou a bendita pro canto antes que o homem notasse. Paciência. Não que fosse mudar alguma coisa agora. Estavam trancados.
oh viver seu primeiro clichê! ( pelo menos tem cachorrinhos ) @talktomi
O evento era na Universidade de Cheju Halla, e alguns dos professores haviam se disponibilizado para auxiliar a instituição que treina cães guias. Yoonhak já muito namorava a ideia de adotar um bichinho, mas o fato de hesitar demais já lhe era um sinal vermelho. Aceitar ajudar no evento que apresentava todo o trabalho da organização, bem como os futuros cachorros que seriam a visão de alguém, foi uma tentativa de se ajudar também. No ginásio enorme, vários cercados tinham sido montados. Não queriam arriscar uma das chuvas surpresas da primavera. Entre os filhotes de labradores e golden, e outros não tão filhotes mais, Yoonhak sorria muito mais que o normal. Se encontrava energizado e encantado. Yoonhak quase não ouviu quando pediram para que ele fosse buscar mais garrafas de água na salinha que estavam a usar não só como estoque, mas um lugar para deixar os cachorrinhos mais novinhos que dormiam. Não que fossem mantê-los ali, mas, se havia entendido correto, eles tinham lá seu momento necessário de descanso e a agitação e barulheira de fora era boa. Ele foi, e devia ter prestado mais atenção na sua intuição que gritou que as fitas que seguravam papel colocado na porta, avisando para que não fechasse completamente, não aguentaria muito. Era a única sala que tinham no ginásio, no entanto. Yoonhak entrou tentando deixar o prendedor bem colocado na soleira da porta, não podendo deixá-la aberta por completo pelos cachorrinhos amontoados atrás de outro cercado montado. De costas, tirando os pacotes com galões de água de um 1L, Yoonhak só ouviu o som do trinco batendo. Ele se virou com o peso nos braços e a maior cara de: mentira, cara. “Tinha literalmente uma placa na porta, ô, caralho.” não conseguiu engolir nem o suspiro alto. Foi automático lembrar que ao menos ele nem com o celular estava - um belo clichê.
Ainda com os olhos arregalados, Kyungmi encarava o homem como se fosse capaz de cortá-lo em pedacinhos só com o olhar. Seus olhos brilharam em puro deleite ao vê-lo se encolher de dor, e quase riu, não por maldade, mas porque estava nervosa demais pra lidar direito com suas reações.
— Não sei se existe isso de perseguir alguém sem maldade. — Arqueou a sobrancelha, totalmente incrédula, e levantou a mão fechada em punho, ameaçando de novo. — E fica aí mesmo! — Estreitou os olhos, firme, esperando paciente como era Jesus, que ele respondesse tudo direitinho.
Ela se aproximou só um pouco, curiosa, para espiar o cartão. Olhou pra ele. Voltou pro cartão. Repetiu isso umas cinco vezes, como se estivesse decidindo se confiava ou não naquela história. POr fim, só se ajeitou e deu uns tapinhas imaginários na própria roupa, tirando a poeira invisível.
— Se eu te denunciar pro Ministério Público por perseguição, será que você seria o promotor do caso? — perguntou, visualizando toda a cena no tribunal, encarando ele se defendendo. — Que injustiça! Vou perder mesmo sem ter chance de me defender. — Ela suspirou fundo. — É bom mesmo que você não seja um maluco qualquer, porque eu não tô com grana pra advogado… e sinceramente, zero disposição pra passar meus dias numa cela.
Ela acertou, sim. Acertou até demais. Hocheol foi se encolhendo devagar, com as mãos à frente do corpo, a expressão dolorida. Entendia a reação dela, não podia julgá-la por se defender, mas Hocheol não queria ficar estéril naquele parque. Ergueu a mão aberta na direção dela, pedindo que a jovem esperasse enquanto ele se recuperava do impacto do chute em suas bolas. ━ Eu não estava te seguindo com maldade e não vou me aproximar. ━ Falou com um tom ainda dolorido, erguendo o tronco e ajeitando o corpo com um longo suspiro.
━ Eu sou Jeon Hocheol, tenho trinta e três anos, moro em Jinjuseong. Não posso te passar meu número de registro, mas posso te mostrar meu cartão. ━ Suspirou, pegando a própria carteira. Devagar, para evitar que a outra se assustasse e lhe atacasse novamente. ━ Aqui. ━ Estendeu o cartão na direção dela. ━ Sou promotor público.
flashback
Kyungmi revirou os olhos para o homem e balançou a cabeça, já exausta com o drama exagerado dele.
— Senhor Brilhante, você é tão dramático! Quer que eu cuspa na mancha pra limpar? — ofereceu, fazendo o gesto clássico de esfregar com as mãos, como se aquilo fosse perfeitamente aceitável.
Nem tinha terminado de falar e já ouviu o desfile de palavras absurdas saindo da boca daquele homem... de paletó brilhante! Pelo amor. Escada? Ela? Jamais. Mas antes que conseguisse declarar oficialmente sua oposição, o cretino já estava indo em direção às escadas!
Ela se abaixou para desafivelar o salto pronta pra lançar direto na cabeça dele — mira certeira — mas ele voltou, rindo, dizendo que era brincadeira. Ótimo. Só restou fingir que estava ajeitando a fivela do sapato.
Mas a paz não durou. Assim que se endireitou, soltou outro gritinho quando foi pega no colo. De novo. Mas dessa vez... não bateu nele. Ela estava realmente com medo de virar uma panqueca amassada. Uma panqqeca feia ainda por cima.
— Credo, nem pra ser um tiramisu. Cadê o senso de estética, hein? — zombou, agora com o rosto bem próximo do dele. E olha... ele até que era bonito. Sem a menor vergonha, ela o cheirou. Claramente por motivos científicos. Tinha um cheiro adocicado? Mas com um cheiro viciante de café.
— Eu juro, se me deixar cair... eu rasgo essa sua roupa especial com as próprias unhas — ameaçou com seriedade.
Estava prestes a soltar outra de suas frases "carinhosas" quando sentiu o coração parar. Literalmente parar. Em câmera lenta, viu flashes da vida passar — alguns completamente aleatórios, tipo quando caiu do sofá aos oito anos. Era o seu fim? Céu? Inferno? Ela não sabia. Fechou os olhos com força, esperando o impacto...
Mas nada aconteceu.
— YAAAAAA! Você que vai virar panqueca! — gritou quando foi colocada no chão, dando um soquinho no peito dele. Depois outro. E mais um. O quarto estava vindo, mas ela parou para ajeitar o vestido e se escorar no ombro dele, ofegante.
— Eu achei que fosse morrer! Já tava fazendo a lista de todas as mentiras que contei pra minha mãe, pra ver se dava pra ser aceita no céu com um pouco de dignidade. Isso não se faz!
Piscou os olhos rapidamente quando ela jogou o cabelo na sua cara, conseguindo desviar dos fios, mas não do cheirinho que se desprendeu deles. Sentiu o aroma de cerejas que vinha da mulher, esse que o fez respirar fundo para sentir mais do cheiro, o achando muito gostosinho e viciante. Quando se tocou de que estava a seguindo com o olhar sem piscar, Haesoo fechou os olhos e colocou a mão no rosto, esfregando-o por alguns segundos tentando acordar para a vida. Balançou a cabeça negativamente, se recusando a se deixar levar por algo do tipo depois das coisas que estava tendo que passar nas mãos dessa mulher.
No final, voltou a observá-la, novamente balançando a cabeça ao ver o jeito da mulher, toda animada e expressiva, o fazendo se questionar o que raios ela estava inventando. Demorando tanto assim para pedir uma música? Isso não estava cheirando a coisa boa.
— Feliz? Eu só vou estar feliz quando você conseguiu sumir com essa mancha da minha roupa — respondeu, voltando a apontar para a mancha da bebida na sua camisa branquinha, não querendo que ela esquecesse disso. — E como assim vira aí? Você vai descer as escadas sozinha, eu confio no seu potencial de conseguir fazer isso. — Sorriu de forma provocativa e começou a descer as escadas, se divertindo com as reações dela até voltar atrás e a pegar no colo que nem quando subiu as escadas, sem nem falar nada antes disso. — Brincadeira, eu tava brincando. Mas não faz muito escândalo que é mais fácil cair descendo do que subindo. Você vai virar uma panqueca amassada se eu cair por cima de você — comentou começando a descer as escadas, dando risada.
Quando chegaram nos últimos degraus da escadas, Haesoo fingiu que ia cair e que ia derrubá-la no chão, mas era apenas uma provocação, rindo mais ainda depois disso e a colocando no chão com cuidado. — Que pena, não virou uma panqueca amassada...
FLASHBACK
Quando Kyungmi foi finalmente colocada no chão pelo homem, revirou os olhos e o imitou com deboche antes de ajeitar o vestido e lançar um olhar mortal na direção dele. Se aquele cara estava achando que ia ganhar essa disputa, estava redondamente enganado.
— Eu peço, não tem problema nenhum. Me espera aqui — disse, jogando o cabelo na cara dele. E, claro, torcendo para que acertasse bem no olho.
Ela caminhou até o DJ com um sorriso simpático, puxando assunto sobre os remixes da festa e apontando discretamente para o homem que a observava do cantinho, perto da escadinha.
— Então, é o seguinte: tá vendo aquele ali? É meu amigo. Super tímido, sabe, coitado. E hoje é o aniversário dele! Legal, né? Ele queria muito um remix especial com as três músicas favoritas dele, e no final, aquele clássico “Parabéns pra Você”. Só que tem um detalhe: como está todo mundo de máscara, o nome dele hoje é... Sr. Brilhante.
Explicou com gestos teatrais, se divertindo horrores. O DJ entrou na onda com tanta empolgação que ela ainda saiu de lá com um adesivo fofo brilhante colado no braço, brinde VIP para a melhor história da noite.
Ao voltar, ela sorriu vitoriosa e bateu de leve nas costas do homem que a acompanhava.
— Pedi. Feliz agora? Ótimo, vira aí pra eu pular nas suas costas. Vamos descer com estilo.
E ela ia ficar com esse cara no meio do salão, com toda a certeza. Porque no momento em que o remix de “Barbie Girl” da Aqua começasse, seguido por “Baby” do Justin Bieber e “You Belong With Me” da Taylor Swift, e depois, o tradicional “Parabéns pra Você” com luzes focando diretamente nele, Kyungmi ia gargalhar até perder o ar. Claro, depois ainda ia tocar “Sugar Free” — cortesia, já que perguntaram se ela queria pedir uma também. Educação em primeiro lugar.
— Por que eu iria morrer? — perguntou rindo com o surto dela, ignorando os tapas que estava recebendo. — E você gosta de um drama, né? — devolveu a pergunta, revirando os olhos de brincadeira. Haesoo nunca mais reclamaria de ir para a academia depois disso, tinha subido as escadas com a mulher no colo sem nem ficar cansado. Ao final dela, colocou-a no chão e se afastou um pouco por achar que ela iria bater nele de novo. — E claro que eu não gosto de perder quando eu estou certo! Você quer tirar vantagem de mim depois de fazer isso comigo. — Apontou para a sua roupa manchada de bebida. — Agora você pode pedir a sua música, vai. — Estendeu a mão, indicando onde ela poderia pedir a música que queria, cruzou os braços e riu.
Os olhos de Kyungmi se semicerraram automaticamente ao ouvir o tom manso do cara, mas por dentro, ela escondia um sorrisinho travesso de quem sabia que tinha virado o jogo a seu favor. Caminhou com os filhotes nos braços e os colocou com todo o cuidado na caminha preparada para que pudessem dormir junto aos outros. Eram tão fofinhos que Kyungmi não queria deixá-los ali, mas precisava. Assim que soltou os bichinhos, sentiu os braços frios, vazios… e um vazio ainda mais triste por dentro. Um suspiro escapou de seus lábios. Ela queria tanto, tanto, tanto um cachorrinho.
Seus pensamentos de lamento foram interrompidos por um comentário alto e cheio de força do cara ao seu lado. Kyungmi revirou os olhos — é claro que ele não ia conseguir abrir a porta, tinha uma placa avisando isso mais cedo. “E que os Deuses a tenham muito bem escondida, amém,” pensou. Mas então veio o estrondo. Esse, sim, a assustou de verdade.
— Quinze minutos? Tudo isso?! — se lamentou, indignada, como se o mundo estivesse acabando. — Pelo menos posso ficar mais tempo com essas fofurinhas. Eles são tão lindinhos, quentinhos, engraçadinhos… Ahhh, queria tanto um...
Ela respondeu mesmo sem ninguém ter perguntado nada.
— Ah, eu? Hmm… vim sozinha, sim! Não conheço muita gente na cidade ainda. — abriu um sorriso e o lançou ao homem. — Você trabalha aqui? Ouvi você comentando algo sobre um concerto...
Kyungmi então gesticulou com a mão em direção à porta trancada e depois voltou o olhar para ele, inclinando levemente a cabeça, curiosa.
— Acho que você tem cara de quem trabalha aqui. Ou talvez estude? Eu vi num cartaz que rolam vários eventos por aqui. Qual será o próximo? — Perguntou animada, já interessada em descobrir qual seria o próximo evento da universidade no qual poderia se enfiar.
A primeira coisa que veio em sua mente foi uma daqueles desenhos animados com um avestruz enfiando a cabeça na terra. Ele desejou muito algo parecido com a resposta dela. Yoonhak se fez visivelmente constrangido, desviando o olhar e devolvendo o peso das garrafas para o chão. Pedir desculpas adiantaria alguma coisa ou a deixaria sem graça também?
“Os cachorrinhos estão ali.” Ele soou menos antipático dessa vez; manso até. Yoonhak apontou para que ela deixasse os filhotinhos que julgou tê-la levado até ali, em primeiro lugar. Esperou ela dar espaço para também tentar forçar a porta, mas como haviam avisado: só abriria por fora. “Isso não faz o menor sentido.” Foi sua conclusão e um comentário mais alto. “Já deviam ter consertado isso há semanas.” Acrescentou, seguido de um baque frustrado com a lateral do punho cerrado contra a madeira.
“Bom.” Yoonhak se voltou para a garota, coçou atrás da orelha e caminhou até o cercadinho, se agachando e passando os dedos pela grade para acariciar a cabecinha de único filhotinho preto da ninhada. “Acho que temos uns, sei lá, quinze minutos antes de acabarem mesmo com as garrafas d’água lá fora.” Chutou. “Sinto muito por isso. Veio sozinha?”
Kyungmi estava dando uma voltinha pela praia, aproveitando para beliscar umas comidinhas das barraquinhas espalhadas por ali. As mãos estavam cheias de guloseimas, copos e guardanapos, então decidiu deixar tudo cuidadosamente na areia por um momento para buscar uma sacolinha numa das tendas — como tinha visto algumas pessoas fazendo — e poder jogar o lixo fora do jeito certo.
Mas antes que pudesse dar dois passos, algo — ou melhor, alguém — chamou sua atenção.
Um cara estava falando com ela?
Ela franziu o cenho, sem entender direito, e colocou as mãos na cintura. Espera... ele estava chamando ela de suja? Sugerindo que ela jogava lixo na praia? Quer dizer... tecnicamente ela tinha jogado as coisas no chão, mas só por um segundo! Ela ia pegar uma sacola! Ela só tinha duas mãos!
— Você tá me chamando de suja? Esse lixo aqui nem é meu! — respondeu na defensiva, já abaixando para pegar tudo de volta nos braços e, com um leve exagero dramático, enfiando tudo na lixeira que ele segurava.
Depois disso, limpou as mãos e encarou o cara com os olhos bem arregalados.
— Eu gosto de tartarugas, sabia? Jamais jogaria lixo na praia! E também gosto de pinguins! Uma pena que eles não se acasalam por aqui, queria muito ver um pinguim passeando por essa areia. Enfim, eu juro que não tava largando nada à toa. Tá bom, tecnicamente tava, mas eu ia pegar depois! E você me acusou com uma piscadinha! Isso não se faz, cara-senhor. — Voltou a pôr as mãos na cintura, no clássico modo “lição de moral ativado”. — Às vezes a pessoa só tá com as mãos ocupadas, sabe?
Fez uma pausa dramática e então suavizou o olhar, respirando fundo.
— Enfim... quer ajuda? Posso ajudar?
it's time for a closed starter !
with @talktomi
Um dos problemas relacionados a sujeira da praia vinha de um mal que todo país sofre: turistas. É como se eles achassem de fato que alguém não deveria incomodar as suas férias, isso inclui quem limpa a praia. Sempre que os pais faziam ele ir até lá catar o lixo deixado para trás, é o momento que o surfista entende os vários avisos espalhados pela praia e o porquê daquilo existir. “Isso aqui é uma bagunça” Reclamou em voz alta o suficiente para que um grupo de pessoas ali pudesse ouvir. “Todo dia a gente tem que limpar a sujeira dessa galera, que age como se estivesse na casa deles” E depois de falar, se virou de costas para poder dar uma risadinha, sendo o momento que viu a mulher, dando um sorrisinho para ela e uma piscadela. “Não que eu não reclame disso todos os dias, mas as vezes é bom dá um toque pra quem ainda pode fazer diferente, certo?”
Kyungmi lançou um olhar descrente para Jaehwi antes de espiar o que ele tanto fuçava naquela cesta de lã. — Teria que ter muita coragem, viu. É cada coisa que aparece... Juro que não tenho energia pra lidar com isso agora. Tá muito cedo ainda — resmungou, revirando os olhos e encarando o teto por alguns segundos como se pedisse paciência aos céus.
Voltou a tentar fazer sua correntinha e, de repente, abriu um sorriso maldoso na direção de Jaehwi. Pegou a agulha de crochê e a segurou de forma ameaçadora, como se fosse uma espada sagrada contra alfas inconvenientes.
— Mas não se preocupe. Se algum alfa aparecer por aqui, vai ter que lidar com a minha ira. Vai sair chorando, traumatizado pro resto da vida. Te prometo isso com toda a fé do meu ser — disse com confiança imaculada, rindo e acenando com a cabeça. Kyungmi gostava daquele lugar. Gostava de conhecer pessoas novas, de fingir que estava aprendendo alguma coisa, mesmo que fosse terrivelmente ruim com trabalhos manuais. Mas, ainda assim, não trocaria aquilo por nada. — Ah... por enquanto, tá tudo em paz. Nada ameaçador à vista. Toma — dissee, entregando a agulha de crochê para Jaehwi.
jaehwi encontra @talktomi em um evento apenas para ômegas e ambos decidem se inscrever em todas as atividades do dia.
━━ Olha, eu não acho que isso seja verdade. ━ Comentou, enquanto fuçava o cesto de lã para a aula de confecção de cobertores, procurando uma cor específica. ━━ Eu, pelo menos, não acredito que alguém viria disfarçado de ômega só para tentar alguma coisa. Seria doentio demais. ━ Franziu o cenho para ela e para o fato de não ter encontrado a cor que queria. Iria com o amarelo mesmo. ━━ Eu gosto de vir até a associação porque sei que estarei protegido de qualquer coisa. E eles sempre dão cursos interessantes, podemos comer aqui e ficar com os outros ômegas... Aprendi muitas coisas com os mais velhos. ━ Suspirou alto, deixando os ombros caírem e descansou as mãos no próprio colo. ━━ Não tem jeito, vou te trazer toda semana aqui e você vai tirar todas as preocupações da cabeça. Agora... Poderia me passar a agulha de crochê?
Era sábado e Kyungmi não tinha muito o que fazer pela manhã, então decidiu caminhar pelos Jardins Hwan, um lugar calmo, familiar, onde ela podia pensar. E ela precisava pensar. Todas as lâmpadas da casa haviam queimado. Sim, todas. E o pior: ela tinha acabado de trocá-las. Um lote inteiro de lâmpadas bichadas. Agora estava sem luz. Tendo luz. Mas sem luz.
Suspirou, levantou os braços para o céu como quem implora uma trégua ao universo.
E foi exatamente nesse momento que levou um empurrão forte o bastante para fazê-la girar e quase cair.
Não. Isso já era demais. Era essa a resposta do universo? Que universo mesquinho! Kyungmi ficou vermelha de raiva. O cara simplesmente esbarrou nela no meio do momento dela com o cosmos — e o pior: nem pediu desculpas direito.
— Yaaa! Seu escroto! Quase me matou! — ela gritou, com os olhos marejando de raiva, e ainda fez questão de mostrar o dedo do meio enquanto recuperava o equilíbrio e a dignidade.
A comida estava tão gostosa! Kyungmi chegou a considerar abrir discretamente o botão da calça só para dar uma trégua à barriga feliz. Como não sabia cozinhar, aquele era o seu restaurante favorito, o sabor era caseiro, acolhedor, quase mágico. Ela se sentia no paraíso. Um paraíso que, infelizmente, precisava dividir com outros clientes.
Ainda sorrindo, saía do restaurante quando quase trombou com alguém na porta. Um homem.
— Ah... me desculp- — começou a dizer, mas parou no final, apertando os lábios com os dedos. — Retiro minhas desculpas.
E saiu andando com a cabeça erguida. Quase voltou só para pisar no pé dele com força, mas decidiu manter a classe. Porque claro... era ele. O mesmo cara que havia esbarrado nela nos Jardins Hwan e nem teve a decência de se desculpar.
Fala sério.
Kyungmi adorava terminar o dia assistindo todos os filmes de Jurassic World. Era completamente apaixonada por aqueles dinossauros nada fiéis à ciência, e adorava justamente por isso. Naquele dia, foi ao mercado buscar suas besteirinhas de sempre. Pegou um carrinho, pensando que talvez ainda desse tempo de emendar com uma maratona de comédias românticas. Ela estava doida para rever A Proposta.
Enquanto andava pelo corredor das pipocas de micro-ondas, ajeitava as caixas de nuggets no carrinho quando sentiu um impacto repentino. Bateu carrinho com carrinho. Ela ergueu o rosto... e ficou perplexa. "Ah, fala sério", pensou, revirando os olhos.
Só podia ser brincadeira. Era ele. O mesmo cara do restaurante. O mesmo dos Jardins Hwan. E, para piorar, ele ainda estava sorrindo pra ela.
— Olha, tem certeza de que não está me seguindo? — ela estreitou os olhos, desconfiada. — E em nenhuma das vezes me pediu desculpas. Já reparou? Se eu fosse você, tirava esse sorriso bonito do rosto.
Sim, aquilo era bizarramente específico. O universo claramente estava pregando uma peça. Ela sentia. Teve até vontade de passar o carrinho em cima do pé dele... mas, infelizmente, pela posição em que estavam, não daria.
Ela soltou um suspiro e o encarou novamente.
— Já que é a terceira vez que a gente se esbarra... será que eu tenho direito a um pedido? — perguntou com um olhar arregalado de falsa inocência, piscando os cílios com delicadeza.
É alguma piada do destino? — @talktomi Starter fechado.
Haesoo tinha tirado o sábado para tentar espairecer a mente do trabalho, resolvendo então não ficar apenas em casa, mas sim sair para fazer algumas coisas, ver pessoas, respirar um ar, ver cores vivas... coisas do tipo.
A primeira coisa que resolveu fazer foi sair para passear com seu cachorro, prendendo bem ele na coleira, pois ele ficava muito entusiasmado quando encontrava outros cachorros na rua. Foi para os Jardins Hwan com ele e se preparou para gastar toda a sua energia — essa que nem tinha muita — com as brincadeiras. Estava dando risada e competindo uma mini corrida com Namoo quando esbarrou em uma pessoa, quase levando ela com tudo para o chão, não tendo nem tempo de se desculpar adequadamente, pois a guia de Namoo se soltou de sua mão e ele saiu em disparada pelo parque.
— Desculpa, desculpa, desculpa...! — pediu para a mulher que tinha quase derrubado no chão, saindo correndo atrás de Namoo em seguida. Por sorte não teve muita dificuldade de conseguir pegar a guia da coleira dele novamente, o fazendo parar de correr. Depois desse incidente resolveu voltar para casa.
Quando Haesoo saiu novamente foi para almoçar fora, tinha ficado com preguiça de cozinhar e resolveu então comer em um restaurante. Tinha decidido ir em um de comida caseira, mais familiar, e tinha sido uma ótima ideia. A comida estava maravilhosa, mas Haesoo esperava qualquer coisa, menos encontrar a mesma mulher do parque no restaurante. E o pior, parecia que ela tinha o reconhecido pela cara que fez quando o olhou. Para a sua sorte, se encontraram apenas quando estava indo embora, assim não tendo nem tempo dela sequer pensar em falar algo. Que azar!
E por fim, no finalzinho da tarde, quando Haesoo resolveu sair novamente, dessa vez foi para passar no mercado. Agora estava com vontade de fazer alguma comida gostosa para a janta, diferentemente do almoço que tinha ficado com preguiça. Só que precisava comprar mais algumas coisas para que fizesse a receita que tinha em mente.
Estava andando pelo mercado com o carrinho de compras, passando pelos corredores com toda a calma do mundo. Não estava com pressa, sinceramente. Achava até terapêutico fazer compras em mercados. Então estava bem distraído olhando as coisas nas prateleiras com calma, quando o seu carrinho se chocou contra o carrinho de outra pessoa. Quando desviou o seu olhar para ver quem era, não conseguiu acreditar... era a mesma mulher do parque e do restaurante. Isso era alguma piada do destino?
A primeira coisa que Haesoo pensou em falar foi:
— Eu juro que não estou te seguindo… mas esse já é o terceiro lugar em que a gente se esbarra hoje — comentou, abrindo um sorriso sem graça. — Bizarro, né? — comentou, repassando na sua cabeça novamente a cena em que quase derrubou ela no chão de manhã.
Kyungmi estava empolgada para descobrir para onde Sunbin a estava levando. Tudo indicava que iriam ver o pôr do sol, e só essa possibilidade já a fazia vibrar de animação. Ela adorava apreciar paisagens bonitas, e era ainda melhor quando podia compartilhar o momento com alguém. Enlaçou o braço no da outra mulher, exibindo um sorriso enorme e genuinamente contente. — Outro universo? Agora você me deixou curiosa! Deve ser tão lindo… Acho que vou me apaixonar na hora — declarou, cheia de entusiasmo. — Você vem aqui sempre?
˛⠀⠀⋆⠀ㅤstarter fechado com @talktomi no parque costeiro de yongso
sunbin estava animada — o que, por consequência natural do universo, significava que ela estava ainda mais falante do que o normal. as palavras escapavam sem freio, acompanhadas de sorrisos, gestos empolgados e o brilho nos olhos. quando reconheceu kyungmi perto do pier, não hesitou em puxar assunto até que a ideia surgiu. ❝ você quer ver algo maravilhoso? ❞ perguntou, já tomando a frente e guiando a moça por entre os passantes. o céu começava a se tingir de dourado, e o vento carregava o cheiro salgado do mar, levantando a barra do vestido de sunbin enquanto ela descia as escadas do pier com cuidado, olhando por cima do ombro para se certificar de que kyungmi a seguia. ❝ vem, é logo ali ❞ pontou para um dos barcos tradicionais atracados ❝ você já fez esse passeio? é uma das melhores visões do pôr do sol ❞ explicou, com um sorriso suave agora ❝ a luz reflete no mar e fica simplesmente mágico. parece... outro universo ❞