Matteo: Você sabe qual objeto você vai pegar no ritual?
antes do evento﹔pós group chat
jardins da rose com @neslihvns
No fundo, Matteo sabia que era maluquice. Era difícil de acreditar em coisas como maldição, ou almas gêmeas, ou como aquela história se entrelaçava com eles de qualquer forma. E, dentre eles, claro que Neslihan seria a mais cética. Ela sempre foi muito lógica e tinha a mania irritante de estar sempre certa (normalmente estava), e ele duvidava que ela acreditaria em algo maior que ela em qualquer momento. Porém, o que ele não imaginava era ela utilizando dos mesmos argumentos que todo mundo jogava na cara dele — não ela. Ele não era a pessoa mais esperta do mundo, mas sabia muito bem quando zombavam dele. Era isso o que mais o incomodava. O fato dela ter jogado na conversa, tão casualmente, em frente a todo mundo.
Ele havia ido para um dos muitos lugares na cidade em homenagem à Rose. Ironicamente, era um lugar que ele ia muito com Neslihan quando mais jovens, e agora apesar do sentimento conflitante em relação à antiga amiga, ele ainda gostava de ir la para espairecer. Achou que estava sozinho no lugar, mas um farfalhar das folhas indicava que alguém estava saindo ou chegando (ou talvez se escondendo como ele adoraria fazer).
Estóico. Era assim que Matteo poderia ser definido. Ao menos, pelo olhar externo. Ele se colocava acima de tudo, acima de todos, mas não de uma forma que ele era melhor que todos, apesar de certos burbirinhos agirem como se assim ele o fizesse. Era de uma forma que era indiferente à todos. Ele continuaria agindo como se nada pudesse atingí-lo, sem jamais dar o sabor que seus conterrâneos tinham na adolescência, onde podiam zombar e abusar dele sem que ele retornasse o favor. Nunca mais seria um alvo fácil de chacota. Ele puxou discretamente a gravata depois de verificar que não havia ninguém ao seu redor. Não sabia qual era o motivo do seu nervosismo, mas seu estômago parecia dar cambalhotas de desconforto. Não era como se fosse a primeira vez que saía com Olivia, ou um primeiro encontro, mas quase sentia o peso da expectativa da cidade sobre ele.
Observou ela se aproximar com toda a confiança que sabia muitas vezes que ela apenas fingia ter. Fake it until you make it, não era? Não que Olivia fosse a garotinha insegura de muitos anos atrás, mas ninguém era perfeito daquela forma, nem mesmo Liv. "Oi," retribuiu o cumprimento, deixando que ela falasse ao contentamento do seu coração. Sempre foi assim ─ Matteo na verdade achava perfeito que ela falasse o quanto quiser e enchesse o ambiente com seus assuntos, sem que ele se sentisse desconfortável por estar mais quieto.
Matteo tinha uma pergunta, mas uma pergunta que já sabia que não teria resposta: Olivia gostava dele ou da ideia dele ser a alma gêmea dela? Seria tudo só parte do teatro da vida perfeita que Olivia levava? Ele sabia que sua vida não era tão perfeita assim como ela gostava de ostentar nas rede sociais. Mas o quão longe ela estava disposta a ir para manter as aparências? Sua mente poderia estar a mil por hora, mas sua expressão sempre estaria o mais estóica possível. Era a única forma que ele havia descoberto de não deixar ninguém ver o que estava por baixo das aparências, de mostrar qualquer outro lado dele que não fosse da vaidade, do narcissismo, do egocentrismo. "Vamos," ele ofereceu um curto sorriso, sendo aquele gesto apenas porque estava naquele lugar com Olivia. Apesar da distância entre eles dos últimos anos, ainda podia sentir um mínimo de familiaridade e conforto entre eles. Havia um resquício da amizade que tinha, pelo menos acreditava naquilo. Talvez fosse apenas otimista sobre o tipo de relacionamento que tinham.
Fazia muito tempo que ele não tinha um encontro. Tinha visto sua mãe reclamar sobre encontros horríveis mais vezes do que gostaria, como filho, na sua infância. Ela gostava de culpar a maldição, esbravejando depois de abrir mais uma garrafa de vinho o quanto estava tudo perdido, mas talvez o denominador comum de todos os encontros ruins era ela. Mesmo assim, Matteo havia aprendido o que não fazer para o encontro ser no mínimo agradável — uma palavra tão insonssa para definir o encontro quanto qualquer sentimento que pudesse aflorar naquela cidade. "Você já veio aqui?" A sua tentativa de conversa fiada parecia tão ridícula quanto a sua presença naquele restaurante. Ele sentia que se sobressaia da multidão, assim como nunca se encaixou na cidade. Além disso, a pergunta era ridícula porque era Olivia Boscarino e ela era nascida para lugares como aquele, independente de como ela havia chegado ali.
Olivia respirou fundo ao se aproximar do restaurante. Seus saltos batiam com suavidade na calçada, mas o som parecia ecoar no silêncio da noite. Ela estava nervosa. E isso, para ela, era algo raro. A sensação de algo grande à sua frente, algo que ela não sabia exatamente o que seria, era ao mesmo tempo assustadora e excitante. Ela tinha ensaiado algumas vezes a forma como iria se comportar nesse encontro, mas agora, à medida que se aproximava dele, tudo parecia tão... errado. Como se ela estivesse prestes a fazer algo que não deveria. No fundo, Olivia sabia que o motivo desse encontro não era apenas uma reconciliação ou a busca por explicações. Não era sobre isso. Era sobre sentir o gosto do que nunca teve, ou o medo de que fosse tarde demais. O destino. A maldição. Tudo parecia uma grande brincadeira que ela ainda não conseguia compreender. E quando viu Matteo ali, tão rígido, tão formal com aquele terno, Olivia sentiu algo estranho se formar dentro de si. Ela conhecia aquele olhar. Aquele desconforto. Aquele jeito de se sentir desconectado de tudo ao seu redor. Ela riu baixinho consigo mesma. Matteo podia ser tão previsível, até quando tentava esconder isso.
Ao se aproximar, um arrepio percorreu sua espinha, mas ela não deixava transparecer. Caminhava com confiança, como se estivesse desfilando, com aquele vestido preto que marcava cada curva de seu corpo. Ela tentou se manter calma, mas, ao vê-lo ali, a imagem que ela ainda tinha dele, o cara metódico, o homem que não gostava de surpresas, se chocava com a versão que ela queria entender. Ele parecia não ter mudado muito. Ainda era aquele cara distante de sete anos atrás. Havia uma barreira, uma distância que ela não sabia muito bem como atravessar de novo. “ Oi, Matteo. ” ela disse, a voz saindo mais suave do que o esperado. O sorriso vacilante que ela tentou mostrar foi sincero, mas havia alguma tensão, algo que ela não conseguia controlar. E, no fundo, ela sabia que ele perceberia isso. Mas não podia negar o nervosismo. O desconforto. O peso do momento. Ela deu um pequeno passo à frente e parou diante dele, com um olhar fixo. Aquele gesto, aquele olhar sincero... ela queria que ele soubesse que estava ali por uma razão. Uma razão que ela não sabia explicar, mas que sentia. “ Desculpe o atraso. Eu sei que você... ” ela hesitou por um instante, olhando para ele de cima a baixo. “ Você nunca foi de perder tempo, né? Mas eu sempre gostei de uma grande entrada, você deve se lembrar. ” Ela sorriu, tentando quebrar o gelo, mas as palavras soaram ainda mais sinceras do que planejava. “ Você está bonito. Não que isso seja uma novidade, você sempre fica bem em um terno. ” Ela não sabia o que esperava daquela noite. Talvez uma conversa simples. Talvez um esclarecimento. Ou talvez fosse só mais uma tentativa frustrada de buscar algo que não estava mais lá. Mas algo em seu peito dizia que, pela primeira vez em muito tempo, ela não estava com medo de tentar. “ Imagino que todos os outros já estejam lá dentro. Então... vamos entrar? ” Ela esticou a mão em sua direção. Podia estar de peito aberto a um momento mais íntimo, mas ainda era Olivia Boscarino; ela teria sua grande entrada.
Ele olhou ao redor enquanto entravam no recinto e ouvia apontar que não havia curtido o local como merecia. Novamente, se sentiu incrivelmente ciente de como não se encaixava. Não conseguia entender numa forma de curtir o local como merecia. Tudo parecia exarcebar a riqueza dos residentes de Khadel. Matteo não conseguia se identificar com o local. Era como tirar um peixe d'água e esperar que ele nade no ar. Eles foram escoltados até uma das mesas no salão de jantar, mas Matteo quase desejou ter perguntado se poderiam sentar na parte externa. Talvez o ar e a vegetação ao redor o fizesse se sentir menos deslocado, como se pudesse fingir que o encontro não aconteceia naquele restaurante (como se a enorme quantidade de talheres na mesa não denunciasse o problema). O retorno da pergunta não o surpreendeu, mas o fato de ter sido quase retórica sim. Talvez fosse muito ter esperado uma completa trégua. Olivia nunca foi uma pessoa passiva ou que desviava de um desafio, e Matteo poderia ser um grande desafio.
"O que você espera, Olivia?" Matteo perguntou entre um suspiro cansado. Ela estava o colocando num lugar ainda mais desconfortável pressionando-o. Ele estava disposto a passar por cima do seu desconforto, fingir que era inexistente e, talvez em algum momento, ele realmente começasse a acreditar que era. Porém, talvez fosse a atitude dela de que tudo girava ao seu redor, ela não poderia deixar o seu desconforto passar batido. Não sabia se era uma avaliação justa, mas sentia-se como um animal retraído em sua jaula, com a dona forçando-o a sair. "Um sorriso e um pedido de desculpas, e tudo voltaria a ser como era antes?" Ele continuou, com notável dificuldade em colocar as palavras para fora. Seu tom era baixo e ríspido, como quem não gostaria de estar falando coisas do tipo. Não deveriam estar falando dos seus gostos atuais, seus sonhos e desejos? Não deveriam estar vendo se eram um possível par e poderiam se apaixonar? Matteo sabia que antes de tudo eles precisariam falar do passado entre eles, mas teria preferido que ela o tivesse feito sem que ele fosse o alvo da provocação. "Bem, desculpa se eu não sou um dos seus admiradores. Se eu não me desdobro para deixá-la feliz." As palavras haviam saído mais rápido do que conseguiu pensar, tropeçando pelos lábios, mas não se arrependeu no fim. Talvez pudesse ter sido um pouco mais gentil na sua escolha, porém até aquele momento Olivia estava conduzindo toda a situação e ele só estava seguindo, deixando-a guiar como se ele fosse um vira-lata. Ele precisava ter alguma agência também sobre a situação. "Eu vim aqui porque eu concordo que precisamos conversar. Porque eu não sou mais o pirralho de vinte e um anos com medo de encarar algumas coisas." Apesar que agora havia um número de coisas diferentes em que ele preferiria não encarar, mas preferiu não levantar aquele ponto. Tinha certeza que o acontecimento da cachoeira ainda era uma situação com muitas perspectivas, e algumas possivelmente ele não estava pronto para lidar com elas. "Eu não estou confortável. É isso que você queria ouvir?" Ele levantou uma sobrancelha em resposta ao tom de desafio. Com qualquer outra pessoa, Matteo provavelmente não seria tão brusco, mas no fundo ele ainda tinha um sentimento de familiaridade com ela e queria que ela o visse novamente pela pessoa que era e não quem ele fingia ser. Se ela o visse por quem era, talvez aqueles comentários infeliz fossem deixá-do de lado e as farpas não precisariam ser trocadas. "O fato de eu saber que a conversa precisa acontecer não torna nada disso mais... Confortável para mim. Se isso te incomoda, então realmente, a solução é irmos embora," finalmente, ele respirou fundo e soltou um suspiro. "Agora, você está disposta a deixar com que eu lide com meu próprio desconforto sem que isso seja uma preocupação sua ou vamos ter que ir embora?" Agora era a vez dela. Matteo havia tomado a decisão de estar ali. Era uma decisão que o colocava numa posição desconfortável, de vulnerabilidade, mas era a decisão que ele havia tomado e lidaria com ela. Se Liv queria alguém que estivesse ali com um sorriso no rosto e palavras doces... Ela havia escolhido a pessoa errada.
Ela observou Matteo com atenção, captando cada mínimo detalhe. O jeito como ele puxou a gravata de forma discreta, achando que ninguém estava olhando. O cumprimento curto, o sorriso ensaiado — Matteo nunca foi de excessos, e isso não havia mudado. Mas Olivia percebia mais do que ele imaginava. O nervosismo, o desconforto, estavam ali. Ele podia tentar esconder, mas ela ainda se lembrava de algumas de suas táticas. Quando ele disse “vamos”, Olivia sentiu algo dentro de si se contrair. Ele estava ali, mas será que realmente queria estar? Ele parecia distante, fechado em sua própria fortaleza. Por um momento, ela se perguntou se era assim que Matteo se sentia o tempo todo. Perdido dentro de si mesmo. Talvez estivesse tão absorta em manter as aparências de um relacionamento perfeito que não notou as coisas que realmente importavam sobre ele.
Ela respirou fundo e manteve o sorriso, mesmo que tivesse vontade de provocar. Era o que sempre fazia quando se sentia fora de controle — transformava tudo em um jogo. Mas dessa vez, não parecia certo. Dessa vez, Matteo não era só um rosto bonito ou uma distração passageira. Ele era a pessoa que ela não conseguiu esquecer, por mais que tentasse. A pergunta a pegou de surpresa. Não que o conteúdo fosse algo absurdo, mas a tentativa genuína de conversa para preencher o silêncio partindo dele era algo notável. Ela riu baixinho, sem pressa. — Já, sim. Mas vim a trabalho, para gravar e divulgar o restaurante no meu instagram, então não curti como o lugar merece. — Decidiu não dizer em voz alta que também esperava ter um encontro romântico ali, algum dia. E, honestamente, meses atrás quando o restaurante inaugurou, ela jamais imaginou que seria com Matteo, mas estava feliz por sua escolha, e por ele ter aceitado.
Ela inclinou levemente a cabeça, estudando-o. Ele parecia desconfortável naquele lugar, e isso a fez sentir um pequeno aperto no peito. Matteo nunca gostou de estar onde não se encaixava. — Mas e você? — Ela perguntou, suavizando o tom e esboçando um sorriso torto. — Porque, sinceramente, você parece odiar estar aqui. E não sei se é o lugar ou a companhia. — Seu olhar era desafiador, mas não cruel. Apenas honesto. Se ele ia se fechar, Olivia ao menos queria saber se ele teria coragem de admitir. Ela deslizou os dedos pelo próprio braço, uma mania antiga que voltava quando estava pensativa. Matteo sempre foi um mistério para ela, e talvez fosse isso que a fazia querer entender. Será que ele ainda era o mesmo garoto que guardava tudo para si? Ou havia algo nele que ela não via? Olhando para ele agora, Olivia sentia que algo estava diferente. Mas não sabia dizer se era nele… ou nela mesma. — Mas, honestamente, espero que seja o lugar, porque posso tentar fazer algo a respeito. Mas, se for a companhia... Bem, receio não ter uma solução a não ser irmos embora.
com @eusouscarlet em leitura labial
Matteo não sabia como tinha parado ali. O nome da atividade estava num quadro pendurado no ateliê de Artes, no terceiro andar. Leitura Labial – romântico e divertido! Com corações desenhados em giz rosa e glitter. Era um pouco demais para uma cidade que na teoria não podia sentir o amor. Suspirou fundo, cruzando os braços enquanto observava de longe a movimentação. As pessoas pareciam animadas demais pro gosto dele. Risadinhas, empurrões, gente encarando umas as outras com segundas intenções. Nada disso fazia sentido.
Matteo já estava virando para sair do caminho quando percebeu que, de alguma forma, tinha sido empurrado para participar. Literalmente. Alguém riu atrás dele. O empurrão não era figurado. Por algum motivo, ainda tinha gente demais olhando pra ele. Talvez fosse o corpo — que ele já tinha aprendido a controlar. Ou talvez fosse ela. Dava pra sentir no ar quem era o seu par na dinâmica, provavelmente também à contragosto. A presença dela tinha uma temperatura própria: quente e, ainda assim, gélida. Sempre que Scarlet estava por perto as coisas pareciam ficar… tensas. Não era o tipo de mulher que tentava ser simpática Ela, pelo menos, era honesta no desprezo. Ou talvez só gostasse de brincar com os nervos dos outros. O fone de ouvido foi colocado sem muita cerimônia. Música alta. Baixo vibrando no maxilar. Ele suspirou, ajeitando os fios atrás da nuca enquanto se perguntava por que, exatamente, ainda frequentava eventos comunitários de Khadel. A maldita cidade parecia sempre arranjar um jeito de colocá-lo em situações constrangedoras. Matteo não disse nada. Só encarou. A mandíbula tensa, o maxilar marcado pela raiva contida. Ele odiava esse tipo de situação — essas armadilhas sociais disfarçadas de brincadeira inocente.
O primeiro movimento de lábios aconteceu. Lento, teatral, debochado. Matteo franziu o cenho, tentando decifrar. A boca se mexeu como se soubesse que ele falharia. “Macarrão com leite?” arriscou, sem pensar muito no que de fato estava sendo dito.
@khdpontos
"Não," reiterou novamente, com pressa. Parecia uma péssima ideia para ele ter que explicar como ele ganhou aquele ferimento. O seu orgulho também estava um pouco ferido, pelo corte feito por um cara muito mais velho e menor, mas ele não sabia nem por onde começar a explicar o porque ele havia topado aquela ideia maluca quando foi proposta. Qualquer pessoa que olhasse o punhal podia ver que ele não valia muito. Não entendia nem ao menos o apego do homem aquele objeto. Tudo que Matteo podia sentir era uma energia estranha quando segurava o punhal. Matteo não podia estar com menos fome depois de todos os acontecidos. Haviam conseguido a adega, mas aquela história estava mais insana que necessário. Como alguém podia acreditar que eles precisavam arriscar suas vidas por uma maldição? Coisas como aquela não existiam. Mais ele não havia sido exatamente muito amigável com Helena (não que ele fosse com qualquer pessoa), e ela parecia dar o seu máximo para isso. Ele podia ser ao menos um pouco menos inflexível. "Pode ser," ele disse, forçando um sorriso com os lábios pressionados uns aos outros. "Eu posso dirigir agora," Matteo sugeriu, rezando silenciosamente para que Helena estivesse cansada ou abalada demais e concordasse com ele.
STARTER TO @thematteobianchi APÓS CONSEGUIR A ADAGA DE ROMENA
Todos aquela confusão com o velho maluco do antiquário tinha deixado Helena uma pinha de nervos, ainda estava sem acreditar que ele tinha realmente desejado lutar com um jovem o dobro do tamanho dele , pior, tinha o ferido! "Tem certeza que não quer ir no hospital?" perguntou novamente. Tinham passado na farmácia e comprado o que precisavam e feito o curativo, porém a preocupação da mulher era genuína. Sabendo que não tinha muito o que pudesse fazer a mulher soltou um suspiro pesado olhando em volta "Pelo menos vamos comer alguma coisa? Não sei você, mas to sem comer desde o café da manhã... O que? Achava que ia ser rapidinho com a Zafira"
O motivo pelo qual ele gostava de estar sozinho era pelo desconforto que o silêncio ocasionava. Não tinha mais estranho que duas pessoas que mal se conheciam forçadas a estarem juntas num silêncio desagradável. Não que o silêncio em si o incomodasse. Matteo. apreciava o silêncio quando estava sozinho. O problema era a companhia. Como se a pessoa ao seu lado pudesse observar a sua parte mais íntima só com o par de olhos pregados nele. Claramente, não era isso que Helena fazia, mas tinha uma parte dele que acreditava que ele seria pego de surpresa, na sua farsa. Ele seria descoberto. Seja porque ele não era tão bom quanto as pessoas imaginavam, para aquela fama que ele não sabia o que fez para merecer, seja porque iriam descobrir que na verdade ele foi parar na cachoeira ao acaso, não era uma das almas gêmeas, fosse apenas pelo fato que ela notaria o que ele sempre soube; ele não era especial. Ele engoliu silenciosamente a própria saliva, tentando umidecer a garganta que estava seca à todo momento. Abriu a boca para perguntar se ela realmente acreditava na maldição, mas antes das palavras saírem, ele se refreeou. A falta de intimidade entre eles não deixava que ele pulasse tão rapidamente da poça rasa de socialização que estavam para suas convicções mais profundas. Matteo não conseguia entender certas nuances da socialização. Ele preferia que as coisas fossem ditas de maneira direta e clara, sem que ele precisasse ficar tentando decifrar o significado. E, dessa forma, ele não conseguia entender se tinha uma sutileza no que ela dizia, como se ele devesse algo para ela por ter estado naquela campanha. Ele tinha feito apenas o seu trabalho. Não foi como se tivesse arquitetado para as coisas acontecerem da forma que aconteceu. Claro que todo o furor que ela havia causado tinha sido incrivelmente benéfico para Matteo, mas se ele não tivesse monetizado o momento como havia feito, não teria feito diferença. Porém, poderia ter sido apenas um comentário inocente que ele estava racionalizaod demais. Poderia não ter sido absolutamente nada. "Sim. E com o instagram eu consigo outros trabalhos..." Teria preferido que ela tivesse feito outra pergunta, uma que não direcionasse o foco tão para ele, mas tinha a impressão que passaria aquele encontro desconfortável. Em um encontro seria esperado que ele falasse dele mesmo. "É, a calmaria de Khadel certamente é um atrativo para quem gosta de paz. Acha que voltou de vez?" Perguntou e aquela pergunta tinha diversos motivos. O primeiro, para desviar o foco novamente dele, e o segundo era que se algo sequer pudesse acontecer (Matteo ainda achava difícil ele estar nessa confusão), se ela ficaria na cidade ou iria mudar novamente.
O olhar que Helena direcionou a Matteo poderia servir como uma boa explicação e até poderia faze-la em alto e bom tom, mas apenas se restingiu a levar a bebida aos lábios, até porque deveria ser algo mais do que obvio que nenhuma mulher gostava de ser forçada a se manter numa conversa com homens que não conhecia principalmente estando visivelmente desconfortável. Talvez alguns achassem que ela era imune àquilo, ainda que acreditasse que não importava a classe social, popularidade ou fama, toda mulher seria posta a prova por algum homem tentando sua sorte. O que piorava quando a pessoa em questão era como ela e não sabia dar um fora direito...
O olhar de Sorrentino mudou de foco para as pessoas que cantavam no palco, alheios a eles e por um segundo sorriu, vivenciavam algo que tão facilmente tinha: atenção, prestigio. A pergunta do companheiro, porém, a trouxe para a realidade, fazendo-a voltar a olhá-lo, dessa vez com um sorriso "Er... Incrivelmente andam mais calmas. Mesmo com o lance da maldição e tudo mais " com a taça apoiada na mesa ela mudou de posição na cadeira para que pudesse ficar mais de frente para o rapaz. Muitos achavam que a vida de celebridade era um mar de rosas, calma e cheia de glamour... Em maioria era sim. Por outro lado tinha os ônus de ser uma figura pública, coisa que ali não estava acontecendo com tanta facilidade "A cidade é pequena, não há tantos fãs ou paparazzis. Por mais que eu ame atuar essa calmaria me faz bem" sabia quem ele era. Já tinha feito suas pesquisas sobre cada um dos 'renascidos' até porque tinha que ter uma noção qual deles poderia ser sua alma gema, buscava pessoas minimante parecidas "Mas e você hun? Soube que disparou depois daquela campanha... Continua como modelo?"
starter aberto
Matteo estava irritado com a ferida no seu braço. Já não ardia ou incomodava no dia-a-dia, mas ainda não lhe deixava malhar com toda a amplitude que gostaria. Ao menos ele não havia levado um tiro ou quase morrido. Parecia até mesmo idiota está incomodado com um ferimento tão mínimo quanto os outros tiveram coisas muito piores, mas os movimentos limitados faziam com que ele não pudesse fazer algo melhor do que pensar demais no que vinha acontecendo desde então. Ele nunca havia sido a pessoa que acredita na lógica como alicerce de tudo, mas também não era guiado pela fé cega. Ele estava confuso. Nada fazia sentido. "Está ocupado," ele resmugou para a pessoa que se sentava ao seu lado sem prestar atenção em quem era. Não estava a fim de bater papo com nenhuma maria-maldição. "Ah, pensei que era alguma pessoa louca que quer infernizar um "reencarnado"," ele fez as aspas com as mãos, ainda recusando a tomar aquele título como seu.
( @khdpontos )
Matteo: Hm vi. Podemos ir sim. Te encontro lá?
Matteo: Mando uma mensagem mais perto para a gente combinar.
Olivia: Acho que nada além do que quase todo mundo sabe. E eu não sei qual o critério dessa coisa de reencarnação. Tipo, a gente volta toda vez tendo a mesma personalidade ou cada reencarnação muda?
Olivia: Porque se for a mesma essência, eu me identifico mais com a Rose do que a Kimberly.
Olivia: Mas, ei, chéri, viu que o instagram da cidade falou sobre uma Feira dos Sentidos?
Olivia: É só depois do ritual, mas tá afim de ir? Podemos conversar mais sobre isso lá.
Ele soltou uma risada sem graça, "talvez fosse melhor tá no hospital, pensando menos nessa por──" ele suspendeu antes de terminar de falar o palavrão, olhando para ela, "situação." Matteo ainda continuava com o olhar distraído no horizonte. Pensando que, talvez, se tivesse ficado grave, ele não estaria refletindo tanto naquela situação. Às coisas estavam parecendo tão diferentes, mas ainda era maluquice acreditar em maldições. "Um pouco só. O dono da loja de antiquidades que fomos era meio louco e propós um duelo. Com facas." Ao recontar aquela história, ele ouvia o quão insano havia sido o acontecido. Duelando em pleno ano 2025. "Eu vou ter que ficar afastado um pouco do treino de braços, mas ei, pelo menos não foi um tiro, nem hipotermia. Com quem você estava mesmo?"
Estou bem, Lina. Aparentemente, era verdade, ele não estava em uma cama de hospital e nem tinha cicatrizes tão aparentes. Apesar da pouca intimidade que tinha com Matteo, Lina sentia que ele não estava sendo completamente sincero nas palavras. Ainda assim, não o julgava, a situação em que todos estavam metidos era complicada demais para ser contemplada dentro de um simples "tudo bem?".
Ajeitou a postura, desgrudou o olhar da garrafinha e voltou-se para Matteo, talvez aquela fosse uma oportunidade de diminuir a estranheza entre eles. "Eu ouvi dizer que você se machucou também, não foi nada muito sério?" Devolveu o sorriso antes de responder: "Ah, estou...estou bem também, acho que não tenho o direito de reclamar quando alguns foram parar no hospital, sabe?" Esperava que ele não captasse a hesitação na sua voz, não iria mencionar as noites que passara em claro, desde a noite da cachoeira, até o dia da missão.
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