partner in justice : @aaronblackwell !
location : casa comune !
a cada novo evento anunciado como a oportunidade definitiva para encontrar sua alma gêmea , a paciência de neslihan se desgastava sob o peso de tentativas desesperadas de acelerar a resolução de algo cuja existência sequer possuía comprovação racional . embora tivesse prometido a si mesma que enfrentaria cada sugestão e intervenção com a elegância herdada de münevven , sentia-se como um animal acuado , pronto para reagir à menor ameaça . já havia recusado o convite dos proprietários da casa comune , mas , como sempre , a insistência dos habitantes de khadel se mostrava uma força quase sobrenatural . agora , com o cartão de confirmação em mãos — um gesto meramente protocolar , visto que a presença deles já não necessitava de qualquer formalidade — , ela lançou um olhar suplicante para aaron . a expressão masculina refletindo a sua própria , como se ambos estivessem no corredor da morte, aguardando suas sentenças .
dançar era algo que apreciava . libertar-se das tensões acumuladas sempre lhe fazia bem . mas não daquela maneira , naquele estilo . um suspiro escapou de seus lábios , carregado de arrependimento , enquanto lia mais uma vez a indicação do ritmo descrito na entrada do estúdio . salsa . ❝ quanto vou precisar me desculpar por isso ? ❞ o amigo era a única pessoa que lhe ocorrera quando , pressionada , teve que confirmar a participação na sessão . ainda recordava o entusiasmo do outro lado da linha diante da mera possibilidade deles serem destinados . uma amizade de tantos anos… tenho certeza de que vocês foram feitos um para o outro . a ideia arrancava um sorriso discreto da mulher . se houvesse uma mínima chance de um final feliz , aaron seria , sem dúvida , sua melhor aposta . o convívio entre eles era tão natural que não lhe parecia um fardo imaginar-se ao lado dele pelo resto da vida . já estavam na vida um do outro há mais de duas décadas e , com um pouco de sorte , não viveria tempo suficiente para triplicar essa marca . ele era segurança , previsibilidade , compreensão e aceitação .
❝ aqui vai uma ideia . ❞ ponderando , inclinou-se ligeiramente para ele . ❝ se assustarmos nossos instrutores o bastante , será que encerram a aula mais cedo ? ❞ a sugestão era tentadora , embora duvidasse que aqueles que tanto insistiram em sua presença desistiriam tão facilmente . ❝ preparado ? ❞ indagando , aproximou-se para enlaçar seu braço ao dele . passou uma das palmas pelo tecido do vestido , como se o gesto fosse suficiente para prepará-la para o que , naquele instante , parecia a verdadeira dança do apocalipse .
@khdpontos
o ritmo da manicure amendoada batendo contra a madeira maciça da minúscula mesa , que já tinha o seu nome e de aaron afixado , enquanto conferia a sua caixa de mensagens em meio ao burburinho da piazza , era o único indicativo externo de inquietação de neslihan. a energia em excesso não era incomum , mas antes mesmo de consumir sua dose tripla de cafeína pela manhã? uma , quase , raridade , mais incaracterística até do que o atraso alheio . naquele momento , os minutos que o relógio caminhara além das sete horas , sequer haviam registrado , quando o timbre masculino , e pesado , fê-la saltar no assento. ❝ cavolo ! ❞ levando uma das palmas sob o ritmo repentino em seu peito , fitou atordoada o blackwell por alguns instantes. ❝ uh? ah-ainda não , estava te esperando… ❞ as horas no adereço envolto no delicado punho fizeram-na franzir o semblante momentaneamente. a gökçe jamais perdia a noção do próprio tempo . ❝ não faz mal , eu posso forçar meus horários um pouco mais tarde . ❞ o repuxar dos lábios era genuíno então , os músculos relaxando lentamente. ❝ quantas horas foram hoje ? duas ou três ? ❞ folheando o menu , mais por hábito do que necessidade , arqueou uma das sobrancelhas para ele antes de recitar o próprio pedido. gostava de variar , mas àquela altura , todos os pratos e bebidas do pequeno café , espremido entre uma floricultura e gelateria , já haviam agraciado o seu paladar. ❝ ao menos não foi acordado pelo escândalo que arrumaram por toda cidade… já teve chance de ler o jornal ? ❞ questionaria se havia conversado com alguém mais , mas era aaron em sua frente. tão improvável quanto ela acreditando em magia. com o ristretto entre as palmas , inalou o aroma inebriante antes de bebericar o líquido escuro , soltando o suspiro preso em seus pulmões desde que lera a manchete — ainda em seu roupão e com mark ruffalo deitado sob os seus pés. ❝ está preparado para o mais novo absurdo que estão inventando ? ❞ sarcasmo era tão fluente entre eles quanto o italiano ou inglês .
Aaron puxou a cadeira em frente a Nes em um movimento cansado, pedindo desculpa pela demora. Normalmente, ainda que saísse tarde do trabalho no bar, ele não costumava se atrasar. Cumpria rigorosamente — quase religiosamente — a tradição de tomar café da manhã com a melhor amiga. E, por mais que não fizesse esforço pela maioria das pessoas, ela conseguia ser sua exceção. "Você já pediu a sua comida?" Blackwell puxou o cardápio, mas já sabia o que queria, porque sempre pedida a mesma coisa todos os dias. Não gostava de mudanças. Então, ia ser o mesmo café com leite e pão com ovos de sempre. "Acabamos fechando o bar bem tarde ontem e", deu de ombros. "Sei lá, não consegui acordar". @neslihvns
inclinando a cabeça em sinal de concordância , os dedos acompanhando ritmicamente suas palavras . ❝ é como eu disse... parece que alguém decidiu colocá-la sob os holofotes , e quem sabe o motivo ? ❞ exalando o ar , impaciente , irritava-se com a obsessão cíclica que a cidade demonstrava por certos assuntos . era quase como se os habitantes existissem apenas como figurantes , ávidos por um drama que os distraísse da monotonia . seus pensamentos se dispersaram , revisitando os acontecimentos recentes e a maneira desmedida como reagiam a qualquer mudança — como se presos em um tempo que parecia imóvel , em que um mero sussurro era capaz de desencadear uma tempestade . por um breve momento , o pedido de aaron se tornou apenas um ruído de fundo , até o tom dele interromper o fluxo de suas ponderações dispersas . o nome olivia raramente culminava em sorrisos , e embora não fosse conhecida por recuar diante de um confronto , não estava exatamente inclinada a iniciar o dia sob a nuvem densa de irritação e ressentimento que parecia pairar sobre o blackwell sempre que o tema emergia . contudo , ela sabia o custo que tocar na ferida profunda , uma que ele carregava desde a pré-adolescência, possuía . ❝ ace... ❞ o apelido de infância escapou os lábios com uma nota de exasperação , na tentativa de conter a intensidade de sua intervenção . ❝ eu sei . sei que seus sentimentos são completamente justificados , e reconheço que o que aconteceu foi cruel , com nós dois—nós três , mas... toda história tem dois lados . sim , você tentou com todas as forças resgatar o que perdemos , mas , aaron , já considerou que algo maior pode a ter impedido de se abrir com você naquele momento ? ❞ entendia mais que ninguém o peso da rejeição que ele ainda suportava . ela também fora atingida pelos estilhaços daquele laço desfeito , e mesmo persistindo em incontáveis tentativas durante um período muito mais longo que ele , só conseguira uma brecha nas muralhas de olivia . ainda assim , quase quinze anos depois não poderia dizer que haviam restaurado a familiaridade perdida . em vez disso , precisaram reinventar a amizade , moldando-a às barreiras que de interpuseram entre elas . ❝ não estou sugerindo que você deva agir como se nada tivesse acontecido , mas... talvez... apenas talvez considerar um recomeço ? liv também sofreu , acredite ou não , mas , às vezes , as pessoas precisam mudar para sobreviver a uma nova realidade . ❞ neslihan estava longe de compreender em totalidade o que acontecera com olivia durante os anos fora de khadel . ela nunca se abrira por completo , mas algumas das feridas da mais nova pareciam se comunicar silenciosamente com as suas próprias . era como se houvesse uma compreensão tácita entre elas , mesmo que as palavras não dessem conta de traduzir as experiências vividas . como a boscharino , a gökçe também havia criado suas próprias defesas , embora tivesse encontrado refúgio na força de suas amizades , e não o contrário . ❝ ela errou em dizer que você não tentou , mas acha que existe a possibilidade de ela ter dito isso apenas para feri-lo , como forma de devolver o que sentiu quando você desistiu de persistir no passado ? ❞ a outra era um enigma , uma figura tão complexa que era impossível tentar julgar suas ações ou palavras com demasiada severidade . ainda assim , não seria surpresa se o impulso de provocá-lo fosse apenas uma estratégia para romper a apatia que ele usava como armadura . afinal , fora com provocações que haviam conquistado a amizade na infância , e era o que neslihan fazia diariamente . com a diferença de que ele a permitia . ❝ e quanto a ela ir diretamente te importunar... você mesmo mencionou que havia outras pessoas trabalhando , por que não pediu alguém para atendê-la no seu lugar ? por que escolheu lidar com ela , mesmo quando poderia a ter evitado ? ❞ ela não conseguia deixar de pensar em como algo que antes os unira tão fortemente havia se transformado em uma barreira quase intransponível .
"As pessoas dessa cidade gostam de falar muitas coisas, eu não colocaria tanto crédito nisso. Até porque…", e Aaron era um pouco cético quanto aos diversos boatos que rondavam a cidade. "Como uma pessoa teria poder para mudar tantas coisas?". Ele não acreditava naquilo, naquela capacidade de uma pequena variável, entre tantas outras na cidade, causar um efeito tão gritante. Para ele, os moradores apenas queriam alguém que para culpar, principalmente se a figura não se encaixasse. Blackwell sentia empatia pela forasteira e…até admitia, gostava um pouco dela. Ela tinha algo de peculiar. No entanto, ao ouvir o questionamento sobre Olivia, todas suas divagações sumiram. Ele ergueu a mão para fazer o pedido de sempre, aproveitando a justificativa para pensar no que responder para a Nes. Olivia sempre era um tópico sensível para ele, até porque uma parte de si — sua parte mais mesquinha — sempre desejou que Nes também tivesse parado de falar com a outra quando eles brigaram. Ele se sentiu tão traído pelo sumiço de Fuentes, quando ainda brincavam de ser gente, que desejava ter apenas para si a amizade de Nes. Como se aquilo talvez provasse o ponto de que ele era que estava certo. Foi só quando a comida chegou, e Nes voltou a fazer a pergunta de 'Quem puxou o assunto primeiro?', que Aaron respondeu, dando de ombros. "Sei lá, os dois?", ele balançou a cabeça, irritado. "Na verdade, a culpa foi da sua amiguinha. Eu estava tranquilo no bar, e tinham outras pessoas trabalhando ali, que ela poderia ter facilmente ido fazer o pedido, sabe? Mas não…ela tinha que vir falar comigo. Ela tinha que encher o meu saco". Só de lembrar da cena, ele sentia o corpo querer voltar a tremer de raiva. A mera lembrança dela era capaz de desestabilizá-lo. Aaron considerou reclamar do fato de que Olivia lhe acusou de ser atraído por ela, mas ficou com medo da resposta de Nes. Temia que a melhor amiga concordasse, por isso, reclamou de outro ponto: "Ela veio dizer que eu coloco ela como vilã, que eu nunca tentei entender o que realmente aconteceu e não sei o quê, sendo que…" Ele ergueu o olhar e balançou a cabeça, lembrando das vezes que tentou ir atrás dela quando Olivia não estava na cidade. E não conseguiu dizer mais nada, porque não conseguia organizar tudo o que queria falar. Era isso que Olivia causava nele. "Não é verdade", se limitou a dizer.
os dias que antecederam o fatídico encontro com camilo desenrolaram-se como um prelúdio de estranha quietude , e neslihan deveria ter decifrado a calmaria da como a bonança que precede uma tempestade . a dança travada entre ela e o homem era uma composição de espinhos e pétalas , um ritmo de contradições , que ao mesmo tempo que a avivava , se entrelaçava com receio e a noção de que tudo nada mais era que uma miragem . sob o disfarce da aposta e a justificava da suposta maldição que os unia , embora soubesse que não passava de um jogo de caprichos e vontades , havia pouco o que pudesse ser contestado , não com o ricci envolvido na trama e sua palavra em linha .
relendo pela oitava vez a mensagem que detalhava os planos para a noite , soltou um suspiro , o gesto carregado de resignação e com um toque apreensivo . não pelo que certamente a esperava , o conhecia e as expectativas não eram grandiosas . não , a gökçe , quando devidamente preparada , habituara a pressupor o mínimo de camilo para evitar ter decepção como o único sentimento correndo em suas veias além da ira latente . o que levava ao real motivo da inquietude . o algo a mais que parecia residir nos olhos castanhos do homem — o brilho sagaz , a gentileza involuntária revelada nos pequenos gestos de acolher e proteger animais — e que ele insistia em ocultar , fazendo-a questionar a verdadeira profundidade do homem . seria ele capaz de enxergar além , perceber o tormento que ainda regia o interior feminino , ter um olhar mais crítico do que demonstrava com o egocentrismo típico de um herdeiro acostumado a excessos .
vermelho , neslihan não trajava apenas uma cor , mas uma armadura . a exuberância da tonalidade distrairia breves atenções , desviando-os do corpo . longe dos hematomas amarelados e púrpuras que salpicavam o lado direito das costelas , cuidadosamente ocultos pelo corte estratégico que evidenciava a pele oposta . a seda luxuosa deslisava suavemente sobre a pele , sem abrasar os pequenos cortes que trilhavam a extensão entre quadril e coxa , também velados pela fenda que se abria expondo a perna oposta . um artifício de ilusões , uma arte que dominava desde o momento em que nascera uma şahverdi . os dígitos da destra , adornados pelos anéis de herança materna , descendiam pelo tecido enquanto as íris permaneciam fixas às janelas da villa , em espera da interrupção do interfone conectando os portões de ferro ao interior terracota .
com a canhota entremeava os dedos no pelo aveludado de mark , que a vinha perseguindo como uma sombra protetora desde a sua queda . afagando o animal , desvinculou-se do peso sobre o seu colo com o surgir do par de faróis à distância . apressou-se para abrir a barreira , os saltos em camurça a carregando porta afora , aguardando-o contornar a entrada . o sorriso oferecido era genuíno ao rosto repleto de linhas do tempo , os fios prateados reluzindo ao abrir-lhe a porta do veículo . ❝ grazie mille , signore . ❞ aceitando a palma calorosa como apoio , viu-se envolta pelo interior luxuoso , a conversa em tom animado a acalentando e fazendo o trajeto desaparecer com um pestanejo .
entretida pela cadência do timbre rouco contando histórias de seus netos , neslihan acompanhou a figura levemente curvada até que ele estendesse uma mão novamente , assegurando sua saída . com os lábios ainda presos em humor , não foi até que a exclamação de camilo ecoasse , que percebeu que ali ele estava , as vestes inteiramente pretas destacando o bronzeado da pele . com o elogio soando verdadeiro em seus ouvidos , o sorriso que havia caído retornou , surpreso . deliberando sobre a exigência feita quanto a refrear seu temperamento sanguíneo , girou lentamente em seus calcanhares , o riso escapando mais natural do que antecipava . o recorte pairava logo acima das costelas , alto o suficiente para quase nada revelar na baixa iluminação noturna . ❝ você também está muito... charmoso . ❞ o reconhecimento saía em hesitação , delongando-se no adjetivo , ainda que tivesse de admitir que os óculos conferiam um toque de charme na expressão usualmente presunçosa .
atendo-se ao braço que era oferecido , permitiu-se acompanhá-lo , o calor alheio e a proximidade provocando consciência incômoda na pele . com a sugestão polida , solevou uma das sobrancelhas em diversão . ❝ oh , não . prefiro a área externa , o ar livre será meu maior aliado hoje . ❞ flexionando a palma que segurava a bolsa , a postura enrijeceu-se com as próximas palavras , a outra sobrancelha arqueando . ❝ como você se lembra que eu sou vegetariana ? ❞ embora a dieta não fosse um segredo , o fato dele recordar-se e assegurar que as necessidades dela fossem acomodadas...
um pensamento alarmante a atingiu . antes não cogitava por um minuto que camilo pudesse levar a sério a busca por sua alma gêmea , e a noção era o que a tinha feito aquiescer tão facilmente . mas... seria possível que ele realmente acreditasse no amor perdido há gerações ? e o mais aterrador , poderia ele considerar que eles fossem destinados um do outro ? a consideração a fez ter um acesso de tosse , o som quase histérico , e precisou impedi-lo de adentrar il giardino — onde inúmeros olhares já os fitavam — com as unhas flexionando sobre o tecido escuro . tomando longas respirações tingidas de um leve pânico , não permitiu que ele a questionasse ou sequer oferecesse consolo . assentindo , seguiu em direção ao maître d' aguardando , os lábios forçados formando o sobrenome masculino , antes de serem guiados até o romântico ambiente , aceso com velas e o aroma de rosas permeando .
subestimá-lo havia sido um erro , neslihan deveria ter se preparado para uma guerra . a única saída era ser tão encantadora e desprovida de qualquer semelhança com o seu eu , a ponto de assustá-lo . ❝ então , podemos começar com uma taça ? ❞ a voz era doce e o pedido de permissão formava um arrepio em sua espinha . agradecendo à carta que o cameriere depositava nas mãos de ambos — um olhar esperançoso por detrás da expressão neutra que ele adotava — , pousou as íris no ricci , com uma leve inclinação de cabeça , sorrindo . ❝ imagino que você conheça os melhores , e tenho certeza que escolherá o perfeito para harmonizar com… o que tenha planejado ! ❞ com o toque trêmulo pela ansiedade abaixou o papel linho . ❝ o que sugere , milo ? ❞ o apelido era um que ela nunca havia utilizado , mas ouvira vez ou outra ser proferido com carinho e , ali , o aderia com naturalidade .
DINNER DATE at Il Giardino
with. @neslihvns
na direção do restaurante, camilo não pensava muito sobre a maldição, almas gêmeas ou o ocorrido naquela noite misteriosa. como se recuperasse finalmente um pequeno resquício da sua vida antes daquela notícia, ricci dirigia divertindo-se com a simples ideia de que aquele encontro representava sua vitória de alguns dias antes. e ele sabia que seria deliciosamente interessante testemunhar neslihan ser agradável consigo, contrariando seu instinto feroz que geralmente não falhava em colocá-lo em seu devido lugar. como tudo que envolvia os dois, toda a situação em que se encontravam não era mais do que uma briga de egos. eles tinham palavra suficiente para honrar a aposta, até mesmo camilo teria obedecido qualquer que fosse a exigência alheia, e portanto sabia que a turca não falharia. mas verdade fosse dita, a proposta do encontro não tinha um verdadeiro envolvimento com as questões recentemente levantadas a respeito de como eles poderiam estar envolvidos na lenda da maldição de khadel. milo não achava que a gökçe era sua alma gêmea, e sinceramente, nem queria achar. um ano para descobrir quem seria seu verdadeiro amor? impossível. preferia focar em algo muito mais concreto: traduzir, eventualmente, toda a inquietude alheia diante de sua presença em uma inevitável química, levá-la para cama, e finalmente riscar o nome de seu caderninho. mais cedo, solicitou que um motorista a buscasse em sua residência, e aguardou do lado de fora do restaurante a sua chegada. ao estacionar do carro, o motorista chegou até a porta antes que camilo o pudesse fazer, e assim ricci ficou, parado no meio do caminho, observando a figura magnética que deixava o automóvel em um vestido que parecia ter sido feito para uso exclusivo de neslihan gökçe. “uau” escapou-lhe, passando a mão pelo próprio peito como se desamassasse a peça de roupa, mas na verdade buscava mandar um aviso discreto para que o corpo diminuísse um pouco a palpitação no peitoral. piscou algumas vezes antes de voltar a se concentrar, e caminhou até a jovem sem demora. “você está… estonteante.” ele já estava na vantagem ali, certo? que mal fazia um elogio sincero? não era como se neslihan não soubesse o quão atraente era. talvez ela aguardasse algum comentário engraçadinho e presunçoso, até por ter exigido que ela lhe oferecesse simpatia independente de como ele se comportasse, mas sabia que somente havia uma forma de pega-la desprevenida: ser agradável. pelo menos até sentarem à mesa. ofereceu o braço para que caminhassem juntos até a entrada do restaurante. “escolhi a mesa do lado de fora, mas eles podem mudar, se você preferir” a música no ambiente interno era boa, mas estar ao ar livre parecia mais agradável. imaginava, pelo que conhecia dela, que a morena também escolheria o mesmo. “e já confirmei também o cardápio. as opções, para nossa mesa, são todas vegetarianas. até as minhas, então não precisa se preocupar” sorte a dele que sua má fama faria a mulher pensar que tais esforços eram apenas charme temporário: imaginem se descobrissem que as vezes camilo ricci conseguia pensar em outra pessoa além dele? “vamos?”
dance lessons @casacomune , with aaron !
spa day @studioaurora , with graziella !
al fresco meal @gazeboderose , with christopher !
dinner @ilgiardino , with camilo !
@khdpontos
o prefeito de khadel se sente honrado em ter NESLIHAN ŞAHVERDI GÖKÇE como moradora de sua excêntrica cidadezinha. aos seus VINTE E NOVE anos , ela é bastante conhecida pelos vizinhos como A MILITANTE . dizem que ela se parece com HANDE ERÇEL , mas é apenas uma ADVOGADA DE DIREITOS HUMANOS & CONSULTORA DE COMPLIANCE . a ausência do amor em sua vida , deixou NES um pouco AUTODESTRUTIVA e CONDESCENDENTE , mas não lhe atormentou o suficiente para deixar de ser AUDACIOSA e EMPÁTICA . esperamos que ela encontre a sua alma gêmea, quebre a maldição da cidade e consiga ser feliz !
𝐂𝐇𝐀𝐑𝐀𝐂𝐓𝐄𝐑 𝐏𝐀𝐑𝐀𝐋𝐄𝐋𝐒 : vivian lau & dante russo ( king of wrath ) , monica geller ( friends ) , francesca rossi ( the kiss thief ) , lidia pöet ( la legge di lidia poët ) , ceylin erguvan & ilgaz kaya ( yargi ) , marissa cooper ( the o.c ) & amal alamuddin clooney !
apelidos : nesi , nes , hani ( para pouquíssimos muito próximos , ou que querem irritá-la , a sonoridade é bastante similar à de honey )
data de nascimento: 20 de novembro , 1995 !
orientação sexual : bisexual !
filiação : münevven şahverdi & kadir şahverdi !
altura : 1,75 cm !
cabelos : longos fios acastanhados que pendem em ondas naturais !
olhos : castanhos levemente avermelhados !
tatuagens : uma libélula logo abaixo da nuca , realizada em homenagem à münevven !
piercings : cinco perfurações adornam cada um dos lóbulos , sempre carregando delicadas joias prateadas !
animais de estimação: mark ruffalo ( cane corso resgatado de maus tratos ) , chaz bono & virginia woolf ( greyhounds resgatados de corridas ilegais ) , francis minor , henry blackwell & angela davis ( gatos srd resgatados de maus tratos ) , carmine , kırmızı & vermillion ( puros-sangues ingleses resgatados de corridas ) & gül ( um hanoveriano com o qual competia desde os quatorze anos ) !
educação: bacharelado em direito ( università degli studi di siena ) , mestrado em direitos humanos e direito internacional público ( oxford university ) & doutorado em ética e estudos legais ( wharton - distance learning , em andamento ) !
idiomas: italiano , inglês , turco , português , espanhol & francês !
❝ ela é uma tempestade em meio à calmaria da tradicional família rica em que cresceu. com uma postura firme e uma voz poderosa , ela defende suas crenças em um mundo que parece ignorá-las. vegetariana e feminista , não hesita em expor sua indignação contra o machismo e o preconceito que a cercam. sua coragem e determinação a tornam uma líder nata , embora isso a distancie dos familiares egoístas que só se importam com o dinheiro. com um coração generoso e uma mente crítica , ela é uma força da natureza , pronta para lutar por um mundo melhor , mesmo que isso signifique arrumar umas brigas por aí ! ❞
𝐓𝐖 - menção de distúrbios psicológicos e transtornos alimentares, menção de abuso e manipulação mental e emocional & negligência parental !
a poderosa família turca , uma fortuna proveniente da indústria têxtil de luxo datada de séculos e com fortes conexões italianas , um império de exportação de tecidos finos para finalidades da alta costura no mercado internacional . com alcance global às custas de práticas de exploração , evasão de impostos , corrupção , manipulação e crime organizado , há gerações os şahverdi utilizam khadel como esconderijo idílico . pilares da alta sociedade atemporal que apenas o dinheiro secular , e casamentos arranjados , são capazes de prover .
a par dos bastidores sórdidos do legado familiar , ainda na jovem infância foi despertado um senso de indignação , que só cresceria com o tempo . destacando-se pela inteligência brilhante , chegando a ser considerada um prodígio , o intelecto era visto como uma ameaça ao ideal da dama perfeita , constantemente pressionada a se moldar às expectativas centenárias de recatamento , etiqueta, submissão e requinte . a futura , e impecável , esposa quintessencial de algum herdeiro de família influente .
a pressão constante , aliada às manipulações e abusos mentais , não poderia deixar de gerar um profundo sentimento de inadequação. o desejo de ser a própria pessoa , conflitando com o peso das tradições , logo culminou em episódios severos de ansiedade e auto destruição , seguidos na adolescência por um diagnóstico preocupante de bulimia , e o que mais tarde , já quase em fase adulta , seria identificado como transtorno de personalidade limítrofe . tentativas falhas de retomar o controle de uma vida que a si nunca pertenceu .
a ruptura deu-se no ápice de insubordinação , quando — apresentada a um destino de perpetuação do vicioso ciclo de subserviência e menosprezo , sua mão prometida ao maior lance — ousou indagar sobre questões éticas ligadas aos negócios da família e recusar um destino de docilidade corrompida . a vergonha pública tamanha se tornou imperdoável , e as ruas de khadel foram apresentadas como única solução ao seu deserdamento . a figura materna , devastada, nada decisiva nas tentativas de reverter a situação .
a distância da presença vil e esmagadora provocou dependência de antigos laços de amizade, que se provaram verdadeiros . a ânsia por ser o que sempre sonhou maior do que a própria capacidade de lidar com as consequências . um intenso resvalo com a própria morte e a quase fatalidade de outrem em suas palmas , borderline como combustível e força motriz , levaram-na a um caminho , antes , completamente utópico . khadel já não era mais um refúgio , e no semblante afável e acolhedor de uma assistente social , encontrou passagem para um eu do futuro .
a mudança para siena não veio sem reveses , o sentimento de perseguição , e profunda angústia quase retomando os hábitos nocivos e a retornando aos braços de khadel . a familiaridade , ainda que tóxica , parecia reconfortante . lidia poët , no entanto não permitiria . a conexão com a figura histórica , fez do investimento de habilidades , valores e senso crítico , uma carreira estelar no direito , a ênfase em direitos humanos um complemento óbvio, e essencial .
a cidade natal não foi uma escolha imensamente desejada , ainda que o magnetismo fosse quase sufocante , mas necessária com a partida de münevven şahverdi . o legado materno maculado pelo segundo casamento paterno meros meses após as rosas serem dispostas sob o mogno selando o rosto , ainda jovem , marcado pela tortura psicológica decenal . o que restou de münevven — além de memórias oscilando entre afeto e mágoa — , uma herança exorbitante , os gökçe tão afluentes quanto os şahverdi , então repassada à herdeira de ambos . a fúria patriarcal era esperada , o senso de traição latente em uma face desalmada e cruel que teria reivindicado os últimos resquícios da falecida esposa , não fosse pelo retratado testamento .
a certeza de que vínculo romântico algum justificaria fim desonroso como o de münevven , antiga no consciente , se intensificou , enrijecendo ideias que se tornavam então um credo . reinvenção como chave , o sobrenome patriarcal já não era um que se identificava , adotou o gökçe materno como parte da sua nova identidade , e na posse de uma fortuna livre de amarras , o uso fez-se na construção do legado , e mudança , que gostaria de ver no mundo . ou ao menos em seu mundo .
a advocacia caiu como uma luva , encabeçando novas pesquisas e políticas , os dígitos imersos no pulso da transformação , tornando o epíteto “a militante” , para alguns derrogatório e para outros admirável , uma conotação pessoal para além da denotação . sinônimo de coragem , altruísmo e justiça , não apaga as cicatrizes , e sequelas , de um passado ainda presente . inflexível , reativa e condescendente , o exterior forte ainda apresenta fissuras sob o peso de tudo que perdeu , ou melhor , nunca teve . o pânico e impulsividade são batalhas diárias , exaustivas , incapazes de desfazer as amarras em uma psique incrivelmente vulnerável à rejeição , suscetível a dolorosa instabilidade , que luta por um mundo mais justo com o mesmo fervor que se destrói .
@khdpontos
Charmed – 8.08: Battle of the Hexes
entre o apelido abominado e a malícia estampada na expressão alheia , neslihan sentiu as íris faiscarem em desafio , um sorriso calculado o suficiente curvando os lábios. o epíteto era uma das formas mais certeiras de provocação – e camilo sabia disso. desde o instante em que ela cometera o deslize de demonstrar seu desgosto pela abreviação , ele parecia se deliciar em usá-lo com prazer sádico. era claro que ele queria irritá-la , até onde , ainda não havia decidido , e havia uma ínfima parte de si que ansiava por descobrir o limite entre ambos. nada que meros segundos na presença do mais velho não desfizesse , transformando qualquer semblante de curiosidade em uma nuvem de irritação. ❝ ah , carissimo , você ainda não sabe do que eu sou capaz ? ❞ o tom de sua voz era uma provocação tão evidente quanto as palavras escolhidas por ele momentos antes. era quase irresistível desafiá-lo , como se confrontar o ego do ricci fosse tão instintivo quanto respirar.
as orbes estreitaram ao acompanhar o percurso do olhar dele, sentindo-se exposta , estudada , como se pudesse ser decifrada com uma mera observação. impossível , homens como ele tinham um limiar de atenção tão diminuto quanto suas intenções eram previsíveis – a busca por troféus para massagearem o próprio ego. ainda assim , a marca que os castanhos deixavam em sua pele era inegável. sustentando a atenção masculina com uma mistura de desdém e diversão , ao contrário do que ele pudesse imaginar , com a destreza de uma amazona treinada desde a infância , ela já havia assumido as rédeas da situação. aproximou-se um passo , o suficiente para que o perfume feminino e a colônia masculina se mesclassem entre eles , a voz baixa em um tom quase confidencial. ❝ você parece confundir a minha atenção com um prêmio , mas não se engane — ao final do seu espetáculo , quem aquecerá minha cama não será você. ❞ outro passo à frente , as pernas quase se tocando , pegou uma das doses recém entregues , resvalando os lábios no vidro em um gesto que incorporava desafio. sorveu o líquido âmbar em um único gole , um sorriso curvando as feições.
❝ dedicar uma música ao seu fracasso agora me parece previsível demais. talvez eu deva escolher algo mais apropriado à sua natureza… ❞ o olhar percorreu-o lentamente , de cima a baixo , detendo-se como se em deliberação. ❝ you're so vain me soa como uma boa opção. ou , quem sabe , no scrubs. quase perfeita. ❞ inclinou o torso até que seus rostos estivessem a meros centímetros , suas respirações em uníssono pelo breve momento enquanto depositava o copo vazio com um tilintar contra a mesa. endireitou a postura com uma piscadela , lançando um beijo para matteo antes de prender os longos fios em um gesto casual. com confiança , marca da sua presença , virou-se em direção ao palco improvisado. ❝ para você , ricci ! espero que preste bastante atenção , porque não tenho o costume de repetir performances. ❞
os primeiros acordes de i'm that chick preencheram o espaço. a voz da gökçe , suave e provocativa , ecoou junto à melodia de mariah carey , capturando cada olhar presente. soltando os cabelos , antes presos estrategicamente , lançou-os para trás em um gesto que parecia uma declaração de êxtase. enquanto os saltos marcavam o compasso , aproximou-se de matteo , a destra escorregando pelo peitoral alheio , girando os quadris no ritmo da música. com um clique do grave , encarou a audiência , mantendo contato visual , um sorriso ladino sustentando cada passo. ensaiado pelo instinto , com os dígitos enredados na camiseta do mais novo , puxou-o para o palco , envolvendo os braços musculosos em sua cintura. usou-o como apoio para oscilar o corpo , acompanhando o groove com perfeição enquanto proclamava que seu sabor era tão doce quanto o de sorvete. os movimentos , precisos e calculados , incendiavam , e o loiro , finalmente rompendo seu estado de transe , ajustou as mãos ao longo do espaço entre costelas e quadril , encaixando beijos leves no pescoço feminino. os gestos , que normalmente a inflamariam , passaram despercebidos. o que fazia seu sangue vibrar era o triunfo , cada olhar fixo em si como um feitiço , e ela , o antídoto para a monotonia.
no último refrão , seus lábios enunciaram as palavras com clareza , como se fossem exclusivamente direcionadas a camilo. com o grave final , permitiu que o corpo fosse envolvido pela figura loira , as íris fixas às do moreno. o som da própria respiração e do sangue bombeando em seus tímpanos abafando a reação dos aplausos. com elegância desvencilhou-se de matteo , retornando à mesa originalmente para dois , a terceira cadeira uma intrusão em dissonância , com um sorriso doce desenhando as linhas femininas. ❝ não importa o quão encantadora você ache que sua teia é , algumas presas sabem exatamente onde estão pisando. ❞ o sussurro malicioso veio tão próximo que o calor da respiração de ambos se encontrou antes que ela recuasse. deixou escapar uma risada baixa antes de sentar-se novamente , um martini aparecendo como por encanto em suas palmas , refletindo as luzes do ambiente. brincando com o líquido , cruzou as pernas com um movimento deliberado. ❝ então , caro , sua curiosidade está saciada ou devo continuar ? como disse , é raro me repetir , mas se matteo estiver disposto , posso muito bem roubar a cena novamente enquanto você tenta acompanhar. ❞ movendo a taça para a direita , entrelaçou os dedos do loiro entre seus joelhos cruzados , um gesto em possessividade e provocação.
caso camilo se dispusesse a frequentar um terapeuta, provavelmente o escutaria racionalizar alguns mecanismos de defesa que o homem desenvolvera ao decorrer da vida, bem como ciclos viciosos aos quais ele estava preso. neslihan, para azar da própria moça, encaixava perfeitamente no tipo de situação em que o ricci acabava se colocando pela mera imaturidade emocional que alguém de sua idade não deveria ter. fosse ele menos traumatizado (ou ao menos capaz de lidar devidamente com seus traumas), provavelmente não depositaria tantos esforços naquela dinâmica, e certamente não estaria interrompendo o que era claramente um encontro - muito embora fosse visível a falta de química ali. e que não o entendessem errado: neslihan era exatamente o tipo de mulher que o atraía. tudo bem, ele também não tinha parâmetros tão rígidos e era mais do que comum vê-lo com todo tipo de pessoa. mas fato que, na lista de todas as suas preferências, gökçe gabaritava cada uma. desde detalhes menores como os olhos escuros e a altura acima da média, até coisas mais instigantes ainda como a personalidade forte e o temperamento colérico. mas naquele universo em que ele ainda era tão desequilibrado quanto podia ser, o que mais o instigava era o desafio e a auto validação que conquistá-la traria.
de modo geral, ele não era a pessoa mais competitiva do mundo, simplesmente porque um traço de personalidade desse exigiria esforços demais com muita frequencia. mas quando ele queria, sabia sim aplicar toda a sua energia em busca de uma vitória. naquele momento, por mais que pudessem pensar que a tal vitória vinha no formato da aposta, grande parte do seu real objetivo já havia sido conquistado. se ele receberia ou não a maior quantidade de palmas aquela noite (e tinha certeza de que o faria), já havia conseguido roubar neslihan do coitado que observava ainda perdido o caminho da conversa entre os dois conhecidos. o momento decisivo foram os segundos que antecederam as palavras da mais jovem, em que ricci não desviou o olhar do dela um momento sequer. ele sorriu com sua resposta; por mais que a frase estivesse repleta de desdém, ainda havia caído em sua teia. não se julgava mais esperto que neslihan, tampouco tinha a inocente crença de que a havia enganado ou qualquer coisa do tipo. sabia muito bem que, do mesmo modo que o ego de camilo se alimentava de toda a situação, o dela devia fazer o mesmo, pelo menos um pouco.
satisfeito com o rumo da conversa, ele ergueu o braço para pedir mais duas doses do uísque que havia roubado do loiro. "primeiro, não faça promessas que não pode cumprir, hani. e depois, há jeitos menos performáticos de calar a minha boca, mas acho que isso vai ser bem divertido de assistir." respondeu, o rosto iluminado por uma visível malícia. ergueu as sobrancelhas diante da proposta, apreciando a sugestão. antes de responder, porém, observou por sólidos segundos a figura agora em pé e ligeiramente inclinada de outrém, os olhos já escuros de camilo pareciam totalmente pretos enquanto percorriam cada centímetro de neslihan. "na verdade, você me deixou curiosíssimo para saber qual música dedicaria a mim." inclinou o próprio corpo para frente, ainda sentado, o olhar retornando ao dela. "além disso, não quero que me culpe quando você perder. então vai lá, me surpreenda."
os corredores da prefeitura não eram estranhos à presença de neslihan , ainda menos desde que aceitara a proposta do prefeito . no entanto , raramente se demorava ali , a mente sempre em ebulição , projetada a centenas de quilômetros na solução de problemas , enquanto seu tempo era meticulosamente cronometrado . pouco lhe importava que até mesmo seus clientes externos parecessem ter recebido o memorando sobre sua suposta identidade como uma das encarnações históricas de khadel , ou que seu cotidiano estivesse , cada vez mais , entrelaçado ao absurdo daquela maldição .
havia finalizado uma rodada de reuniões com antecedência e acelerado a entrega dos relatórios iniciais sobre as medidas a serem implementadas pelo município , tudo para liberar os dias seguintes para a viagem que aaron a arrastava , sob a demanda insana de zafira . retornava agora com um imenso copo de americano em uma das mãos , enquanto a bolsa e a pasta repousavam firmemente na outra . foi ao acessar a entrada lateral , exclusiva aos funcionários , que avistou a silhueta vagamente familiar de catarina no saguão , debruçada sobre o mapa exposto . naquele instante , não estava particularmente inclinada a interagir com mais um dos nove envolvidos no incessante drama que a atordoava e , por isso , optou pelo caminho mais longo até o salão de conferências .
seus saltos ecoavam pelo mármore no compasso da inquietação enquanto levava um gole profundo do café , concentrando-se no amargor revigorante da bebida , quando , ao dobrar um dos corredores , foi subitamente surpreendida por ninguém menos que a própria catarina , surgindo como uma aparição . não fosse pelos reflexos aguçados por anos de tênis e hipismo , o café teria banhado ambas dos pés à cabeça .
refletindo o passo que a outra dera para trás , neslihan curvou levemente os lábios em um sorriso polido , ainda que ligeiramente insincero . ❝ sei scusata . ❞ aquiesceu . sua natureza sempre fora inclinada à desconfiança , e algo na presença da marino despertava uma cautela instintiva . rápido demais a morena havia se infiltrado sob as defesas do seu melhor amigo — algo que , além dela própria e olivia , ninguém jamais conseguira — e , embora tivesse testemunhado o brilho singular no olhar de aaron ao lado da outra no giardino , neslihan precisava tirar suas próprias conclusões antes de aceitá-la como alguém importante , ou influente , ao lado de , e decente o suficiente para , o blackwell .
o arqueamento discreto das sobrancelhas denunciava a breve diversão diante da justificativa de catarina . minutos antes , vira-a analisando a disposição do edifício , e embora soubesse que nem todos tinham sua capacidade de memorizar um mapa com um único olhar , uma faísca nos olhos castanhos alheios indicava o contrário . de todo modo , não era exatamente estratégico iniciar um jogo de hostilidade logo na primeira interação — principalmente quando se desejava conhecer alguém antes de definir uma postura definitiva . e bem , talvez aquela fosse uma oportunidade para desvendar o enigma , ou ameaça , que a outra representava .
❝ catarina , certo ? prazer , neslihan . ❞ desta vez , o sorriso ganhava um tom calculadamente mais amplo , ainda carregado de um divertimento . ❝ claro , posso acompanhá-la até lá . e se me disser o que procura , posso indicar por qual sessão começar . ❞ fez um gesto sutil na direção do corredor de onde viera , quando na mente surgiu uma provocação . interrompendo o próprio passo , virou-se ligeiramente e , apontando com o copo fumegante para a direção oposta à que daria acesso aos arquivos . ❝ por aqui . ❞ declarou , sem alterar o tom .
antes das missões com @neslihvns
prefeitura de khadel
Curiosidade e criatividade é inteligência se divertindo, Catarina havia lido uma vez e as palavras haviam ficado com ela. Não apenas por sua memória eidética, mas porque ela sempre foi uma criança curiosa, criativa e inteligente, e isso não apenas virou um trunfo e uma profissão no seu futuro, como foi responsável por muitas das suas confusões. Por isso, independente do conto da carrochinha que a cidade alimentava sobre os reencarnados, Cat estava legitimamente curiosa sobre quem eram aquelas pessoas que alguns realmente acreditavam que podiam ser e tinha quase certeza que isso a levaria a muitas confusões. Como uma boa investigadora, ela estava disposta a ir fundo no assunto, independente do caos que causaria.
Havia começado um arquivo com cada um daqueles desconhecidos que agora pareciam fazer parte da sua vida de alguma forma, mas precisava também de um sobre o passado, sobre a história, sobre aquelas pessoas que um dia existiram. Não sabia o quanto os outros sabiam, mas ela não gostava de se sentir como a única que não estava por dentro de uma piada interna. Ela sempre precisava saber. Não havia um mistério que Catarina não pudesse resolver (talvez apenas o da sua própria família).
Na pensione, Cat havia tirado tudo sobre da parede e começado a pregar algumas informações. Fotos achadas online, informaçõe passadas por terceiros. Tudo — tudo — deveria estar interconectado de alguma forma. Não era simplesmente estranho que alguém havia lhe contratado para Khadel e, do nada, ela estava na cachoeira com um grupo de estranhos? Que seu cordão parecia fazer referência a Khadel? La città senza amore. Bateu um marcador nos lábios, olhando os post-its presos na parede, antes de decidir que ela precisava de mais informações. Nem tudo estava na internet, então ela iria old school.
Cat entrou na prefeitura, procurando onde eles mantinha os arquivos. Acreditava que podia convencer na lábia alguma senhorinha que trabalha lá, mas não iria dispensar completamente a ideia de furtar os documentos se necessário. Deixaria o plano aberto a adaptações.
"Ops, scusa," disse dando um passo para trás ao quase dar de cara com outra pessoa enquanto virava uma curva. Lembrava da morena da cachoeira, mas também lembrava dela por alguns olhares atravessados quando ela estava com Aaron. Não sabia se era algum sentimento de possessão que a outra tinha com o homem, ou se a posessão na verdade era uma obsessão, e talvez ela fosse apaixonada pelo outro. Neslihan. Havia achado o nome na legenda da foto de um jornal, com um homem que ela imaginou ser o pai da outra. Catarina não era boba. Era o momento perfeito para fazer a forrasteira perdida, a donzela indefesa, e ganhar o favor da morena. "Você sabe onde ficam os arquivos? Acho que me perdi." Catarina sabia exatamente para onde estava indo. Havia memorizado o mapa que ficava no saguão, mas podia utilizar do tempo juntas para entender quem era a mulher.
( @khdpontos )
münevven şahverdi , née gökçe ( 1973 - 2019 ) , mother , birce akalay !
kadir şahverdi ( 1967 ) , father , kenan imirzalıoğlu !
neslihan şahverdi gökçe ( 1995 ) , daughter , the activist , hande erçel !
@khdpontos
𝒕𝒉𝒆 𝒂𝒄𝒕𝒊𝒗𝒊𝒔𝒕 ! neslihan gökçe , 29 , human rights lawyer . can you hear my heart beating like a hammer ?
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