o sarcasmo na voz grave era um alento ansiado , uma familiaridade que a fazia esboçar um sorriso . aaron acreditava no amor tanto quanto ela mesma — céticos do sentimento inexistente . em outra realidade , uma em que não fossem moldados por passados que os impediam de se permitirem liberdades emocionais , poderiam talvez formar um par perfeito , alcançando juntos o mais próximo do que aquela emoção inventada prometia . ao notar o olhar que ele lhe lançava de soslaio , permitiu-se um ínfimo tremor no canto dos lábios . mas ali a verdade era imutável , neslihan jamais consentiria em ser destino final dele . o melhor amigo de sua vida merecia felicidade plena , e ela era o exato oposto . em sua percepção , ninguém ali era digno dele , cujo coração trancafiado guardava uma bondade infinita . ele não era como ela , não precisava lutar para melhorar o mundo para compensar as máculas que fervilham dentro de si .
o fluxo dos pensamentos era interrompido pelo riso dele — e , mesmo sem ter se atentado às palavras que precederam o som , deixou que a própria risada o acompanhasse . a provocação era um bálsamo apreciado , e a descontração logo se refletia em sua expressão . ❝ nós dois sabemos que eu danço muito bem , só espero que você tenha praticado desde a última vez em que te arrastei para aquela festa que mudou o meu destino . ❞ a mulher possuía desenvoltura suficiente para se adaptar ao ritmo latino , e , mais do que isso , a sintonia entre os dois era natural . ação e reação . o desafio era instigante , mesmo que ela duvidasse que sairia dali uma exímia dançarina de salsa . ❝ por favor , se fosse real , todos sabem que seríamos o casal com maior sintonia entre todas as possibilidades . ❞ voltando-se para ele , ainda com o braço entrelaçado ao seu , apontou a manicure carmesim em uma concordância veemente . ❝ é exatamente isso . você sabe que me recuso a me envolver com qualquer um dessa cidade justamente por essa necessidade que todos têm de comentar e julgar cada passo . agora , com os nossos nomes na ponta da língua de cada um , ficou impossível encontrar um instante de sanidade . ❞ não ousaria mencionar olivia naquele momento — não enquanto a irritação ainda latejava em sua mente . a amiga transformara sua rotina em um caos absoluto com aquelas palavras proclamadas em público , e neslihan não queria imaginar a reação de aaron se trouxesse o detalhe à tona .
com o tom diminuindo , se inclinou levemente em direção a ele , na tentativa de captando a confidência que parecia prestes a ser dita . ❝ estou começando a achar que , na verdade , você realmente acredita nessa história de maldição e quer que eu seja o seu felizes para sempre. ❞ arquejando , revirou os olhos , ainda que algo se enraizasse em sua consciência . era um pensamento descartável , e , ainda assim , ali estava , persistente no fundo de sua mente . ao retornarem à repartição envidraçada , assentiu , as íris se conectando às dos professores , enquanto o calor da mão dele a reconfortava . aproximando-se , ofereceu um sorriso gracioso , levemente ensaiado , ao casal que os guiaria . ❝ espero que não sejamos os piores alunos que já tiveram a infelicidade de ensinar . ❞ o humor autodepreciativo era uma estratégia eficaz para desarmar expectativas . ❝ mas prometo que seremos os mais dedicados . nosso gênio aqui aprende tudo em uma velocidade surpreendente . ❞ afagando a palma de aaron que repousava em seu ombro , piscou para a professora , que sorriu em resposta e rapidamente os posicionou onde deveriam começar . desfazendo o meio abraço , buscou a canhota alheia , entrelaçando os dedos aos dele , enquanto deslizava a própria até o deltoide desenvolvido . ❝ preparado ? ❞
Aaron deixou escapar um som curto, algo entre um riso baixo e um suspiro. "Ah, claro. O tão conhecido destino das almas gêmeas platônicas." Sua voz carregava a ironia de sempre, mas não um deboche real. Ele entendia o que ela queria dizer, e talvez, em uma outra vida, acreditaria nessa possibilidade. Mas a verdade era que era difícil acreditar em qualquer tipo de amor. Ainda assim, amenizou a dureza na expressão e o próprio tom de voz. "Mas se fôssemos mesmo alma gêmea, eu não iria reclamar". Ele lançou um olhar lateral para Nes, absorvendo a tensão quase imperceptível que ela tentava esconder. Aaron sabia que aquele tipo de exposição a incomodava mais do que queria admitir. Sabia porque, apesar de toda a racionalidade que exalava, ela também evitava certos riscos como ele. Por isso, acrescentou em brincadeira, tentando arrancar um sorriso dela. "Sabe, consigo imaginar alguns sacrifícios piores". E ele riu, porque ambos sabiam que não seria sacrifício algum para Blackwell. Se pudesse passar o dia inteiro na companhia de Nessie, ele passaria. "Mas, escuta, se a gente for mesmo uma ironia cósmica, espero que a gente pelo menos consiga dançar decentemente. Seria um pouco humilhante descobrir que o universo quer que a gente fique juntos e a gente não acerta nenhum passo. Cadê nossa sintonia, dona Neslihan Gökçe?" A provocação foi acompanhada de um sorriso enviesado antes dele continuar, agora de forma mais despreocupada: "E sobre ser assustador... eu diria que é mais um incômodo do que um pavor real. Você sabe, a última coisa que eu quero é que a cidade inteira se sinta no direito de dar opinião sobre minha vida amorosa." Ele fez uma pausa, então completou com um tom mais baixo, quase como se estivesse concedendo algo: "Mas falando sério agora, se for para passar por isso com alguém, não me incomodo nem um pouco que seja com você." Ele colocou a mão nas costas dela, e lenta e gentilmente a empurrou mais para o centro da sala. "Agora vamos ver se o destino também acredita no nosso talento para a salsa." Acrescentou, decidindo passar um dos braços sobre os ombros dela para dar mais segurança e proteção à amiga.
partner in justice : @oliviafb !
o ritmo apressado dos passos denunciava o nervosismo que corroía neslihan diante de seu evidente atraso. cada minuto perdido parecia uma afronta à sua agenda meticulosamente planejada , onde os compromissos se entrelaçavam com precisão cirúrgica. a mera ideia de desperdiçar um segundo era quase risível — e , no entanto , ali se encontrava , quase meia hora além do combinado com olivia , cujas as suas insistências para aquele encontro haviam sido tão persistentes quanto conhecidas. afinal , ambas sabiam o que as aguardava , tendo trilhado aquele exato caminho antes. supostamente , deveria estar vestida de maneira casual — ou tão próxima de casual quanto seu closet permitia , mas lá estava , com a questionável decisão de permanecer com os saltos profissionais. cogitou brevemente retornar ao carro e abandoná-los antes que se tornassem instrumentos de desastre , tal desvio , no entanto , apenas adicionaria mais dez preciosos minutos à conta de seu atraso. restava , então , a opção de descartá-los na entrada ou ser extremamente cautelosa. quando finalmente o lúdico edifício surgiu no horizonte , um sorriso instintivo tomou-lhe os lábios , acentuado pela reconfortante explosão de cores que aquecia seu espírito. o alívio se instalou momentos antes de seus olhos captarem a figura do outro lado da fachada de vidro. murmurando desculpas ainda inaudíveis , acelerou os passos para consumir a distância restante , atravessando a porta com presteza quase teatral. ❝ eu sei, eu sei ! estou terrivelmente atrasada , liv , eu sei… mas juro que estou a um triz de enlouquecer ! ❞ exalando um suspiro , cumprimentou-a com um beijo em cada bochecha , e uma nuvem do próprio perfume , antes de voltar sua atenção e expressão sorridente a uma das responsáveis , cuja presença usualmente adornava a recepção. ❝ carina , nós duas sabemos quem olivia veio encontrar , mas para ela é uma completa surpresa. ❞ piscou de forma exagerada , a voz carregada de humor. ❝ está preparada? ❞ a energia que emanava era contagiante , com o coração batendo em um ritmo acelerado de pura animação.
@khdpontos
* aqui se encontram algumas curiosidades e pontos importantes de neslihan para melhor compreensão do seu todo !
além da causa animal e feminista , advoca por questões de raça , gênero e sexualidade, neurodivergência , refugiados e meio-ambiente !
por mais que deseje que o dia tenha 72 horas para conseguir realizar tudo o que precisa , ainda não descobriu o segredo para o tempo , e por isso é extremamente meticulosa com horários e compromissos !
é vegetariana desde tenros seis anos, quando presenciou cozinheiros abaterem inúmeros animais inofensivos em preparação para uma das muitas suntuosas festas que o pai promovia . desde então não ingeriu sequer uma lasanha que não fosse de vegetais . seu objetivo é se tornar vegana em algum momento da vida , mas é uma ávida consumidora de tiramisu !
voluntária na ong animal de khadel , já adotou após o resgate , 3 cachorros , 2 gatos e 4 cavalos de corrida que mantém muito bem acomodados na enorme propriedade herdada da mãe !
da herança , manteve em seu nome quase que somente o lar da infância materna , intocado pelo amargor paterno , a grande parte restante dividiu em doações para causas necessitadas e sustenta-se com a própria profissão !
recentemente foi contratada como consultora de compliance para a prefeitura de khadel !
apesar da paixão correr em seu sangue por tudo o que faz , a mera menção de laços afetivos para além dos de amizade , e os estritamente físicos , é capaz de causar intensa reação alérgica . metaforicamente , claro . literalmente… é capaz de agressão física !
não significa no entanto que tem frieza em suas veias , não . consegue ser extremamente calorosa quando... estimulada !
o diagnóstico de tpb não é um de fácil aceitação e ainda que tenha recebido tratamento formal antes de ingressar na faculdade , é relapsa e permite que pressões do passado , e presente , a consumam . é mais comum vê-la agindo de forma impulsiva do que não , ainda mais quando interligada aos seus ideais , e em constante estado de auto destruição !
lealdade é algo que construiu ao longo dos anos como um traço da personalidade além dos seus moldes , e quando afeiçoa-se , o improvável é o limite !
progressista em sua visão de mundo e senso social , em contrapartida , é incrivelmente inflexível após tomar decisões acerca do caráter alheio. dificilmente sua opinião é afetada e acha que suas convicções estão um pouco acima do que as de qualquer outra pessoa !
rancor é um sentimento estranho , postula a maioria de suas reações com certa efemeridade . procura guardar o pior de si aos seus oponentes profissionais e aos que verdadeiramente merecem a totalidade do seu lado negativo . volátil , não é difícil vê-la esbravejando com alguém próximo de si para dali duas horas estar se desmanchando em risos com o mesmo !
o desejo pela independência emocional foi tão grande , que hoje , fecha-se para a maioria dos sentimentos além da superfície . mas apesar de tal máscara , a parte de si que ainda necessita de constantes afirmações e validações é a sua parte que mais detesta , mais do que todas as outras juntas !
seu passado com um transtorno alimentar , ao contrário do tpb , a faz muito disciplinada em relação à alimentação , mas uma porção de lokum e dois , ou dez , pedaços de baklava são a sua ruína . o paladar doce é ao mesmo tempo uma benção e uma maldição !
consequência dos problemas com a imagem corporal , é assídua em seus treinos de tênis , o esporte uma excelente maneira de consumir toda a energia agressiva e caótica sobressalente de seu corpo e uma forma de manter o equilíbrio entre o físico e mental !
também resquício da infância e adolescência , traz o amor pelo hipismo , e cavalos , incorporado no seu dia a dia !
possui uma extensa coleção de miniaturas de cavalos nos mais diversos materiais , desde cristal à ouro e mármore . são presentes de amigos , de sua mãe , souvenirs de suas viagens e recordações de pessoas do mundo inteiro com quem se conectou por meio do ativismo !
acredita no espiritual mais do que no divino , cética quanto a esse , em vidas após a morte e energias !
o assunto maldição é um tanto sensível . não se apega à noção de que uma cidade tenha sido amaldiçoada a desamar , uma vez que a concepção de amor é tão cômica quanto a existência de magia . a justificativa de tamanha miséria em relações românticas , para si , é simples : a natureza humana é intrinsecamente cruel , não amar é a tarefa mais fácil que alguém pode exercer !
tem um dedo verde para a maioria das plantas , legumes e vegetais e é a responsável por cultivar a impressionante horta e jardins espalhados pelos afastados acres onde sua residência se localiza !
a tatuagem que leva logo abaixo da nuca foi realizada em uma noite particularmente difícil , após o abuso de substâncias lícitas e uma difícil discursão que trouxe à tona antigas , mas recorrentes , feridas quanto à sua relação com a mãe . a libélula com asas translúcidas e peroladas , uma verdadeira obra de arte , que adorna sua dorsal é homenagem à münevven . de beleza etérea , a recordou da mais velha , assim como a fragilidade resiliente , análoga à mesma . é símbolo também de liberdade , para recordá-la de que agora a mulher está eternamente livre !
@khdpontos
✉️ : se você diz... mas meus olhos sabem exatamente o que viram ✉️ : bom , podia fazer como eu faço e sair dessa cidade vez ou outra ✉️ : iria te fazer um bem absurdo , garanto ✉️ : uhm , talvez porque você estava em um encontro e parecia estar aproveitando ? ✉️ : e eu também estava meio que ocupada tentando lidar com camilo ✉️ : roupas sociais ? absolutamente não . mas se não foi você que escolheu... ✉️ : e não fui eu que te ajudei... ✉️ : quem foi ? ✉️ : como assim que tipo de aposta ? apostas são apostas , ele tinha direito a escolher o que quisesse ✉️ : e felizmente escolheu apenas um jantar ✉️ : aplaudi-lo por qual motivo exatamente ? ✉️ : francamente , eu esperava mais da sua confiança em mim , aaron ✉️ : mas claro que você ficaria impressionado com ele , homens sempre apoiam homens afinal , não é mesmo ?
📲 [aaron]: primeiro de tudo, sem exagero. eu não estava sorrindo abertamente.
📲 [aaron]: eu só não posso fazer nada se quase nunca tem gente nova nessa cidade.
📲 [aaron]: até pq, não sei se você se lembra, mas eu trabalho em um bar. é minha obrigação saber as coisas.
📲 [aaron]: segundo, se você me viu, por que diabos não falou nada?
📲 [aaron]: e "incrível em roupas sociais"? agora eu tô ofendido. você não acha que eu consigo escolher uma boa roupa sozinho?
📲 [aaron]: nes, nes, nes...
📲 [aaron]: eu percebi aqui o q você está fazendo. não tente mudar de assunto. Ricci ganhou uma aposta? que tipo de aposta? e por que você aceitou isso?
📲 [aaron]: sério, nes. não acredito que você caiu em uma do Milo...infelizmente, vou ter que aplaudir ele por isso
observando romeo e graziella desaparecerem na vastidão do closet feminino , um sorriso delicado se assentou nos traços de neslihan , solidificando-se como um reflexo de sua ternura . inquieta , enquanto a voz infantil preenchia o ambiente com sugestões lançadas ao ar , retomou os presentes , recolocando-os cuidadosamente nas caixas estilizadas , os depositando sobre uma das mesas de cabeceira antes de se voltar para os lençóis , esticando-os com precisão , ajustando o duvet , alinhando a manta e , por fim , afofando os inúmeros travesseiros . finalizou o último detalhe a tempo de testemunhar outra investida do pequeno rumo à cama , desfazendo seu trabalho meticuloso com um risinho travesso . entre risadas que iluminavam sua alma , ela se lançou à brincadeira , provocando-o com cócegas enquanto ele se contorcia em meio a gargalhadas cristalinas . preparava-se para outra rodada quando a voz de grazi ecoou pelo ambiente . ❝ maravilhosa , não está , romeo ? ❞ com uma piscadela exagerada para o cúmplice , ela assentiu , entrelaçando a palma na dele antes de se erguerem juntos . ❝ agora temos duas opções . podemos ir direto para o studio e depois encontrar romeo e ginevra na pasticceria para escolher um bolo e ter um café da manhã digno, ou comer algo agora e então seguir para o studio . ❞ anunciou , desvencilhando-se suavemente e caminhando em direção ao hall de entrada , onde havia deixado sua bolsa . ❝ eu e romeo preferimos a primeira opção, sob a promessa das panquecas de ricotta que só a signora isabella sabe fazer . ❞ lançando um olhar de cumplicidade ao pequeno , sorriu . ❝ mas a escolha é completamente sua . ❞ a ênfase era quase uma súplica disfarçada em nome do entusiasmo da criança , que parecia ter um paladar tão doce como o seu , e cujos os olhinhos brilharam com a mera menção da delícia sugerida no dia anterior .
com ambos os pares de salto ressoando suavemente na entrada do studio , neslihan tomou uma respirou profunda , permitindo que o aroma adocicado que permeava o ambiente aliviasse , ainda que sutilmente, a tensão dos músculos . com os braços entrelaçados ao da giordano , colou seu corpo ao dela , consciente de que precisavam sustentar a ilusão do encontro que pretendiam vender . já havia preparado a amiga acerca do pretexto criado pelo anúncio de olivia , e agora o espetáculo estava prestes a começar . pela recepcionista de sorriso amplo foram conduzidas ao segundo andar , onde se localizava o spa e durante o trajeto , detalhava sobre o que as aguardava . poderiam trocar massagens entre si ou serem massageadas , seguido de um tratamento dermatológico , um banho relaxante e , por fim , um tempo livre para simplesmente desfrutar do ambiente até quando desejassem . a gökçe desviou o olhar para a amiga , o brilho bem humorado cintilando em suas íris ao arquear uma das sobrancelhas . ❝ e então, mia dolce metà ? ❞ segurando o riso , o tom melífluo era carregado de doçura exagerada . ❝ como disse mais cedo , hoje a escolha é inteiramente sua . ❞ manteve a expressão impassível , ainda que pudesse praticamente prever a resposta de graziella . ela optaria pelo atendimento profissional , é claro . não que a alternativa fosse completamente descartável… e graziella certamente não questionaria , muito , ao menos não de maneira pública , os hematomas arroxeados que marcavam suas costelas e quadris .
Por mais que Graziella seja uma mulher que ame uma comemoração, o aniversário sempre foi algo que passou a querer que não seja tão grandioso assim. Quando mais nova, adorava fazer festa, reunir conhecidos e desconhecidos em sua residência e ouvir a repercussão ser comentada pelos corredores da escola pelo resto da semana. Hoje em dia, algo com as pessoas que importavam era mais do que suficiente para a italiana. Por esse motivo que a mulher não se importou muito de levantar da cama cedo, postergando o máximo que conseguisse. Ela só não esperava que fosse recepcionada pelos dois furacões de sua vida.
"Buon compleanno, mamma." Ouviu do pequeno segundos antes de receber a parabenização da amiga. Em dias normais, teria repreendido Romeo por chamá-la de mãe na frente dos outros, mas ali só tinha Neslihan, a única pessoa no mundo em quem confiara seu segredo e que sabia que não passaria adianta Além disso, era o seu dia e podia se beneficiar com um pouco de carinho. Por esse motivo, com um sorriso preguiçoso nos lábios, Graziella envolveu a cintura pequeno italiano, sentindo aquele asco característico ganhar espaço no qual ela ignorou ao deixar o beijo na testa de Romeo em seguido do rosto de Nes. "Obrigada." Respondeu, sentando na cama para que conseguisse ver os presentes.
As orbes verdes brilharam ao reconhecer o sapato de imediato, demorando nele por mais tempo que o normal antes de observar a bolsa e por fim os convites que a fez sorrir de canto. "Quando se conhece sua melhor amiga, é impossível errar os presentes." Olhou para a turca, deixando todos eles na enorme cama ao levantar, esticando a mão para filho que não hesitou em pegar. "Venha, hoje vai escolher o que eu vou usar com a tia Nes." Avisou, puxando-o em direção enorme closet.
Talvez fosse o bom gosto que foi herdado de mãe para filho ou apenas obra do destino, mas Graziella se ajeitou ao colocar o cropped por cima da camisa escolhida por Romeo, a bota - que preferia usar outra mas o filho insistiu no 'cowboy' -, os acessórios, o cabelo preso em um rabo de cavalo baixo, óculos de sol na cabeça e então saiu pronta, mostrando o look para os dois. "Estou bonita?"
antes mesmo que os primeiros raios solares rasgassem o véu da madrugada , neslihan já percorria o caminho até o pequeno complexo esportivo , a raquete equilibrada entre os dedos . o aroma fresco da grama recém aparada , meticulosamente ajustada aos padrões internacionais , impregnava seus sentidos , oferecendo um instante fugaz de alívio . mas nem mesmo aquele perfume familiar conseguia dissipar por completo a sensação de exaustão latente , o peso dos dias recentes transformando-a em um animal ferido , perdido na escuridão de uma floresta desconhecida . retirou o cardigã , sentindo o arrepio escalar-lhe os braços sob a brisa cortante da alvorada , após depositar a bolsa junto à rede — um ritual já automático — , com as raquetes extras . por vezes , dependendo do humor , estourava as cordas de poliamida com a força desmedida de seus golpes , como se o próprio equipamento carregasse consigo a frustração acumulada , então sempre trazia as excedentes . com os cabelos firmemente presos no alto da cabeça e os nervos tensionados , não desperdiçou tempo com aquecimentos triviais . a corrida ao redor da villa , antes de ceder à tentação de pegar o carro e dirigir até ali , fora mais do que suficiente para preparar os músculos . seu único objetivo era derrotar a máquina lançadora — um adversário silencioso , preciso e incansável . e assim , a mulher se perdia nos movimentos meticulosamente calculados , os golpes ressoando contra as cordas tensionadas da raquete , canalizando a exasperação que lhe queimava por dentro . o tempo se tornava irrelevante , a única certeza era o alívio sutil que se insinuava em seus ombros , a rigidez gradualmente cedendo enquanto sua mente se libertava das inquietações que , dia após dia , pareciam se entranhar mais fundo em seu consciente .
um sorriso despontou quando sua memória a transportou para o instante em que segurou uma raquete pela primeira vez — uma das muitas exigências paternas . dentre todas , talvez aquela fosse uma das poucas que ainda preservava com apreço , mesmo que , na época , as cordas fossem de tripa natural , um material que agora se recusava a sequer ponderar . o cenho se franziu ao recordar os treinos extenuantes , excessivos para uma criança sem qualquer ambição profissional no esporte , mas menos que a perfeição jamais fora aceito sob o teto dos şahverdi , então se tornou a norma . a respiração adquiriu uma cadência melancólica ao lembrar dos dias em que tinha companhia – uma companhia que ia além da miríade de treinadores cuja simples presença a fazia desejar nunca mais encará-los . matteo surgiu em sua mente como um relâmpago — um vestígio confuso em sua mente com a forma como tudo havia se desfeito , em meio ao caos infernal no qual ela era a personagem principal .
com o suor escorrendo por cada poro de sua pele , sacudiu as memórias com um último golpe certeiro na bola final lançada pela máquina . levando as mãos à cintura , puxou o ar límpido da manhã para dentro dos pulmões exaustos , contando mentalmente até dez . na última expiração , foi arrancada de seu momento de trégua por uma voz masculina . por um breve instante , sentiu a alma sair do corpo , como se sua própria lembrança tivesse evocado matteo em carne e osso à sua frente . com a destra pousada sobre o coração acelerado , inclinou levemente o quadril e esboçou um sorriso contido — um reflexo de algo reprimido há muito tempo , ou talvez apenas até o momento em que todos foram tragados pelo mistério que pairava sobre khadel como um véu espectral . quando sua rotina meticulosamente planejada começou a ruir . ❝ ei , teo . ❞ o apelido escapava com naturalidade , como se treze anos não tivessem se esgueirado entre eles sem quase nenhuma palavra trocada . enquanto caminhava até a bolsa descartada , procurando pela garrafa , seus olhos captaram um detalhe que fez o pequeno sorriso persistir , a raquete que pendia das mãos dele , os adesivos no cabo denunciando sua familiaridade . ❝ nunca te vi por aqui antes… mas suponho que nossos horários se diferem na maior parte dos dias . ❞ ergueu uma sobrancelha , indicando com o olhar o objeto desgastado entre os dedos masculinos . ❝ veio jogar sozinho ou aceita companhia ? ❞ a pergunta carregava o mesmo tom melancólico das lembranças que há pouco enevoaram seus pensamentos . ❝ eu poderia usar um adversário mais desafiador . ❞
Starter fechado para @neslihvns
Quadra de tênis
Sua rotina de exercícios focava em musculação e atividades que ainda poderiam ser feitas na Casa Comune, como kickboxing, Muay Thai ou boxe. Porém, vez ou outra, Matteo gostava de se aventurar em outros esportes. Fosse para causar um pequeno desconforto no seu corpo ao experimentar algo novo, fosse para quebrar um pouco a monotonia do conhecido, ele achava que colocar coisas diferentes na sua rotina lhe traria algum benefício. Era por isso que, naquela manhã, ele optou pelo tênis. Pegou uma raquete esquecida dentro da garagem abarrotada de quinquilharias e logo a onda de memórias associadas ao objeto veio em sua mente.
Ele tinha treze anos e pegou uma raquete no quarto de Neslihan. Ela estava tentando ensiná-lo algo de matemática, mas a mente inquieta de Matteo não conseguia focar nas equações. Ele não entendia porque as coisas lhe eram tão mais difíceis quanto para os seus colegas, mas os números, letras e formas pareciam dançar na folha, causando sua própria inquietação. Ele perguntou para ela o que era aquilo e, mesmo entre um olhar autoritário que dizia que ele devia estar prestando atenção em outra coisa, ela explicou para ele o jogo.
Aos dezesseis anos foi provavelmente quando jogaram o último jogo juntos. Cada dia mais suas lições ficavam espaçadas. Algumas vezes interrompidas por causa da nova rotina física de Matteo, outros dias por algum compromisso que Neslihan possuia. Parecia que suas agendas nunca alinhavam, tão raro quanto um completo alinhamento planetário e Matteo só sabia responder com a única expressão externa que conseguia oferecer aos outros: indiferença. Não podia ir atrás dela. Ele nem sabia o que havia acontecido para o afastamento. Depois daquele dia nunca mais se encontraram intencionalmente dentro ou fora da quadra.
Tinha vinte anos e havia jogado algumas vezes aleatórias, ainda com a raquete emprestada que nunca devolveu. Algumas objetos ficavam perdidos pelo contato entre aqueles que os manipulavam e esse era um dos casos. Talvez nunca voltaria ao verdadeiro dono. Parou de jogar por muito tempo.
Agora, segurando a raquete, ele percebia o quanto ela parecia pequena na sua mão e muito mais velha que lembrava. Talvez fosse a camada de poeira que lhe cobria, depois de longos anos em desuso. Ele girou na mão e decidiu levá-la, mais pelo valor sentimental do que pela praticidade. Provavelmente teria que alugar uma nova para poder jogar. Mas algo de tudo que estava acontecendo, a ligação do grupo mais improvável que poderia ser colocado junto em Khadel, fazia com que ele pensasse mais sobre as suas conexões, ou a falta delas. No fundo Matteo sabia que a indiferença com que levava a vida seria sua ruína. Sozinho, desconfiado e provavelmente rabugento. Era assim que terminaria. Não poderia culpar nenhuma maldição pelo desamor, ele mesmo afastava qualquer um que se atrevesse a tentar estar na sua vida.
Como se evocasse o fantasma de Neslihan com aquela raquete, ele avistou a mulher numa das quadras assim que chegou no lugar. Era cedo, talvez cedo demais, para agir indiferente e fingir que não havia lhe visto. Eram as únicas almas ali naquele horário, tirando o jovem na entrada que havia o recebido. Matteo respirou fundo e foi em direção à mulher, tentando pensar em algo para dizer, mas tudo parecia ficar àquem do desejável. "Ei," cumprimentou, soando patético na sua cabeça, mesmo que nada realmente escorrece ao exterior.
( @khdpontos )
entre o apelido abominado e a malícia estampada na expressão alheia , neslihan sentiu as íris faiscarem em desafio , um sorriso calculado o suficiente curvando os lábios. o epíteto era uma das formas mais certeiras de provocação – e camilo sabia disso. desde o instante em que ela cometera o deslize de demonstrar seu desgosto pela abreviação , ele parecia se deliciar em usá-lo com prazer sádico. era claro que ele queria irritá-la , até onde , ainda não havia decidido , e havia uma ínfima parte de si que ansiava por descobrir o limite entre ambos. nada que meros segundos na presença do mais velho não desfizesse , transformando qualquer semblante de curiosidade em uma nuvem de irritação. ❝ ah , carissimo , você ainda não sabe do que eu sou capaz ? ❞ o tom de sua voz era uma provocação tão evidente quanto as palavras escolhidas por ele momentos antes. era quase irresistível desafiá-lo , como se confrontar o ego do ricci fosse tão instintivo quanto respirar.
as orbes estreitaram ao acompanhar o percurso do olhar dele, sentindo-se exposta , estudada , como se pudesse ser decifrada com uma mera observação. impossível , homens como ele tinham um limiar de atenção tão diminuto quanto suas intenções eram previsíveis – a busca por troféus para massagearem o próprio ego. ainda assim , a marca que os castanhos deixavam em sua pele era inegável. sustentando a atenção masculina com uma mistura de desdém e diversão , ao contrário do que ele pudesse imaginar , com a destreza de uma amazona treinada desde a infância , ela já havia assumido as rédeas da situação. aproximou-se um passo , o suficiente para que o perfume feminino e a colônia masculina se mesclassem entre eles , a voz baixa em um tom quase confidencial. ❝ você parece confundir a minha atenção com um prêmio , mas não se engane — ao final do seu espetáculo , quem aquecerá minha cama não será você. ❞ outro passo à frente , as pernas quase se tocando , pegou uma das doses recém entregues , resvalando os lábios no vidro em um gesto que incorporava desafio. sorveu o líquido âmbar em um único gole , um sorriso curvando as feições.
❝ dedicar uma música ao seu fracasso agora me parece previsível demais. talvez eu deva escolher algo mais apropriado à sua natureza… ❞ o olhar percorreu-o lentamente , de cima a baixo , detendo-se como se em deliberação. ❝ you're so vain me soa como uma boa opção. ou , quem sabe , no scrubs. quase perfeita. ❞ inclinou o torso até que seus rostos estivessem a meros centímetros , suas respirações em uníssono pelo breve momento enquanto depositava o copo vazio com um tilintar contra a mesa. endireitou a postura com uma piscadela , lançando um beijo para matteo antes de prender os longos fios em um gesto casual. com confiança , marca da sua presença , virou-se em direção ao palco improvisado. ❝ para você , ricci ! espero que preste bastante atenção , porque não tenho o costume de repetir performances. ❞
os primeiros acordes de i'm that chick preencheram o espaço. a voz da gökçe , suave e provocativa , ecoou junto à melodia de mariah carey , capturando cada olhar presente. soltando os cabelos , antes presos estrategicamente , lançou-os para trás em um gesto que parecia uma declaração de êxtase. enquanto os saltos marcavam o compasso , aproximou-se de matteo , a destra escorregando pelo peitoral alheio , girando os quadris no ritmo da música. com um clique do grave , encarou a audiência , mantendo contato visual , um sorriso ladino sustentando cada passo. ensaiado pelo instinto , com os dígitos enredados na camiseta do mais novo , puxou-o para o palco , envolvendo os braços musculosos em sua cintura. usou-o como apoio para oscilar o corpo , acompanhando o groove com perfeição enquanto proclamava que seu sabor era tão doce quanto o de sorvete. os movimentos , precisos e calculados , incendiavam , e o loiro , finalmente rompendo seu estado de transe , ajustou as mãos ao longo do espaço entre costelas e quadril , encaixando beijos leves no pescoço feminino. os gestos , que normalmente a inflamariam , passaram despercebidos. o que fazia seu sangue vibrar era o triunfo , cada olhar fixo em si como um feitiço , e ela , o antídoto para a monotonia.
no último refrão , seus lábios enunciaram as palavras com clareza , como se fossem exclusivamente direcionadas a camilo. com o grave final , permitiu que o corpo fosse envolvido pela figura loira , as íris fixas às do moreno. o som da própria respiração e do sangue bombeando em seus tímpanos abafando a reação dos aplausos. com elegância desvencilhou-se de matteo , retornando à mesa originalmente para dois , a terceira cadeira uma intrusão em dissonância , com um sorriso doce desenhando as linhas femininas. ❝ não importa o quão encantadora você ache que sua teia é , algumas presas sabem exatamente onde estão pisando. ❞ o sussurro malicioso veio tão próximo que o calor da respiração de ambos se encontrou antes que ela recuasse. deixou escapar uma risada baixa antes de sentar-se novamente , um martini aparecendo como por encanto em suas palmas , refletindo as luzes do ambiente. brincando com o líquido , cruzou as pernas com um movimento deliberado. ❝ então , caro , sua curiosidade está saciada ou devo continuar ? como disse , é raro me repetir , mas se matteo estiver disposto , posso muito bem roubar a cena novamente enquanto você tenta acompanhar. ❞ movendo a taça para a direita , entrelaçou os dedos do loiro entre seus joelhos cruzados , um gesto em possessividade e provocação.
caso camilo se dispusesse a frequentar um terapeuta, provavelmente o escutaria racionalizar alguns mecanismos de defesa que o homem desenvolvera ao decorrer da vida, bem como ciclos viciosos aos quais ele estava preso. neslihan, para azar da própria moça, encaixava perfeitamente no tipo de situação em que o ricci acabava se colocando pela mera imaturidade emocional que alguém de sua idade não deveria ter. fosse ele menos traumatizado (ou ao menos capaz de lidar devidamente com seus traumas), provavelmente não depositaria tantos esforços naquela dinâmica, e certamente não estaria interrompendo o que era claramente um encontro - muito embora fosse visível a falta de química ali. e que não o entendessem errado: neslihan era exatamente o tipo de mulher que o atraía. tudo bem, ele também não tinha parâmetros tão rígidos e era mais do que comum vê-lo com todo tipo de pessoa. mas fato que, na lista de todas as suas preferências, gökçe gabaritava cada uma. desde detalhes menores como os olhos escuros e a altura acima da média, até coisas mais instigantes ainda como a personalidade forte e o temperamento colérico. mas naquele universo em que ele ainda era tão desequilibrado quanto podia ser, o que mais o instigava era o desafio e a auto validação que conquistá-la traria.
de modo geral, ele não era a pessoa mais competitiva do mundo, simplesmente porque um traço de personalidade desse exigiria esforços demais com muita frequencia. mas quando ele queria, sabia sim aplicar toda a sua energia em busca de uma vitória. naquele momento, por mais que pudessem pensar que a tal vitória vinha no formato da aposta, grande parte do seu real objetivo já havia sido conquistado. se ele receberia ou não a maior quantidade de palmas aquela noite (e tinha certeza de que o faria), já havia conseguido roubar neslihan do coitado que observava ainda perdido o caminho da conversa entre os dois conhecidos. o momento decisivo foram os segundos que antecederam as palavras da mais jovem, em que ricci não desviou o olhar do dela um momento sequer. ele sorriu com sua resposta; por mais que a frase estivesse repleta de desdém, ainda havia caído em sua teia. não se julgava mais esperto que neslihan, tampouco tinha a inocente crença de que a havia enganado ou qualquer coisa do tipo. sabia muito bem que, do mesmo modo que o ego de camilo se alimentava de toda a situação, o dela devia fazer o mesmo, pelo menos um pouco.
satisfeito com o rumo da conversa, ele ergueu o braço para pedir mais duas doses do uísque que havia roubado do loiro. "primeiro, não faça promessas que não pode cumprir, hani. e depois, há jeitos menos performáticos de calar a minha boca, mas acho que isso vai ser bem divertido de assistir." respondeu, o rosto iluminado por uma visível malícia. ergueu as sobrancelhas diante da proposta, apreciando a sugestão. antes de responder, porém, observou por sólidos segundos a figura agora em pé e ligeiramente inclinada de outrém, os olhos já escuros de camilo pareciam totalmente pretos enquanto percorriam cada centímetro de neslihan. "na verdade, você me deixou curiosíssimo para saber qual música dedicaria a mim." inclinou o próprio corpo para frente, ainda sentado, o olhar retornando ao dela. "além disso, não quero que me culpe quando você perder. então vai lá, me surpreenda."
a respiração que tomava era profunda e carregada de frustração . por vezes , questionava-se sobre o motivo de ainda se empenhar em mediar as tensões entre aquela amizade que , outrora preciosa , agora parecia trazer apenas desgosto . as boas lembranças vacilavam sempre que o assunto vinha à tona com aaron , e, embora ainda resplandecessem em sua mente , a cada dia a vontade de se apegar a elas se dissipava um pouco mais . era uma batalha incessante entre as convicções dele — que , a bem da verdade , eram justificadas — e a perspectiva de olivia , igualmente legítima , até mais dolorosa do que aquilo que ela e aaron haviam vivido . não que neslihan pudesse jamais confessar tal pensamento . não apenas porque sabia que ele interpretaria suas palavras de forma equivocada , mas porque prometera a liv manter silêncio . e , depois de tudo o que haviam enfrentado juntas , pedaço por pedaço dos anos cruéis que as moldaram , quebrar essa promessa estava fora de questão . ❝ sim , você considerou . no passado , e não é essa a questão . estou falando do presente . ❞ era irônico que ela insistisse para que ele deixasse o passado onde deveria permanecer — apenas como memórias — quando , no fundo , ela própria era incapaz de se desvencilhar dele . ❝ ace… pelo contrário , foi muito maior do que ela foi capaz de te dizer naquele momento . ❞ com um longo suspiro , permitiu que os ombros cedessem antes de pousar uma das palmas sobre a dele . a tensão vibrava do amigo como um fio prestes a se romper , e a gökçe detestava vê-lo assim , com os músculos retesados , consumido por emoções que lutava para conter . era como se observasse um reflexo de si mesma — alguém que , mais vezes do que gostaria de admitir , tentava desesperadamente manter a sanidade e os próprios impulsos sob controle .
❝ tenho certeza de que você pensa que a perdoei rápido demais e que , no fim das contas , ela apenas me considerou . mas foram anos . anos até que eu encontrasse uma brecha grande o suficiente para reconstruir parte do que nós duas perdemos . você realmente acha que , quando ela voltou , tudo se desenrolou como se nada houvesse acontecido ? claro que não . e , sinceramente , eu não estaria a defendendo se tudo tivesse sido tão superficial . da mesma forma que insisto em defender você para ela . ❞ apertou suavemente a mão masculina antes de retomar a postura impecável . observou-o por um instante , franzindo levemente o nariz diante do tom e dos gestos que não refletiam verdades , mas apenas uma resistência silenciosa . ainda assim , ofereceu um pequeno sorriso — desprovido de calor , mas de um humor resignado diante do leve absurdo da situação . ❝ aaron… ❞ meneando a cabeça em incredulidade , tomou fôlego mais uma vez , seu corpo inteiro se movendo com a profundidade da respiração . ❝ se você prefere acr— na verdade , esquece . posso te fazer um pedido ? e , como sua melhor amiga de todas as eras , espero que me conceda isso com sinceridade . ❞ após a última mordida no biscotti levou o guardanapo ao canto dos lábios , que relutavam em expressar algo além de descontamento, e hesitou por um instante antes de prosseguir . ❝ da próxima vez que encontrar olivia , pelo tempo que estiverem juntos , tente deixar os ressentimentos do passado no passado . é tudo o que te peço . ❞ alguém teria que ceder . e , naquele momento , apenas ele possuía essa capacidade .
❝ como você disse , tudo tem limite , e há muito venho sendo puxada para os dois lados . não posso me dividir infinitamente , e jamais escolheria um em detrimento do outro — ambos me conhecem o suficiente para deduzirem isso . no fundo , vocês também sabem que ainda há algo que merece ser rememorado , ou não fariam tanto esforço para se colocarem constantemente no caminho um do outro . ❞ não era um ultimato , tampouco uma nova confissão — àquela altura , era uma súplica , e ela ansiava , com todas as forças , que ele fosse capaz de enxergar o significado nas entrelinhas . após sorver o final do ristretto , esboçou um discreto sorriso antes de acenar para a atendente , solicitando o fechamento de sua conta e a de aaron . ele ainda estava no meio da refeição , mas neslihan julgava ter dito tudo o que lhe era possível e não via sentido em prolongar ainda mais as fisgadas que aquele assunto provocava nele . ❝ offro io . ❞ a afirmação veio suave , enquanto seus olhos permaneciam fixos aos dele , carregando um brilho sutil — que esperava ser um equilíbrio delicado entre desculpa e compreensão . ❝ preciso ir , ou o que deveria ser apenas uma hora extra no fim do dia logo se tornará três . buon appetito ! ❞ ao se levantar , passou por ele com naturalidade , pousando levemente a mão sobre seu ombro antes de seguir adiante .
@khdpontos
Aaron apertou a mandíbula, sentindo o peso das palavras de Nes. Ele odiava quando ela fazia isso—quando expunha as rachaduras da sua lógica como se estivesse apenas apontando o óbvio. Mas ao mesmo tempo, era por isso que ele a amava tanto. Gostava que sua melhor amiga não abaixava a cabeça para ele, mesmo quando estava no pior dos humores. Como aquele, naquela manhã. "Considerar um recomeço?" Ele riu, mas sem humor. "Eu considerei", disse entredentes, sem conseguir conter a frustração. Blackwell precisou fechar os olhos e respirar fundo, antes de continuar a falar, com mais calma. Comedidamente controlado. "Quando ela foi embora, considerei. Durante meses, anos, considerei. Mas tudo tem limite, porque em todas às vezes em que tentei...era como se estivesse tentando agarrar fumaça." Ele desviou o olhar, passando a mão no cabelo e bagunçando todos os fios, um hábito involuntário quando tentava conter a frustração. "Se tinha algo maior impedindo, ótimo. Mas nunca foi algo grande o suficiente pra ela sequer me dizer." Ele odiava falar sobre isso, odiava pensar que sua amizade não tinha sido suficiente para Olivia, enquanto a amizade de Nes sim. Porque cada vez que dizia em voz alta, ficava claro o quanto ainda importava para ele. Quando Nes perguntou por que ele escolheu lidar com Olivia, ele parou por um segundo. Sabia a resposta. Mas não queria admiti-la. "Sei lá", mentiu, dando de ombros. "Eu preferia que ela me evitasse, mas seria péssimo pra minha imagem ficar parecendo que estou recusando clientes. Sou profissional, não posso fazer isso." Ele ergueu uma sobrancelha, como se a resposta fosse evidente. "Ossos do ofício", tentou argumentar, ainda que essa não fosse a verdade inteira. Ainda que soubesse que Nes conseguia perceber a mentira. Ele poderia ter ignorado. Poderia ter mandado outra pessoa atendê-la. Mas não fez. Porque uma parte dele, por menor que fosse, apreciava as raras e pontuais interações que eles tinham.
um estudo sobre construção e desenvolvimento ! man’s world , marina , capturam a rebeldia contra as expectativas sufocantes de seu pai , enquanto savages , marina , ecoa sua visão crítica sobre a , alta , sociedade a qual integra . em ancient dreams in a modern land e venus fly trap , marina , é reforçado o senso de não se contentar com os moldes esperados , de ser verdadeira a si mesma , de conquistar seu lugar por direito e jamais curvar-se ante a pressão externa . a vontade de ser livre , ser independente e a própria pessoa , libertando-se das amarras de um passado , e da necessidade de ser alguém que jamais foi , é refletida em edge of midnight , miley cyrus & stevie nicks e yellow flicker beat , lorde . a melancolia de sleeping sickness , city and colour , e the emptiness machine , linkin park , lembram o peso emocional que ela carrega , resultado das feridas invisíveis e antigas concessões , responsáveis pelo ceticismo e desconfiança . mas há também uma neslihan que luta , que não se curva em mad world , within temptation , e angry too , lola blanc . traduzem a fúria contida , a resistência diante das injustiças . entre os conflitos internos e o desejo por independência , invisible chains , lauren jauregui , tem o encaixe perfeito — ela ainda é capaz de sentir as correntes do passado , mas procura quebrá-las e sente que algo maior está reservado a ela . what’s wrong , pvris , traz uma reflexão de como ela se enxerga , apesar de tudo que tenta para mudar o seu redor , com parte do passado ainda a assombrando em borderline , tame impala . se o amor sempre lhe pareceu uma impossibilidade , la teoria del caos , nek , representa a dúvida que vem se instalando , seu medo de se permitir sentir , mesmo que por uma pessoa que a ela foi destinada . em seu cerne , ela é um paralelo entre controle , control , janet jackson e necessidade de liberdade , birdie , avril lavigne .
as demais músicas se encaixam nas perspectivas descritas , mais do mesmo que foi dito , ou futuros desenvolvimentos .
@khdpontos
𝒕𝒉𝒆 𝒂𝒄𝒕𝒊𝒗𝒊𝒔𝒕 ! neslihan gökçe , 29 , human rights lawyer . can you hear my heart beating like a hammer ?
66 posts