✉️ : ao menos quando eu arrancar seu ego com as minhas unhas , saberá que foi o instinto animalesco que instigou em mim
✉️ : aceito que perdi por conta do seu roubo
✉️ : perfeitamente contente em ser o sr. darcy para você então
✉️ : será que o buzzfeed está aceitando que animais criem testes agora ? vou voluntariar chaz e virginia , eles seriam capazes de montar um melhor do que esse que fez
✉️ : sonharei com você quando tiver a intenção de ter mais pesadelos do que o costume
✉️ : e camilo ? gentileza perder o meu número e só me contatar via carta
📲 [milo]: sou conhecido por instigar instintos animalescos mesmo
📲 [milo]: estou na página 54, mas vou ter que voltar algumas. as que eu li ontem, suficiente dizer que eu estava meio fora de mim
📲 [milo]: fechada, orgulhosa, pouco acessível…
📲 [milo]: mas justa não sei. pra isso, você teria que aceitar que perdeu
📲 [milo]: eu sou a elizabeth! fiz até um quiz na internet, então é um fato cientificamente comprovado
📲 [milo]: e vai ser a melhor noite da sua ;)
📲 [milo]: te mando mensagem depois com os detalhes da reserva, agora vou continuar lendo, sra darcy
📲 [milo]: sonhe comigo
o sarcasmo na voz grave era um alento ansiado , uma familiaridade que a fazia esboçar um sorriso . aaron acreditava no amor tanto quanto ela mesma — céticos do sentimento inexistente . em outra realidade , uma em que não fossem moldados por passados que os impediam de se permitirem liberdades emocionais , poderiam talvez formar um par perfeito , alcançando juntos o mais próximo do que aquela emoção inventada prometia . ao notar o olhar que ele lhe lançava de soslaio , permitiu-se um ínfimo tremor no canto dos lábios . mas ali a verdade era imutável , neslihan jamais consentiria em ser destino final dele . o melhor amigo de sua vida merecia felicidade plena , e ela era o exato oposto . em sua percepção , ninguém ali era digno dele , cujo coração trancafiado guardava uma bondade infinita . ele não era como ela , não precisava lutar para melhorar o mundo para compensar as máculas que fervilham dentro de si .
o fluxo dos pensamentos era interrompido pelo riso dele — e , mesmo sem ter se atentado às palavras que precederam o som , deixou que a própria risada o acompanhasse . a provocação era um bálsamo apreciado , e a descontração logo se refletia em sua expressão . ❝ nós dois sabemos que eu danço muito bem , só espero que você tenha praticado desde a última vez em que te arrastei para aquela festa que mudou o meu destino . ❞ a mulher possuía desenvoltura suficiente para se adaptar ao ritmo latino , e , mais do que isso , a sintonia entre os dois era natural . ação e reação . o desafio era instigante , mesmo que ela duvidasse que sairia dali uma exímia dançarina de salsa . ❝ por favor , se fosse real , todos sabem que seríamos o casal com maior sintonia entre todas as possibilidades . ❞ voltando-se para ele , ainda com o braço entrelaçado ao seu , apontou a manicure carmesim em uma concordância veemente . ❝ é exatamente isso . você sabe que me recuso a me envolver com qualquer um dessa cidade justamente por essa necessidade que todos têm de comentar e julgar cada passo . agora , com os nossos nomes na ponta da língua de cada um , ficou impossível encontrar um instante de sanidade . ❞ não ousaria mencionar olivia naquele momento — não enquanto a irritação ainda latejava em sua mente . a amiga transformara sua rotina em um caos absoluto com aquelas palavras proclamadas em público , e neslihan não queria imaginar a reação de aaron se trouxesse o detalhe à tona .
com o tom diminuindo , se inclinou levemente em direção a ele , na tentativa de captando a confidência que parecia prestes a ser dita . ❝ estou começando a achar que , na verdade , você realmente acredita nessa história de maldição e quer que eu seja o seu felizes para sempre. ❞ arquejando , revirou os olhos , ainda que algo se enraizasse em sua consciência . era um pensamento descartável , e , ainda assim , ali estava , persistente no fundo de sua mente . ao retornarem à repartição envidraçada , assentiu , as íris se conectando às dos professores , enquanto o calor da mão dele a reconfortava . aproximando-se , ofereceu um sorriso gracioso , levemente ensaiado , ao casal que os guiaria . ❝ espero que não sejamos os piores alunos que já tiveram a infelicidade de ensinar . ❞ o humor autodepreciativo era uma estratégia eficaz para desarmar expectativas . ❝ mas prometo que seremos os mais dedicados . nosso gênio aqui aprende tudo em uma velocidade surpreendente . ❞ afagando a palma de aaron que repousava em seu ombro , piscou para a professora , que sorriu em resposta e rapidamente os posicionou onde deveriam começar . desfazendo o meio abraço , buscou a canhota alheia , entrelaçando os dedos aos dele , enquanto deslizava a própria até o deltoide desenvolvido . ❝ preparado ? ❞
Aaron deixou escapar um som curto, algo entre um riso baixo e um suspiro. "Ah, claro. O tão conhecido destino das almas gêmeas platônicas." Sua voz carregava a ironia de sempre, mas não um deboche real. Ele entendia o que ela queria dizer, e talvez, em uma outra vida, acreditaria nessa possibilidade. Mas a verdade era que era difícil acreditar em qualquer tipo de amor. Ainda assim, amenizou a dureza na expressão e o próprio tom de voz. "Mas se fôssemos mesmo alma gêmea, eu não iria reclamar". Ele lançou um olhar lateral para Nes, absorvendo a tensão quase imperceptível que ela tentava esconder. Aaron sabia que aquele tipo de exposição a incomodava mais do que queria admitir. Sabia porque, apesar de toda a racionalidade que exalava, ela também evitava certos riscos como ele. Por isso, acrescentou em brincadeira, tentando arrancar um sorriso dela. "Sabe, consigo imaginar alguns sacrifícios piores". E ele riu, porque ambos sabiam que não seria sacrifício algum para Blackwell. Se pudesse passar o dia inteiro na companhia de Nessie, ele passaria. "Mas, escuta, se a gente for mesmo uma ironia cósmica, espero que a gente pelo menos consiga dançar decentemente. Seria um pouco humilhante descobrir que o universo quer que a gente fique juntos e a gente não acerta nenhum passo. Cadê nossa sintonia, dona Neslihan Gökçe?" A provocação foi acompanhada de um sorriso enviesado antes dele continuar, agora de forma mais despreocupada: "E sobre ser assustador... eu diria que é mais um incômodo do que um pavor real. Você sabe, a última coisa que eu quero é que a cidade inteira se sinta no direito de dar opinião sobre minha vida amorosa." Ele fez uma pausa, então completou com um tom mais baixo, quase como se estivesse concedendo algo: "Mas falando sério agora, se for para passar por isso com alguém, não me incomodo nem um pouco que seja com você." Ele colocou a mão nas costas dela, e lenta e gentilmente a empurrou mais para o centro da sala. "Agora vamos ver se o destino também acredita no nosso talento para a salsa." Acrescentou, decidindo passar um dos braços sobre os ombros dela para dar mais segurança e proteção à amiga.
toda aquela troca animosa entre eles gerava em si sentimentos que não se orgulhava . christopher era capaz de desmantelar a estrutura milimetricamente composta da sua civilidade , e não da forma como camilo o fazia com provocações incessantes . a reposta que o loiro obtinha era visceral , instintiva , acre em sua raiz e degenerada em extensão . não era natural a forma com que um simples olhar alheio era capaz de gerar tamanho asco , não para si . o motivo , no entanto , era nítido em suas convicções , e acreditava que nem mesmo para salvar a própria alma seria capaz de enxergá-lo por outro viés que não a ótica turva e enrijecida . os ombros curvavam-se novamente a cada palavra que escapava no tom plácido , como uma cobra enrolando contra o próprio centro ao preparar-se para um bote . os demônios que habitavam uma parte crua e descontrolada de si , acordando do estupor que ela insistia em colocá-los . afundando as unhas na bancada pegajosa até que o eco de dor fosse suficiente para perfurar a nuvem viperina que ofuscava seu senso , replicou o riso vazio , cansada .
❝ eu afirmei que você é uma fraude , não uma fraude incompetente . ❞ o gesto de indiferença com o corpo era despreocupado , não traindo inquietação alguma . ❝ você não faz ideia do que a sua vitória custou . não a mim , eu sou capaz de lidar com minhas frustrações , mas aos que perderam para um homem vil , corrupto e com influência suficiente para comprar juízes e jures e sair impune de um crime que nós dois sabemos que ele cometeu . ❞ a insinuação de que o caso havia sido ganho às custas de subornos era intencional , não que ela realmente acreditasse nas palavras . atribuía a derrota , em parte , ao impecável trabalho paterno de encobrir todo , e qualquer , vestígio de evidências concretas o bastante para montar um caso sólido , e , em parte , às próprias emoções em relação ao homem , nocivas e cegantes . suficientes para fazê-la pensar que algo capaz de abalá-lo fosse tão simples . ❝ mas não espero algo diferente vindo de você . ❞ não se importava com o motivo para o outro seguir às cegas o comando do próprio pai , sabia que era impossível ele defender indivíduos como kadir şahverdi e permanecer inocente .
com a citação pedante de filósofos , a morena apenas meneou os fios de maneira cética , a expressão fleumática cedendo sob a pressão de um sorriso sardônico . ❝ tudo isso e , ainda assim , não é capaz de responder a um simples questionamento que poderia ter sido ilustrado por uma criança . ❞ circulando os dedos pela borda no copo , agora contendo apenas uma fina fatia de laranja , era uma tentativa de refrear as reações físicas ante o humor que o enchia ao analisar suas palavras . ele chegava a conclusões fundadas na forma que ele escolhia observá-la , uma análoga à sua em relação a ele , ainda que a sua tivesse sido construída com base em precedentes e não meras suposições regadas por pura arrogância masculina .
❝ cuidado , christopher , parece que você está projetando o que acha de si mesmo em mim . o que , francamente , é fascinante . ❞ a fala alheia , de maneira sinistra , ecoava quase verbatim o que ela pensava sobre ele . ❝ não , não uma deusa , embora o pensamento seja lisonjeiro . apenas alguém que reconhece o que há de errado nesse mundo , e , felizmente , faz o que está ao seu alcance para remediar o possível . ❞ o sorriso era quase sacarino , embora mesclasse com a peçonha em sua língua . ❝ oh , não . eu sei que sou cheia de falhas , e entre a maior delas está ceder meu tempo e intelecto a discussões com pessoas como você . ❞ neslihan não julgava-se perfeita , pelo contrário . encontrava mais erros em si do que em qualquer outro ser humano , e flagelava-se por tal , não que ele jamais pudesse cogitar a possibilidade . já sua natureza controladora advinha da aceitação de sua forma maculada e imperfeita , era a única maneira que encontrara de conseguir garantir que o passado não se repetisse e se entregasse aos caprichos de uma psique fragilizada . o riso que escapava por entre os dentes era quase inaudível ao fixar as íris às dele . ❝ realmente quer falar sobre a minha moral ser duvidosa , quando você está envolvido até a cabeça com corporações que sugam a alma da humanidade ? ❞
era impressionante a maneira como ele provava a cada segundo as contradições que o regiam . como ele era capaz de conviver com tamanha hipocrisia o conduzindo , era algo que ela analisaria com admiração , não fosse preocupante . ❝ como você parece ter a certeza de que me escondo de tudo e todos é surpreendente . ❞ apoiando o queixo contra a palma destra que se sustentava no balcão , solevou uma das sobrancelhas em escárnio ao encará-lo completamente . ❝ você verdadeiramente acha que sabe quem eu sou , não acha ? ❞ cruzando uma perna sobre a outra , continuou . ❝ quem realmente me conhece , também , pasme , sabe de cada detalhe sobre mim . assim como qualquer outra pessoa . ou a sua prepotência é tão grande ao ponto de achar que somente você possui verdadeiros amigos ? ❞ reproduziu o tom que inferia a ausência dele em seu círculo de proximidade , e ela agradecia aos cosmos por tamanha clemência .
verdadeiramente exaurida , as palavras trocadas , aliadas à negatividade que a todo custo tentava conter em cada uma de suas sentenças e gestos calculados , a esgotavam . e apesar da calmaria que se apossava de seus músculos , as veias zuniam em sua têmpora com o esforço de manter-se sob o véu da polidez social . se pudesse , as mãos já estariam envoltas no pescoço alheio , sentindo o pulso vigoroso se esvair com os segundos . o pensamento era elucidante da real deterioração do seu estado mental e ao percebê-lo depositando as notas no balcão , puxou a própria carteira da bolsa , descruzando as pernas . deixando os euros flutuarem brevemente até encontrarem a madeira , os ofereceu ao bartender com um sorriso suave e uma piscadela de agradecimento . levantando-se , recolheu as peças descartadas que compunham seu guarda roupa , antes de ousar um último visual do rizzo . ❝ não é troco , chama-se gorjeta , e é uma prática comum na sociedade . ❞ deu as costas antes que ele o pudesse fazer primeiro . tomando profundas respirações , exclamou sem olhá-lo antes de desaparecer do campo de visão masculino. ❝ saúde ! que você continue exatamente como é , será garantia suficiente de que morrerá sozinho . ❞
@khdpontos
A palavra fraude repetia em sua mente como um eco distante, fazendo com que um riso sem qualquer traço de humor escapasse por seus lábios. Mal sabia ela que outra carreira era tudo o que ele quis desde quando aprendeu a ler. No entanto, ela não estava errada sobre sua capacidade de ler as pessoas, Christopher era realmente bom em reconhecer comportamentos e em perceber detalhes que na grande maioria das vezes escapavam dos olhos da grande maioria. Sua capacidade de se colocar tanto na pele dos clientes que recebia como na pele daqueles que enfrentaria em um tribunal era justamente o que o tornava um advogado acima da média e também o que fazia ele ter ainda mais raiva da profissão que exercia. Ser um advogado exigia que ele fosse imparcial e ser imparcial, na grande maioria das vezes, exigia ir contra tudo o que ele acreditava. Neslihan não sabia, mas vencê-la no tribunal não havia trazido nenhum bem-estar pessoal para Christopher que sabia muito bem o tipo de pessoa que o pai dela era. No entanto, seu fracasso implicava em uma perturbação da tênue linha de paz entre ele e o pai, o que por sua vez poderia resultar em estresses para a mãe, e isso era algo que ele não arriscaria, mesmo que significasse ter de lidar com a miséria causada pela vitória depois. Talvez se ela o tivesse chamado de hipócrita, ele ficaria mais tentado a concordar com ela.
"Bom, se você acredita que eu sou uma fraude, talvez devesse olhar para si mesma, já que sabemos quem acabou levando a melhor no último embate." A máscara de tranquilidade mantinha-se intacta, enquanto ele a ouvia recitar vários de seus autores favoritos. "Miserável, imperfeito, assim é o mundo e o mais perfeito de seus fenômenos, o homem." Citou Schopenhauer, um dos autores que costumava ler em momentos não muito bons, mas que o pessimismo do mesmo em relação a humanidade muitas vezes ia de encontro ao próprio estado de espírito. "O ser humano é como uma folha em branco." Agora foi a vez de Locke, que o fez sorrir brevemente. "Todos os seres humanos são falhos, incompletos, mas ainda sim dotados de capacidade cognitiva para trilhar o próprio caminho, escrever sua própria história e com um senso do que é certo e errado que, por n motivos, pode não ser igual para todos. Por isso que podem haver conhecimentos similares, mas que foram adquiridos e interpretados de diferentes formas." Disse em um tom neutro, como se toda a irritação do momento houvesse desaparecido. " Você assume que eu nunca senti o amor porquê você não o sentiu, o que de certa forma não me surpreende, já que é mais do que nítido o tipo de sentimentos que possuem lugar na sua vida." Pela primeira vez, os olhos encontraram os dela, notando ali o mesmo tipo de incômodo que sentia. Quase sorriu de satisfação. "Enfim, tudo isso pra te dizer que eu não saber dar uma descrição exata não é advento da ausência do amor na minha vida, e sim porque existem tantas formas e maneiras de falar sobre ele, que se torna impossível colocar tudo em uma única resposta." No fundo ele sabia que sua resposta havia sido um tanto quanto vaga, mas acreditava o suficiente no que havia dito para soar completamente convincente.
A risada que seguiu após a fala dela, dessa vez, foi mais alta e carregada de um divertimento genuíno. "Fala sério, você consegue se ouvir?" Perguntou, sua expressão claramente incrédula. "Pra alguém que se diz tão cheia de virtudes e boas intenções, bastou um instante para se provar a pessoa hipócrita e arrogante que você realmente é." Tornou a dar risada. "Moralmente inferiores a mim. " Christopher repetiu a fala dela entre risos. "E quem diabos você é pra se julgar superior a alguém? Uma deusa? Uma inteligência artificial? Você é tão cheia de falhas como qualquer pessoa, só que se enfia em um mundo onde finge não existem porque no fim das contas você é tão controladora que só de pensar em perder um pouco do controle sobre essa máscara de perfeição que veste com tanto orgulho já é mais do que suficiente para te deixar desesperada." Ele balançou a cabeça para os lados levemente. "Sua moral é tão duvidosa quanto a de qualquer outro ser humano, só difere o fato de que você não é capaz de aceitar isso."
Um riso soprado saiu por seus lábios e a mão tornou a circular o copo que mais uma vez foi de encontro aos lábios e só voltou para a mesa após ele sorver todo seu conteúdo. Achava cômico que ela tentasse atingi-lo o chamando de monstro, afinal, ele mesmo pensava coisas bem piores sobre si mesmo. Christopher gostava de se definir como uma pessoa consiente, que sabia suas qualidades e defeitos e lutava constantemente contras as partes ruins afim de atingir um amadurecimento pessoal. No entanto, as vezes era difícil se ater ao processo de melhora, especialmente quando já não sentia nem um respingo de paciência em si. "Diferentemente de você, eu não escondo quem eu sou de verdade, ao menos, as pessoas que realmente - a ênfase na palavra deixava claro que ela não participava desse grupo de pessoas - me conhecem, sabem tudo ao meu respeito." Ergueu levemente os ombros, como se a fala dela não o tivesse afetado em nada, mas na verdade sentia como se seu sangue estivesse borbulhando.
"E que ela te traga um pingo de humildade, pra ver se talvez um pouco dessa amargura desapareça." Respondeu de forma sarcástica enquanto negava que o atendendente colocasse mais uma dose. Sem perguntar o quanto havia gastado, colocou a mão do bolso de puxou algumas notas que carregava consigo. O valor posto sobre a mesa provavelmente cobria a conta dele, dela e de mais umas três pessoas sobre a bancada. "Pode ficar com o troco. Mais do que merecido por ter que suportar um certo tipo de clientela." Claro que não se referia apenas a Neslihan, mas não se alongaria. Em seguida, se preparava para deixar o local antes que a conversa entre os dois desse seguimento.
os corredores da prefeitura não eram estranhos à presença de neslihan , ainda menos desde que aceitara a proposta do prefeito . no entanto , raramente se demorava ali , a mente sempre em ebulição , projetada a centenas de quilômetros na solução de problemas , enquanto seu tempo era meticulosamente cronometrado . pouco lhe importava que até mesmo seus clientes externos parecessem ter recebido o memorando sobre sua suposta identidade como uma das encarnações históricas de khadel , ou que seu cotidiano estivesse , cada vez mais , entrelaçado ao absurdo daquela maldição .
havia finalizado uma rodada de reuniões com antecedência e acelerado a entrega dos relatórios iniciais sobre as medidas a serem implementadas pelo município , tudo para liberar os dias seguintes para a viagem que aaron a arrastava , sob a demanda insana de zafira . retornava agora com um imenso copo de americano em uma das mãos , enquanto a bolsa e a pasta repousavam firmemente na outra . foi ao acessar a entrada lateral , exclusiva aos funcionários , que avistou a silhueta vagamente familiar de catarina no saguão , debruçada sobre o mapa exposto . naquele instante , não estava particularmente inclinada a interagir com mais um dos nove envolvidos no incessante drama que a atordoava e , por isso , optou pelo caminho mais longo até o salão de conferências .
seus saltos ecoavam pelo mármore no compasso da inquietação enquanto levava um gole profundo do café , concentrando-se no amargor revigorante da bebida , quando , ao dobrar um dos corredores , foi subitamente surpreendida por ninguém menos que a própria catarina , surgindo como uma aparição . não fosse pelos reflexos aguçados por anos de tênis e hipismo , o café teria banhado ambas dos pés à cabeça .
refletindo o passo que a outra dera para trás , neslihan curvou levemente os lábios em um sorriso polido , ainda que ligeiramente insincero . ❝ sei scusata . ❞ aquiesceu . sua natureza sempre fora inclinada à desconfiança , e algo na presença da marino despertava uma cautela instintiva . rápido demais a morena havia se infiltrado sob as defesas do seu melhor amigo — algo que , além dela própria e olivia , ninguém jamais conseguira — e , embora tivesse testemunhado o brilho singular no olhar de aaron ao lado da outra no giardino , neslihan precisava tirar suas próprias conclusões antes de aceitá-la como alguém importante , ou influente , ao lado de , e decente o suficiente para , o blackwell .
o arqueamento discreto das sobrancelhas denunciava a breve diversão diante da justificativa de catarina . minutos antes , vira-a analisando a disposição do edifício , e embora soubesse que nem todos tinham sua capacidade de memorizar um mapa com um único olhar , uma faísca nos olhos castanhos alheios indicava o contrário . de todo modo , não era exatamente estratégico iniciar um jogo de hostilidade logo na primeira interação — principalmente quando se desejava conhecer alguém antes de definir uma postura definitiva . e bem , talvez aquela fosse uma oportunidade para desvendar o enigma , ou ameaça , que a outra representava .
❝ catarina , certo ? prazer , neslihan . ❞ desta vez , o sorriso ganhava um tom calculadamente mais amplo , ainda carregado de um divertimento . ❝ claro , posso acompanhá-la até lá . e se me disser o que procura , posso indicar por qual sessão começar . ❞ fez um gesto sutil na direção do corredor de onde viera , quando na mente surgiu uma provocação . interrompendo o próprio passo , virou-se ligeiramente e , apontando com o copo fumegante para a direção oposta à que daria acesso aos arquivos . ❝ por aqui . ❞ declarou , sem alterar o tom .
antes das missões com @neslihvns
prefeitura de khadel
Curiosidade e criatividade é inteligência se divertindo, Catarina havia lido uma vez e as palavras haviam ficado com ela. Não apenas por sua memória eidética, mas porque ela sempre foi uma criança curiosa, criativa e inteligente, e isso não apenas virou um trunfo e uma profissão no seu futuro, como foi responsável por muitas das suas confusões. Por isso, independente do conto da carrochinha que a cidade alimentava sobre os reencarnados, Cat estava legitimamente curiosa sobre quem eram aquelas pessoas que alguns realmente acreditavam que podiam ser e tinha quase certeza que isso a levaria a muitas confusões. Como uma boa investigadora, ela estava disposta a ir fundo no assunto, independente do caos que causaria.
Havia começado um arquivo com cada um daqueles desconhecidos que agora pareciam fazer parte da sua vida de alguma forma, mas precisava também de um sobre o passado, sobre a história, sobre aquelas pessoas que um dia existiram. Não sabia o quanto os outros sabiam, mas ela não gostava de se sentir como a única que não estava por dentro de uma piada interna. Ela sempre precisava saber. Não havia um mistério que Catarina não pudesse resolver (talvez apenas o da sua própria família).
Na pensione, Cat havia tirado tudo sobre da parede e começado a pregar algumas informações. Fotos achadas online, informaçõe passadas por terceiros. Tudo — tudo — deveria estar interconectado de alguma forma. Não era simplesmente estranho que alguém havia lhe contratado para Khadel e, do nada, ela estava na cachoeira com um grupo de estranhos? Que seu cordão parecia fazer referência a Khadel? La città senza amore. Bateu um marcador nos lábios, olhando os post-its presos na parede, antes de decidir que ela precisava de mais informações. Nem tudo estava na internet, então ela iria old school.
Cat entrou na prefeitura, procurando onde eles mantinha os arquivos. Acreditava que podia convencer na lábia alguma senhorinha que trabalha lá, mas não iria dispensar completamente a ideia de furtar os documentos se necessário. Deixaria o plano aberto a adaptações.
"Ops, scusa," disse dando um passo para trás ao quase dar de cara com outra pessoa enquanto virava uma curva. Lembrava da morena da cachoeira, mas também lembrava dela por alguns olhares atravessados quando ela estava com Aaron. Não sabia se era algum sentimento de possessão que a outra tinha com o homem, ou se a posessão na verdade era uma obsessão, e talvez ela fosse apaixonada pelo outro. Neslihan. Havia achado o nome na legenda da foto de um jornal, com um homem que ela imaginou ser o pai da outra. Catarina não era boba. Era o momento perfeito para fazer a forrasteira perdida, a donzela indefesa, e ganhar o favor da morena. "Você sabe onde ficam os arquivos? Acho que me perdi." Catarina sabia exatamente para onde estava indo. Havia memorizado o mapa que ficava no saguão, mas podia utilizar do tempo juntas para entender quem era a mulher.
( @khdpontos )
com os antebraços apoiados contra a pegajosa bancada , a pele despida do blazer e sobretudo se arrepiava contra o ar palpável do the loft. neslihan questionava se aquela realmente era uma boa opção para finalizar o dia que a exaurira , mas a certeza de negronis de proveniência questionável — dos quais já havia consumido o suficiente para justificar a postura desalinhada — firmava sua permanência por um interlúdio. o gravame psíquico arqueava os ombros , os nervos tilintantes suprimindo o que restava de paciência em seu âmago , e somente a noção de estar sozinha , ainda que cercada de pessoas , a fazia respirar pausadamente em tentativa de conter o ímpeto que se alastrava. não só pela sandice que parecia ter tomado khadel que o estado de humor mordaz da gökçe se manifestava , mas também pelo caso de severidade peculiar que havia chegado em suas mãos — a complexidade similar ao último , e único , litígio malsucedido de sua carreira. a memória escaldante , marcada não só pela vaidade ferida , mas pela sensibilidade do assunto e as figuras associadas , permanecia um peso em suas entranhas , a impregnando de amargura. por breves instantes almejou uma presença com quem pudesse exorcizar o sentimento , mas rapidamente rejeitou a noção como uma simples frivolidade. o fim de mais um negroni entre as palmas — frias ao toque , mas abrasadoras contra o delicado vidro — , preparava-se para adornar as feições com um breve sorriso e solicitar outra sequência do drink , quando os sons dispersos do bar e o inconfundível timbre da última pessoa que desejava encontrar , fosse naquele instante , ou em qualquer outro , se quisesse ser honesta , a alcançaram em um único impulso. todo o amargor que fervilhava em seu íntimo encontrou escape diante da voz que transbordava arrogância, como se a verdade fosse sua propriedade exclusiva , e ele , o único digno de desvendá-la. a risada carregada de escárnio escapou os lábios ainda tingidos do habitual carmesim antes mesmo que pudesse pensar em reprimi-la — não que fosse fazê-lo de qualquer forma. ❝ ah , claro... e você é a maior autoridade em amor que existe , não é mesmo , d'amato ? ❞ as orbes vagamente turvas atinham-se ao homem , a meros dois bancos de distância. a quanto tempo ele estava ali?
❝ com todas as suas brilhantes músicas e poesias verbais , como não ser. ❞ os lábios repuxavam-se sutilmente em ironia , o desprezo francamente exposto. ❝ conte-nos mais sobre o que é o amor , como é o sentimento , christopher ? é ser superficial e arrogante ? dar as costas a quem precisa ? ou fazer tudo o que é mandado somente para não ter que lidar com o sentimento de fracasso ? ❞ a cada questionamento o corpo inclinava em direção a ele , o olhar ácido corroendo a si mesma. ❝ é claro que a maldição é uma falácia , mas não porque ninguém — além de você , é claro , chris- ❞ o epíteto soava como um sibilo na língua feminina. ❝ sabe identificar o amor , mas pelo simples fato de que. o. amor. não. existe. ou você acha mesmo que se existisse o mundo seria como é ? ❞ considerando o assunto encerrado , o ar nocivo , até então aprisionado em seus pulmões , finalmente expelia. ajustando a postura com precisão , os olhos se fixaram na rodela de laranja que adornava o copo , como se fosse um ponto de contemplação existencial.
closed to @neslihvns, no bar.
Era final de tarde quando ele entrou no bar. Após um longo dia, repleto de comentários e da presença desnecessária do pai em seu escritório, a única coisa que Christopher conseguia pensar era que precisava de uma boa dose de whisky. Talvez mais de uma, isso se ele quisesse ter chances de acordar relativamente bem humorado no dia seguinte.
Acomodou-se em um dos bancos próximos da bancada e esperou pelo atendimento. Geralmente quando ia ali, Christopher exibia um sorriso simpático, que fazia com que as pessoas quisessem se aproximar dele naturalmente, mas naquele momento, seu esgotamento mental era tamanho que ele sequer era capaz de fingir normalidade. O garçom, que já o conhecia, tentou puxar assunto enquanto servia a dose costumeira de whisky, falando sobre as recentes histórias dos apaixonados, mas tudo o que conseguiu foi incomodá-lo mais.
"Você realmente acredita nessa história de maldição?" Questionou, o cenho franzido em uma clara expressão de julgamento. "Não te causa nem um pouco de estranhamento um monte de gente que se julgava incapaz de amar começar a amar após dois estranhos saírem gritando que estão apaixonados?" Os dedos se fecharam ao redor do copo que prontamente foi levado em direção aos lábios para que ele sorvesse um gole curto do líquido âmbar. "Isso não existe. Esse boom de histórias nada mais é do que um efeito manada. O amor sempre esteve por aí, e graças ao fato da maioria não saber como senti-lo, criou-se essa história boba pra ser usada como justificativa." Finalizou como se estivesse dizendo algo óbvio, não percebendo um rosto conhecido que estava próximo.
o prefeito de khadel se sente honrado em ter NESLIHAN ŞAHVERDI GÖKÇE como moradora de sua excêntrica cidadezinha. aos seus VINTE E NOVE anos , ela é bastante conhecida pelos vizinhos como A MILITANTE . dizem que ela se parece com HANDE ERÇEL , mas é apenas uma ADVOGADA DE DIREITOS HUMANOS & CONSULTORA DE COMPLIANCE . a ausência do amor em sua vida , deixou NES um pouco AUTODESTRUTIVA e CONDESCENDENTE , mas não lhe atormentou o suficiente para deixar de ser AUDACIOSA e EMPÁTICA . esperamos que ela encontre a sua alma gêmea, quebre a maldição da cidade e consiga ser feliz !
𝐂𝐇𝐀𝐑𝐀𝐂𝐓𝐄𝐑 𝐏𝐀𝐑𝐀𝐋𝐄𝐋𝐒 : vivian lau & dante russo ( king of wrath ) , monica geller ( friends ) , francesca rossi ( the kiss thief ) , lidia pöet ( la legge di lidia poët ) , ceylin erguvan & ilgaz kaya ( yargi ) , marissa cooper ( the o.c ) & amal alamuddin clooney !
apelidos : nesi , nes , hani ( para pouquíssimos muito próximos , ou que querem irritá-la , a sonoridade é bastante similar à de honey )
data de nascimento: 20 de novembro , 1995 !
orientação sexual : bisexual !
filiação : münevven şahverdi & kadir şahverdi !
altura : 1,75 cm !
cabelos : longos fios acastanhados que pendem em ondas naturais !
olhos : castanhos levemente avermelhados !
tatuagens : uma libélula logo abaixo da nuca , realizada em homenagem à münevven !
piercings : cinco perfurações adornam cada um dos lóbulos , sempre carregando delicadas joias prateadas !
animais de estimação: mark ruffalo ( cane corso resgatado de maus tratos ) , chaz bono & virginia woolf ( greyhounds resgatados de corridas ilegais ) , francis minor , henry blackwell & angela davis ( gatos srd resgatados de maus tratos ) , carmine , kırmızı & vermillion ( puros-sangues ingleses resgatados de corridas ) & gül ( um hanoveriano com o qual competia desde os quatorze anos ) !
educação: bacharelado em direito ( università degli studi di siena ) , mestrado em direitos humanos e direito internacional público ( oxford university ) & doutorado em ética e estudos legais ( wharton - distance learning , em andamento ) !
idiomas: italiano , inglês , turco , português , espanhol & francês !
❝ ela é uma tempestade em meio à calmaria da tradicional família rica em que cresceu. com uma postura firme e uma voz poderosa , ela defende suas crenças em um mundo que parece ignorá-las. vegetariana e feminista , não hesita em expor sua indignação contra o machismo e o preconceito que a cercam. sua coragem e determinação a tornam uma líder nata , embora isso a distancie dos familiares egoístas que só se importam com o dinheiro. com um coração generoso e uma mente crítica , ela é uma força da natureza , pronta para lutar por um mundo melhor , mesmo que isso signifique arrumar umas brigas por aí ! ❞
𝐓𝐖 - menção de distúrbios psicológicos e transtornos alimentares, menção de abuso e manipulação mental e emocional & negligência parental !
a poderosa família turca , uma fortuna proveniente da indústria têxtil de luxo datada de séculos e com fortes conexões italianas , um império de exportação de tecidos finos para finalidades da alta costura no mercado internacional . com alcance global às custas de práticas de exploração , evasão de impostos , corrupção , manipulação e crime organizado , há gerações os şahverdi utilizam khadel como esconderijo idílico . pilares da alta sociedade atemporal que apenas o dinheiro secular , e casamentos arranjados , são capazes de prover .
a par dos bastidores sórdidos do legado familiar , ainda na jovem infância foi despertado um senso de indignação , que só cresceria com o tempo . destacando-se pela inteligência brilhante , chegando a ser considerada um prodígio , o intelecto era visto como uma ameaça ao ideal da dama perfeita , constantemente pressionada a se moldar às expectativas centenárias de recatamento , etiqueta, submissão e requinte . a futura , e impecável , esposa quintessencial de algum herdeiro de família influente .
a pressão constante , aliada às manipulações e abusos mentais , não poderia deixar de gerar um profundo sentimento de inadequação. o desejo de ser a própria pessoa , conflitando com o peso das tradições , logo culminou em episódios severos de ansiedade e auto destruição , seguidos na adolescência por um diagnóstico preocupante de bulimia , e o que mais tarde , já quase em fase adulta , seria identificado como transtorno de personalidade limítrofe . tentativas falhas de retomar o controle de uma vida que a si nunca pertenceu .
a ruptura deu-se no ápice de insubordinação , quando — apresentada a um destino de perpetuação do vicioso ciclo de subserviência e menosprezo , sua mão prometida ao maior lance — ousou indagar sobre questões éticas ligadas aos negócios da família e recusar um destino de docilidade corrompida . a vergonha pública tamanha se tornou imperdoável , e as ruas de khadel foram apresentadas como única solução ao seu deserdamento . a figura materna , devastada, nada decisiva nas tentativas de reverter a situação .
a distância da presença vil e esmagadora provocou dependência de antigos laços de amizade, que se provaram verdadeiros . a ânsia por ser o que sempre sonhou maior do que a própria capacidade de lidar com as consequências . um intenso resvalo com a própria morte e a quase fatalidade de outrem em suas palmas , borderline como combustível e força motriz , levaram-na a um caminho , antes , completamente utópico . khadel já não era mais um refúgio , e no semblante afável e acolhedor de uma assistente social , encontrou passagem para um eu do futuro .
a mudança para siena não veio sem reveses , o sentimento de perseguição , e profunda angústia quase retomando os hábitos nocivos e a retornando aos braços de khadel . a familiaridade , ainda que tóxica , parecia reconfortante . lidia poët , no entanto não permitiria . a conexão com a figura histórica , fez do investimento de habilidades , valores e senso crítico , uma carreira estelar no direito , a ênfase em direitos humanos um complemento óbvio, e essencial .
a cidade natal não foi uma escolha imensamente desejada , ainda que o magnetismo fosse quase sufocante , mas necessária com a partida de münevven şahverdi . o legado materno maculado pelo segundo casamento paterno meros meses após as rosas serem dispostas sob o mogno selando o rosto , ainda jovem , marcado pela tortura psicológica decenal . o que restou de münevven — além de memórias oscilando entre afeto e mágoa — , uma herança exorbitante , os gökçe tão afluentes quanto os şahverdi , então repassada à herdeira de ambos . a fúria patriarcal era esperada , o senso de traição latente em uma face desalmada e cruel que teria reivindicado os últimos resquícios da falecida esposa , não fosse pelo retratado testamento .
a certeza de que vínculo romântico algum justificaria fim desonroso como o de münevven , antiga no consciente , se intensificou , enrijecendo ideias que se tornavam então um credo . reinvenção como chave , o sobrenome patriarcal já não era um que se identificava , adotou o gökçe materno como parte da sua nova identidade , e na posse de uma fortuna livre de amarras , o uso fez-se na construção do legado , e mudança , que gostaria de ver no mundo . ou ao menos em seu mundo .
a advocacia caiu como uma luva , encabeçando novas pesquisas e políticas , os dígitos imersos no pulso da transformação , tornando o epíteto “a militante” , para alguns derrogatório e para outros admirável , uma conotação pessoal para além da denotação . sinônimo de coragem , altruísmo e justiça , não apaga as cicatrizes , e sequelas , de um passado ainda presente . inflexível , reativa e condescendente , o exterior forte ainda apresenta fissuras sob o peso de tudo que perdeu , ou melhor , nunca teve . o pânico e impulsividade são batalhas diárias , exaustivas , incapazes de desfazer as amarras em uma psique incrivelmente vulnerável à rejeição , suscetível a dolorosa instabilidade , que luta por um mundo mais justo com o mesmo fervor que se destrói .
@khdpontos
FUBAR 1.05
look, i'm planted here, okay? what're you gonna do about it?
a percepção de mais uma batalha perdida contra os próprios impulsos fez seus músculos se enrijecerem , enquanto o estômago ardia como se atravessado por uma corrente elétrica , carregando-a tal como um fio exposto , vibrando em ira e vivacidade. seus pensamentos , tudo menos indulgentes , orbitavam em torno da repulsa por sua falha e na abominação que acreditava encarnar quando confrontada com as feridas emocionais que ele parecia despertar com sua mera presença. o problema é você. a frase ecoava em sua mente , arrastando-a para um passado , onde em sua infância os fios dourados se tornavam pretos , e uma figura imponente pairava sobre ela , sufocando-a em submissão mental. as lágrimas infantis , pequenas , mas intensas , alimentando golpes emocionais que ainda reverberavam. podia quase sentir o gosto salobre na garganta antes de sacudir a cabeça , dispersando as memórias cáusticas.
seus olhos , ferinos e borbulhando com animosidade , fixavam-se com uma hostilidade peculiarmente reservada à figura loira. com uma calma traiçoeira que contradizia a eletricidade em seus nervos , repousou as mãos sobre a bancada. ele não merecia o privilégio de vê-la vulnerável , nem a satisfação de perceber o ímpeto visceral de estrangulá-lo que lhe aflorava. observou-o virar-se com desdém calculado , os movimentos meticulosamente ensaiados , enquanto um sorriso enviesado , desprovido de calor , curvou seus lábios. sua voz emergiu doce , quase melíflua , mas carregada de um veneno que nenhum esforço fazia questão de mascarar. ❝ mais engraçado e fascinante é como você parece saber tanto sobre mim a ponto de formular uma análise tão detalhada. talvez devesse considerar uma carreira em psicologia , porque , no direito , sabemos a fraude que é. ❞ seu tom , cortante , ecoava em sarcasmo.
❝ não perguntei sobre como brontë considera o amor uma força poderosa , arrebatadora e destrutiva , uma tempestade que transcende as normas sociais e o bem-estar pessoal. nem sobre como shakespeare o define como complexo , imperfeito e intrínseco ao ser humano. muito menos sobre a visão de austen , que o interpreta como ações e não palavras , respeito mútuo e entendimento profundo. perguntei o que você considera ser o amor , christopher. ❞ os olhos semicerraram num gesto de calculada ironia. ❝ talvez tolstói seja mais do seu gosto. ele o descreve como o ato de fazer o bem , a essência da vida , a fundação do mundo , uma força universalmente reconhecível , impossível de não ser compreendida. irônico , não ? o completo oposto de sua ladainha vazia. então , diga-me , como essas citações sustentariam seu ponto falho ? ❞ as palavras eram carregadas com o desprezo acumulado — passado , presente e , inevitavelmente , futuro.
❝ descrever utopias é infinitamente mais fácil do que vivê-las. o 'amor' é um desejo fabricado pelos que buscam preencher o vazio deixado pela verdadeira natureza humana — crueldade , desprezo e obrigações que nos afastam do que realmente queremos. no fim, não passa de um conceito , uma ferramenta para subjugar em nome de algo inalcançável. ❞ as aspas eram acompanhadas por um olhar incisivo , que estudava as reações alheias como um predador observando sua presa. ❝ ou talvez seja fácil falar do amor em ficção , como tantos antes de nós fizeram. mas , você não pode descrevê-lo na realidade , na prática , d'amato , porque nunca o sentiu. ❞ girou o líquido rubi lentamente no copo entre seus dedos antes de elevá-lo , canalizando em cada movimento o desdém crescente.
❝ não sou eu quem se acha detentora de uma razão suprema para discursar sobre algo que nunca experimentei. essa é a sua arrogância , não a minha. ❞ abaixando o vidro com delicadeza , permitiu a distância entre eles ser preenchida pela tensão. ❝ e não coloco a minha verdade acima da de ninguém , exceto daqueles que são moralmente inferiores a mim. isso se chama ter princípios , deveria experimentar tê-los , talvez assim criasse algo próximo de uma consciência. ❞ era uma dança de palavras afiadas como navalhas , cada uma estrategicamente lançada para encontrar brechas na impecável fachada do adversário. por um instante ponderou continuar com o assunto ou simplesmente levantar-se e dar as costas , quando a menção do próprio fracasso despertou ódio em suas veias. neslihan encontraria a ferida de christopher e a faria sangrar como nunca antes. ❝ você é desprezível. quantas pessoas sabem do verdadeiro monstro que você é ? ou prefere se esconder atrás dessa empáfia calculada , apenas para evitar sufocar por tudo que reprime ? ❞ o gosto do negroni parecia menos amargo do que o que sua fala deixava no ar. não se tratava apenas do orgulho ferido , mas a memória viva de tudo que kadir şahverdi havia conquistado às custas de inocentes , auxiliado pelos homens rizzo , era como derramar ácido em sua alma , em seu senso. algo que o outro seria incapaz de desenvolver nem mesmo em mil vindas ao plano terreno.
a verdade era , de longe , a coisa mais vulnerável a se compartilhar com alguém , e a sua a corroía em pequenas e dolorosas doses , não permitiria que ele tivesse aquele tipo de influência sob si. ❝ um brinde à miséria , d’amato , que ela continue sendo a musa inspiradora da sua eterna arrogância. ❞ sorveu outro gole elegante , antes de repetir a saudação sem a mesma teatralidade. por uns instantes repousou o cenho sobre os dígitos sustentados pelos braços apoiados contra a bancada , como se apenas assim pudesse conter o caos em seu interior.
A princípio, a risada não havia chamado a atenção de Christopher, afinal, haviam pessoas demais ali e o alvo de riso podia estar em qualquer lugar, porém a voz que se fez audível no segundo seguinte, para seu total desprazer, era de alguém que ele conhecia bem o suficiente para saber que toda aquela ironia contida era dirigida a ele.
Devagar, se virou na direção dela, não fazendo a menor questão de esconder a expressão clara de descontentamento em seu rosto. "Só uma pessoa como você, Gokçe, para achar que alguém precisa ser autoridade para falar sobre algo que, no fim das contas, é inerente a cada ser humano." Sarcasmo se mesclava ao desprezo emoldurando cada palavra pronunciada em seu tom naturalmente calmo enquanto fixava seus olhos no rosto alheio. Para ele, não havia a menor possibilidade de alguém conseguir falar com exatidão sobre o sentimento, afinal, cada um o sentia de uma forma, por isso o amor era retratado de tantas formas diferentes em livros e canções. E era exatamente por isso que o considerava um sentimento tão bonito: pela sua forma de se adaptar.
O indicador circulava a circunferência do copo enquanto ele esperava, da forma mais calma possível, ela falar. Vez ou outra, arqueava a sobrancelha conforme a irônia parecia crescer em suas declarações. Quase soltou um palavrão ao vê-la ajustar a postura, como se ela o estivesse dispensando de uma conversa da qual ela sequer fazia parte a princípio. Em diferentes ocasiões, ele sequer se daria ao trabalho de respondê-la, mas naquele dia ele já havia engolido seu desconforto vezes o suficiente a ponto de se recusar a fazê-lo de novo. Em busca de manter os nervos em seus devidos lugar, Christopher levou o copo aos lábios, sorvendo o restante do whisky em um gole único, e logo após, gesticulou para que o garçom efetuasse a reposição de bebida. Ela podia considerar o assunto encerrado, mas ele não.
"Engraçado como um elogio vindo da pessoa errada é capaz de causar tanto desconforto, não acha?" Comentou em tom divertido, apenas porque sabia que iria incomoda-la ainda mais. Claro que ele sabia que os tais elogios haviam sido feitos de forma sarcástica, mas se recusava a cair na provocação. "Sabe, eu poderia citar trechos e mais trechos de renomados nomes da literatura, músicas de todos os estilos possíveis que falam sobre o amor, mas ainda assim você não iria compreender, porque no fim das contas, o problema não é na existência ou não do sentimento, o problema é você." Agradeceu o garçom com um aceno breve de cabeça ao ter o copo preenchido novamente. "Você que acredita ser tão dona da verdade que quando acha alguém que pensa e age diferente de você já se acha no pleno direito de se colocar como certa." Independente da irritação que sentia, Christopher manteve o tom ameno e os sentimentos devidamente camuflados em uma máscara de tranquilidade que já estava mais do que habituado em utilizar. "Fora que é extremamente engraçado você se achar no direito de falar sobre fracasso comigo, já que visivelmente fica remoendo o seu até hoje." Sim, aquele havia sido um golpe baixo, afinal. ele entendia perfeitamente a frustração que perder algo para uma figura paterna, mas naquele momento pouco importava. Ela até poderia ter sucesso em tornar o dia dele ainda mais miserável, mas ele não se sentiria miserável sozinho. "Cheers to our own misery!" Ergueu o copo como se estivessem brindando e mais uma vez o levou aos lábios, sorvendo um longo gole e então virou-se novamente para frente, decidido a não dirigir a palavra à ela novamente.
o riso veio fácil , dançando nas íris que tremeluziam com humor diante da ênfase teatral e da encenação exagerada da amiga . ❝ ah , não há necessidade de tanta possessividade , vita mia . sabe bem que , neste mundo inteiro , meus olhos pertencem apenas a você . ❞ se afastando sutilmente da mulher , manteve a conexão dos braços , antes de retornar a atenção à recepcionista com um tom conspiratório . ❝ ela anda um tanto territorialista com esses rumores recentes de que somos duas das reencarnadas e precisamos encontrar nossas almas gêmeas… quando , na verdade , já temos uma à outra . ❞ com uma piscadela divertida , voltou a se acomodar ao lado da giordano . ❝ seu desejo hoje é uma ordem . dois dos seus melhores massagiatores , um para mim e outro para a mulher mais deslumbrante da minha vida . ❞ os roupões felpudos , tão macios quanto nuvens , surgiram quase como por encanto, os tomando em mãos , ofereceu um à mais velha antes de se dirigirem aos biombos . assim que envolta na suavidade do roupão , neslihan já podia sentir os nódulos em seus músculos começarem a se desfazer apenas pela confluência dos óleos essenciais que pairava no ar . ao deixar a repartição com uma longa e relaxante respiração , seus olhos captaram de imediato as duas figuras masculinas que as aguardavam . buscando pelo olhar de graziella , encontrou nele a mesma expressão de apreciação estampada em seu próprio rosto. ❝ você não poderia ter escolhido melhor . ❞ com uma risada baixa e satisfeita , seguiu até a maca , deslizando o roupão até a cintura ao se cobrir com o lençol . ❝ os sacrifícios que não faço por você , dolcezza . ❞
Olhar para os dois em sua cama, lhe dava uma sensação inexplicável de paz, como se tudo estivesse certo somente com ambos ali. Os braços cruzaram debaixo do peito como se estivesse avaliando suas opções. Não queria passar o dia longe do filho, mas não podia negar que um dia no spa seria ótimo com os últimos estresses que andava tendo. Com o salto da bota, se aproximou da cama, puxando Romeo pelas pernas até a borda do colchão e se agachou na frente dele, sentindo as mãoszinhas tocarem seu rosto enquanto as dela abraçavam a cintura pequena. "Eu vou até o studio com a tia Nes e você espera a gente aqui, tudo bem?" Viu ele assentir empolgado, fazendo um carinho pequeno em seu rosto. " 'Vo fazer um desenho pra você, mamma." A vozinha de criança respondeu, fazendo Graziella se inclinar para deixar um beijo demorado no meio da testa alheia, sentindo toda aquela mistura de sentimentos negativos e positivos quando se tratava do filho. Ficou de pé rapidamente, levando ele até a Ginevra e explicando sua agenda do dia e então virou para a melhor amiga. "Agora sou toda sua."
Já no spa, não hesitou em entrelaçar os braços com a amiga a fim de entrarem no espaço. A pequena menção a Olivia fez com que a italiana revirasse os olhos mas resolveu não comentar, afinal, era seu dia e não queria perder tempo com assuntos - e pessoas - irrelevantes em sua vida. A risada chegou até seus lábios com as palavras de Neslihan, mas segurou ao olhar para seu encontro, por um tempo antes de responder. "Quero um profissional, por favor." Por mais que fosse divertido fazer massagem na amiga, Graziella tinha certeza não saberia fazer igual a quem realmente trabalha com aquilo. "Homens, se possível. Não quero mulheres tocando no corpo dela." Disse olhando para Nes, deixando que todo o ciúme teatral transparecesse nos olhos verdes. Se era para brincar, que fosse fazendo direito.
"My father tells me that I'm too loud but he hasn't yet figured out that I inherited it from him, that some traits were passed down to his daughters even though he wanted to see them in sons. Had I been a boy, he would've told me to shout louder, that the world wants to hear what man has to say."
𝒕𝒉𝒆 𝒂𝒄𝒕𝒊𝒗𝒊𝒔𝒕 ! neslihan gökçe , 29 , human rights lawyer . can you hear my heart beating like a hammer ?
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