por mais que tudo em khadel parecesse mergulhado no caos , a gökçe não podia simplesmente permitir que o restante do mundo cedesse ao mesmo estado de histeria . os olhos ardiam em cansaço , resultado de um dia extenuante de reuniões consecutivas — começando na prefeitura e terminando com a tarde , e noite , em sua alma mater . respirar o ar expansivo de siena , que um dia chamara de lar , trazia um misto de familiaridade e sufoco , como se ao deixar a atmosfera de khadel fosse posto um fardo em seus pulmões , comprimindo-os e corroendo o tecido aos poucos . àquela altura , o junior elettrica parecia quase capaz de dirigir sozinha no trajeto entre as duas cidades e ela mal notava o velocímetro ultrapassar os limites italianos , mas também não se importava . a estrada , vazia e envolta em um silêncio inquietante , a recordava de um cenário de thriller , e o isolamento contribuía para a tensão palpável de pairava no ar .
foi então que um borrão de luz na mesma faixa que percorria capturou seu olhar , trazendo uma pontada de consternação . movendo o carro para o acostamento , o motor elétrico permanecia tão silencioso quanto a noite . só quando a figura encoberta pela escuridão virou-se em sua direção com agressividade perceptível , a lanterna revelando uma arma no aperto firme de mãos pálidas , que neslihan deu-se conta da extensão do risco que corria . sozinha , à beira de uma estrada , à noite . deveria ter ponderado melhor , e atribuía a falta de discernimento ao cansaço esmagador e os últimos dias que pesavam sobre cada terminação nervosa de seu corpo , ainda que adrenalina começasse a entrar em suas veias . mas então o tom feminino alcançou seus tímpanos , e os ombros relaxaram suavemente . ❝ bom , eu estava prestes a oferecer ajuda , mas se tem tudo sob controle , posso simplesmente seguir meu caminho... ? ❞ semicerrou as pálpebras contra o incômodo causado pela claridade do celular , que parecia perfurar sua retina . então a silhueta tornou-se reconhecível . o simples vislumbre foi suficiente para trazer à tona a memória da revelação da maldita cachoeira que tentava suprimir , um arrepio resvalando em sua espinha . ❝ ei , maxine . não percebi que era você... e então ? ❞ com o polegar indicou o próprio veículo , enquanto uma das palmas tentavam conter o brilho excessivo de incomodar ainda mais os olhos .
@khdpontos
max voltava do hospital em destino a khadel para descansar do dia tão caótico e cansativo, seus pés pareciam brasas de tão quentes e latejantes, mas, o que estava lhe incomodando mais era a fome. por um momento lembrou-se de que não tinha uma unidade de pão em sua casa para poder comer e precisaria ir até algum local para comer. o caminho era tranquilo, uma estrada bem iluminada e familiar, mesmo se mudando a pouco tempo e ficando poucos anos de sua infancia por lá ela sentia bastante familiariedade. ouvia uma playlist de relaxamento quando seu carro começou a engasgar até parar, max girou a chave do carro algumas vezes pisando na embreagem e o mesmo nem sinal. a morena desceu do carro, já havia desistido dos seus sapatos e seus pés tocavam o chão. ao abrir o capô para verificar se havia algo de errado, suspeitou que pudesse ser algo relacionado com a bateria e torcia para não ser o motor. com muita dificuldade em enxergar, max tinha a lanterna de seu celular ligada e em poucos segundos ouvira passos proximos em sua direção, ela virou-se para trás sacando da chave de seu carro, destampando um canivete disfarçado pelo chaveiro. "o que você quer?" levantou seu celular para iluminar o local e aliviou-se por ser um rosto conhecido.
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* aqui se encontram algumas curiosidades e pontos importantes de neslihan para melhor compreensão do seu todo !
além da causa animal e feminista , advoca por questões de raça , gênero e sexualidade, neurodivergência , refugiados e meio-ambiente !
por mais que deseje que o dia tenha 72 horas para conseguir realizar tudo o que precisa , ainda não descobriu o segredo para o tempo , e por isso é extremamente meticulosa com horários e compromissos !
é vegetariana desde tenros seis anos, quando presenciou cozinheiros abaterem inúmeros animais inofensivos em preparação para uma das muitas suntuosas festas que o pai promovia . desde então não ingeriu sequer uma lasanha que não fosse de vegetais . seu objetivo é se tornar vegana em algum momento da vida , mas é uma ávida consumidora de tiramisu !
voluntária na ong animal de khadel , já adotou após o resgate , 3 cachorros , 2 gatos e 4 cavalos de corrida que mantém muito bem acomodados na enorme propriedade herdada da mãe !
da herança , manteve em seu nome quase que somente o lar da infância materna , intocado pelo amargor paterno , a grande parte restante dividiu em doações para causas necessitadas e sustenta-se com a própria profissão !
recentemente foi contratada como consultora de compliance para a prefeitura de khadel !
apesar da paixão correr em seu sangue por tudo o que faz , a mera menção de laços afetivos para além dos de amizade , e os estritamente físicos , é capaz de causar intensa reação alérgica . metaforicamente , claro . literalmente… é capaz de agressão física !
não significa no entanto que tem frieza em suas veias , não . consegue ser extremamente calorosa quando... estimulada !
o diagnóstico de tpb não é um de fácil aceitação e ainda que tenha recebido tratamento formal antes de ingressar na faculdade , é relapsa e permite que pressões do passado , e presente , a consumam . é mais comum vê-la agindo de forma impulsiva do que não , ainda mais quando interligada aos seus ideais , e em constante estado de auto destruição !
lealdade é algo que construiu ao longo dos anos como um traço da personalidade além dos seus moldes , e quando afeiçoa-se , o improvável é o limite !
progressista em sua visão de mundo e senso social , em contrapartida , é incrivelmente inflexível após tomar decisões acerca do caráter alheio. dificilmente sua opinião é afetada e acha que suas convicções estão um pouco acima do que as de qualquer outra pessoa !
rancor é um sentimento estranho , postula a maioria de suas reações com certa efemeridade . procura guardar o pior de si aos seus oponentes profissionais e aos que verdadeiramente merecem a totalidade do seu lado negativo . volátil , não é difícil vê-la esbravejando com alguém próximo de si para dali duas horas estar se desmanchando em risos com o mesmo !
o desejo pela independência emocional foi tão grande , que hoje , fecha-se para a maioria dos sentimentos além da superfície . mas apesar de tal máscara , a parte de si que ainda necessita de constantes afirmações e validações é a sua parte que mais detesta , mais do que todas as outras juntas !
seu passado com um transtorno alimentar , ao contrário do tpb , a faz muito disciplinada em relação à alimentação , mas uma porção de lokum e dois , ou dez , pedaços de baklava são a sua ruína . o paladar doce é ao mesmo tempo uma benção e uma maldição !
consequência dos problemas com a imagem corporal , é assídua em seus treinos de tênis , o esporte uma excelente maneira de consumir toda a energia agressiva e caótica sobressalente de seu corpo e uma forma de manter o equilíbrio entre o físico e mental !
também resquício da infância e adolescência , traz o amor pelo hipismo , e cavalos , incorporado no seu dia a dia !
possui uma extensa coleção de miniaturas de cavalos nos mais diversos materiais , desde cristal à ouro e mármore . são presentes de amigos , de sua mãe , souvenirs de suas viagens e recordações de pessoas do mundo inteiro com quem se conectou por meio do ativismo !
acredita no espiritual mais do que no divino , cética quanto a esse , em vidas após a morte e energias !
o assunto maldição é um tanto sensível . não se apega à noção de que uma cidade tenha sido amaldiçoada a desamar , uma vez que a concepção de amor é tão cômica quanto a existência de magia . a justificativa de tamanha miséria em relações românticas , para si , é simples : a natureza humana é intrinsecamente cruel , não amar é a tarefa mais fácil que alguém pode exercer !
tem um dedo verde para a maioria das plantas , legumes e vegetais e é a responsável por cultivar a impressionante horta e jardins espalhados pelos afastados acres onde sua residência se localiza !
a tatuagem que leva logo abaixo da nuca foi realizada em uma noite particularmente difícil , após o abuso de substâncias lícitas e uma difícil discursão que trouxe à tona antigas , mas recorrentes , feridas quanto à sua relação com a mãe . a libélula com asas translúcidas e peroladas , uma verdadeira obra de arte , que adorna sua dorsal é homenagem à münevven . de beleza etérea , a recordou da mais velha , assim como a fragilidade resiliente , análoga à mesma . é símbolo também de liberdade , para recordá-la de que agora a mulher está eternamente livre !
@khdpontos
antes mesmo que os primeiros raios solares rasgassem o véu da madrugada , neslihan já percorria o caminho até o pequeno complexo esportivo , a raquete equilibrada entre os dedos . o aroma fresco da grama recém aparada , meticulosamente ajustada aos padrões internacionais , impregnava seus sentidos , oferecendo um instante fugaz de alívio . mas nem mesmo aquele perfume familiar conseguia dissipar por completo a sensação de exaustão latente , o peso dos dias recentes transformando-a em um animal ferido , perdido na escuridão de uma floresta desconhecida . retirou o cardigã , sentindo o arrepio escalar-lhe os braços sob a brisa cortante da alvorada , após depositar a bolsa junto à rede — um ritual já automático — , com as raquetes extras . por vezes , dependendo do humor , estourava as cordas de poliamida com a força desmedida de seus golpes , como se o próprio equipamento carregasse consigo a frustração acumulada , então sempre trazia as excedentes . com os cabelos firmemente presos no alto da cabeça e os nervos tensionados , não desperdiçou tempo com aquecimentos triviais . a corrida ao redor da villa , antes de ceder à tentação de pegar o carro e dirigir até ali , fora mais do que suficiente para preparar os músculos . seu único objetivo era derrotar a máquina lançadora — um adversário silencioso , preciso e incansável . e assim , a mulher se perdia nos movimentos meticulosamente calculados , os golpes ressoando contra as cordas tensionadas da raquete , canalizando a exasperação que lhe queimava por dentro . o tempo se tornava irrelevante , a única certeza era o alívio sutil que se insinuava em seus ombros , a rigidez gradualmente cedendo enquanto sua mente se libertava das inquietações que , dia após dia , pareciam se entranhar mais fundo em seu consciente .
um sorriso despontou quando sua memória a transportou para o instante em que segurou uma raquete pela primeira vez — uma das muitas exigências paternas . dentre todas , talvez aquela fosse uma das poucas que ainda preservava com apreço , mesmo que , na época , as cordas fossem de tripa natural , um material que agora se recusava a sequer ponderar . o cenho se franziu ao recordar os treinos extenuantes , excessivos para uma criança sem qualquer ambição profissional no esporte , mas menos que a perfeição jamais fora aceito sob o teto dos şahverdi , então se tornou a norma . a respiração adquiriu uma cadência melancólica ao lembrar dos dias em que tinha companhia – uma companhia que ia além da miríade de treinadores cuja simples presença a fazia desejar nunca mais encará-los . matteo surgiu em sua mente como um relâmpago — um vestígio confuso em sua mente com a forma como tudo havia se desfeito , em meio ao caos infernal no qual ela era a personagem principal .
com o suor escorrendo por cada poro de sua pele , sacudiu as memórias com um último golpe certeiro na bola final lançada pela máquina . levando as mãos à cintura , puxou o ar límpido da manhã para dentro dos pulmões exaustos , contando mentalmente até dez . na última expiração , foi arrancada de seu momento de trégua por uma voz masculina . por um breve instante , sentiu a alma sair do corpo , como se sua própria lembrança tivesse evocado matteo em carne e osso à sua frente . com a destra pousada sobre o coração acelerado , inclinou levemente o quadril e esboçou um sorriso contido — um reflexo de algo reprimido há muito tempo , ou talvez apenas até o momento em que todos foram tragados pelo mistério que pairava sobre khadel como um véu espectral . quando sua rotina meticulosamente planejada começou a ruir . ❝ ei , teo . ❞ o apelido escapava com naturalidade , como se treze anos não tivessem se esgueirado entre eles sem quase nenhuma palavra trocada . enquanto caminhava até a bolsa descartada , procurando pela garrafa , seus olhos captaram um detalhe que fez o pequeno sorriso persistir , a raquete que pendia das mãos dele , os adesivos no cabo denunciando sua familiaridade . ❝ nunca te vi por aqui antes… mas suponho que nossos horários se diferem na maior parte dos dias . ❞ ergueu uma sobrancelha , indicando com o olhar o objeto desgastado entre os dedos masculinos . ❝ veio jogar sozinho ou aceita companhia ? ❞ a pergunta carregava o mesmo tom melancólico das lembranças que há pouco enevoaram seus pensamentos . ❝ eu poderia usar um adversário mais desafiador . ❞
Starter fechado para @neslihvns
Quadra de tênis
Sua rotina de exercícios focava em musculação e atividades que ainda poderiam ser feitas na Casa Comune, como kickboxing, Muay Thai ou boxe. Porém, vez ou outra, Matteo gostava de se aventurar em outros esportes. Fosse para causar um pequeno desconforto no seu corpo ao experimentar algo novo, fosse para quebrar um pouco a monotonia do conhecido, ele achava que colocar coisas diferentes na sua rotina lhe traria algum benefício. Era por isso que, naquela manhã, ele optou pelo tênis. Pegou uma raquete esquecida dentro da garagem abarrotada de quinquilharias e logo a onda de memórias associadas ao objeto veio em sua mente.
Ele tinha treze anos e pegou uma raquete no quarto de Neslihan. Ela estava tentando ensiná-lo algo de matemática, mas a mente inquieta de Matteo não conseguia focar nas equações. Ele não entendia porque as coisas lhe eram tão mais difíceis quanto para os seus colegas, mas os números, letras e formas pareciam dançar na folha, causando sua própria inquietação. Ele perguntou para ela o que era aquilo e, mesmo entre um olhar autoritário que dizia que ele devia estar prestando atenção em outra coisa, ela explicou para ele o jogo.
Aos dezesseis anos foi provavelmente quando jogaram o último jogo juntos. Cada dia mais suas lições ficavam espaçadas. Algumas vezes interrompidas por causa da nova rotina física de Matteo, outros dias por algum compromisso que Neslihan possuia. Parecia que suas agendas nunca alinhavam, tão raro quanto um completo alinhamento planetário e Matteo só sabia responder com a única expressão externa que conseguia oferecer aos outros: indiferença. Não podia ir atrás dela. Ele nem sabia o que havia acontecido para o afastamento. Depois daquele dia nunca mais se encontraram intencionalmente dentro ou fora da quadra.
Tinha vinte anos e havia jogado algumas vezes aleatórias, ainda com a raquete emprestada que nunca devolveu. Algumas objetos ficavam perdidos pelo contato entre aqueles que os manipulavam e esse era um dos casos. Talvez nunca voltaria ao verdadeiro dono. Parou de jogar por muito tempo.
Agora, segurando a raquete, ele percebia o quanto ela parecia pequena na sua mão e muito mais velha que lembrava. Talvez fosse a camada de poeira que lhe cobria, depois de longos anos em desuso. Ele girou na mão e decidiu levá-la, mais pelo valor sentimental do que pela praticidade. Provavelmente teria que alugar uma nova para poder jogar. Mas algo de tudo que estava acontecendo, a ligação do grupo mais improvável que poderia ser colocado junto em Khadel, fazia com que ele pensasse mais sobre as suas conexões, ou a falta delas. No fundo Matteo sabia que a indiferença com que levava a vida seria sua ruína. Sozinho, desconfiado e provavelmente rabugento. Era assim que terminaria. Não poderia culpar nenhuma maldição pelo desamor, ele mesmo afastava qualquer um que se atrevesse a tentar estar na sua vida.
Como se evocasse o fantasma de Neslihan com aquela raquete, ele avistou a mulher numa das quadras assim que chegou no lugar. Era cedo, talvez cedo demais, para agir indiferente e fingir que não havia lhe visto. Eram as únicas almas ali naquele horário, tirando o jovem na entrada que havia o recebido. Matteo respirou fundo e foi em direção à mulher, tentando pensar em algo para dizer, mas tudo parecia ficar àquem do desejável. "Ei," cumprimentou, soando patético na sua cabeça, mesmo que nada realmente escorrece ao exterior.
( @khdpontos )
"My father tells me that I'm too loud but he hasn't yet figured out that I inherited it from him, that some traits were passed down to his daughters even though he wanted to see them in sons. Had I been a boy, he would've told me to shout louder, that the world wants to hear what man has to say."
✉️ : se você diz... mas meus olhos sabem exatamente o que viram ✉️ : bom , podia fazer como eu faço e sair dessa cidade vez ou outra ✉️ : iria te fazer um bem absurdo , garanto ✉️ : uhm , talvez porque você estava em um encontro e parecia estar aproveitando ? ✉️ : e eu também estava meio que ocupada tentando lidar com camilo ✉️ : roupas sociais ? absolutamente não . mas se não foi você que escolheu... ✉️ : e não fui eu que te ajudei... ✉️ : quem foi ? ✉️ : como assim que tipo de aposta ? apostas são apostas , ele tinha direito a escolher o que quisesse ✉️ : e felizmente escolheu apenas um jantar ✉️ : aplaudi-lo por qual motivo exatamente ? ✉️ : francamente , eu esperava mais da sua confiança em mim , aaron ✉️ : mas claro que você ficaria impressionado com ele , homens sempre apoiam homens afinal , não é mesmo ?
📲 [aaron]: primeiro de tudo, sem exagero. eu não estava sorrindo abertamente.
📲 [aaron]: eu só não posso fazer nada se quase nunca tem gente nova nessa cidade.
📲 [aaron]: até pq, não sei se você se lembra, mas eu trabalho em um bar. é minha obrigação saber as coisas.
📲 [aaron]: segundo, se você me viu, por que diabos não falou nada?
📲 [aaron]: e "incrível em roupas sociais"? agora eu tô ofendido. você não acha que eu consigo escolher uma boa roupa sozinho?
📲 [aaron]: nes, nes, nes...
📲 [aaron]: eu percebi aqui o q você está fazendo. não tente mudar de assunto. Ricci ganhou uma aposta? que tipo de aposta? e por que você aceitou isso?
📲 [aaron]: sério, nes. não acredito que você caiu em uma do Milo...infelizmente, vou ter que aplaudir ele por isso
entre o apelido abominado e a malícia estampada na expressão alheia , neslihan sentiu as íris faiscarem em desafio , um sorriso calculado o suficiente curvando os lábios. o epíteto era uma das formas mais certeiras de provocação – e camilo sabia disso. desde o instante em que ela cometera o deslize de demonstrar seu desgosto pela abreviação , ele parecia se deliciar em usá-lo com prazer sádico. era claro que ele queria irritá-la , até onde , ainda não havia decidido , e havia uma ínfima parte de si que ansiava por descobrir o limite entre ambos. nada que meros segundos na presença do mais velho não desfizesse , transformando qualquer semblante de curiosidade em uma nuvem de irritação. ❝ ah , carissimo , você ainda não sabe do que eu sou capaz ? ❞ o tom de sua voz era uma provocação tão evidente quanto as palavras escolhidas por ele momentos antes. era quase irresistível desafiá-lo , como se confrontar o ego do ricci fosse tão instintivo quanto respirar.
as orbes estreitaram ao acompanhar o percurso do olhar dele, sentindo-se exposta , estudada , como se pudesse ser decifrada com uma mera observação. impossível , homens como ele tinham um limiar de atenção tão diminuto quanto suas intenções eram previsíveis – a busca por troféus para massagearem o próprio ego. ainda assim , a marca que os castanhos deixavam em sua pele era inegável. sustentando a atenção masculina com uma mistura de desdém e diversão , ao contrário do que ele pudesse imaginar , com a destreza de uma amazona treinada desde a infância , ela já havia assumido as rédeas da situação. aproximou-se um passo , o suficiente para que o perfume feminino e a colônia masculina se mesclassem entre eles , a voz baixa em um tom quase confidencial. ❝ você parece confundir a minha atenção com um prêmio , mas não se engane — ao final do seu espetáculo , quem aquecerá minha cama não será você. ❞ outro passo à frente , as pernas quase se tocando , pegou uma das doses recém entregues , resvalando os lábios no vidro em um gesto que incorporava desafio. sorveu o líquido âmbar em um único gole , um sorriso curvando as feições.
❝ dedicar uma música ao seu fracasso agora me parece previsível demais. talvez eu deva escolher algo mais apropriado à sua natureza… ❞ o olhar percorreu-o lentamente , de cima a baixo , detendo-se como se em deliberação. ❝ you're so vain me soa como uma boa opção. ou , quem sabe , no scrubs. quase perfeita. ❞ inclinou o torso até que seus rostos estivessem a meros centímetros , suas respirações em uníssono pelo breve momento enquanto depositava o copo vazio com um tilintar contra a mesa. endireitou a postura com uma piscadela , lançando um beijo para matteo antes de prender os longos fios em um gesto casual. com confiança , marca da sua presença , virou-se em direção ao palco improvisado. ❝ para você , ricci ! espero que preste bastante atenção , porque não tenho o costume de repetir performances. ❞
os primeiros acordes de i'm that chick preencheram o espaço. a voz da gökçe , suave e provocativa , ecoou junto à melodia de mariah carey , capturando cada olhar presente. soltando os cabelos , antes presos estrategicamente , lançou-os para trás em um gesto que parecia uma declaração de êxtase. enquanto os saltos marcavam o compasso , aproximou-se de matteo , a destra escorregando pelo peitoral alheio , girando os quadris no ritmo da música. com um clique do grave , encarou a audiência , mantendo contato visual , um sorriso ladino sustentando cada passo. ensaiado pelo instinto , com os dígitos enredados na camiseta do mais novo , puxou-o para o palco , envolvendo os braços musculosos em sua cintura. usou-o como apoio para oscilar o corpo , acompanhando o groove com perfeição enquanto proclamava que seu sabor era tão doce quanto o de sorvete. os movimentos , precisos e calculados , incendiavam , e o loiro , finalmente rompendo seu estado de transe , ajustou as mãos ao longo do espaço entre costelas e quadril , encaixando beijos leves no pescoço feminino. os gestos , que normalmente a inflamariam , passaram despercebidos. o que fazia seu sangue vibrar era o triunfo , cada olhar fixo em si como um feitiço , e ela , o antídoto para a monotonia.
no último refrão , seus lábios enunciaram as palavras com clareza , como se fossem exclusivamente direcionadas a camilo. com o grave final , permitiu que o corpo fosse envolvido pela figura loira , as íris fixas às do moreno. o som da própria respiração e do sangue bombeando em seus tímpanos abafando a reação dos aplausos. com elegância desvencilhou-se de matteo , retornando à mesa originalmente para dois , a terceira cadeira uma intrusão em dissonância , com um sorriso doce desenhando as linhas femininas. ❝ não importa o quão encantadora você ache que sua teia é , algumas presas sabem exatamente onde estão pisando. ❞ o sussurro malicioso veio tão próximo que o calor da respiração de ambos se encontrou antes que ela recuasse. deixou escapar uma risada baixa antes de sentar-se novamente , um martini aparecendo como por encanto em suas palmas , refletindo as luzes do ambiente. brincando com o líquido , cruzou as pernas com um movimento deliberado. ❝ então , caro , sua curiosidade está saciada ou devo continuar ? como disse , é raro me repetir , mas se matteo estiver disposto , posso muito bem roubar a cena novamente enquanto você tenta acompanhar. ❞ movendo a taça para a direita , entrelaçou os dedos do loiro entre seus joelhos cruzados , um gesto em possessividade e provocação.
caso camilo se dispusesse a frequentar um terapeuta, provavelmente o escutaria racionalizar alguns mecanismos de defesa que o homem desenvolvera ao decorrer da vida, bem como ciclos viciosos aos quais ele estava preso. neslihan, para azar da própria moça, encaixava perfeitamente no tipo de situação em que o ricci acabava se colocando pela mera imaturidade emocional que alguém de sua idade não deveria ter. fosse ele menos traumatizado (ou ao menos capaz de lidar devidamente com seus traumas), provavelmente não depositaria tantos esforços naquela dinâmica, e certamente não estaria interrompendo o que era claramente um encontro - muito embora fosse visível a falta de química ali. e que não o entendessem errado: neslihan era exatamente o tipo de mulher que o atraía. tudo bem, ele também não tinha parâmetros tão rígidos e era mais do que comum vê-lo com todo tipo de pessoa. mas fato que, na lista de todas as suas preferências, gökçe gabaritava cada uma. desde detalhes menores como os olhos escuros e a altura acima da média, até coisas mais instigantes ainda como a personalidade forte e o temperamento colérico. mas naquele universo em que ele ainda era tão desequilibrado quanto podia ser, o que mais o instigava era o desafio e a auto validação que conquistá-la traria.
de modo geral, ele não era a pessoa mais competitiva do mundo, simplesmente porque um traço de personalidade desse exigiria esforços demais com muita frequencia. mas quando ele queria, sabia sim aplicar toda a sua energia em busca de uma vitória. naquele momento, por mais que pudessem pensar que a tal vitória vinha no formato da aposta, grande parte do seu real objetivo já havia sido conquistado. se ele receberia ou não a maior quantidade de palmas aquela noite (e tinha certeza de que o faria), já havia conseguido roubar neslihan do coitado que observava ainda perdido o caminho da conversa entre os dois conhecidos. o momento decisivo foram os segundos que antecederam as palavras da mais jovem, em que ricci não desviou o olhar do dela um momento sequer. ele sorriu com sua resposta; por mais que a frase estivesse repleta de desdém, ainda havia caído em sua teia. não se julgava mais esperto que neslihan, tampouco tinha a inocente crença de que a havia enganado ou qualquer coisa do tipo. sabia muito bem que, do mesmo modo que o ego de camilo se alimentava de toda a situação, o dela devia fazer o mesmo, pelo menos um pouco.
satisfeito com o rumo da conversa, ele ergueu o braço para pedir mais duas doses do uísque que havia roubado do loiro. "primeiro, não faça promessas que não pode cumprir, hani. e depois, há jeitos menos performáticos de calar a minha boca, mas acho que isso vai ser bem divertido de assistir." respondeu, o rosto iluminado por uma visível malícia. ergueu as sobrancelhas diante da proposta, apreciando a sugestão. antes de responder, porém, observou por sólidos segundos a figura agora em pé e ligeiramente inclinada de outrém, os olhos já escuros de camilo pareciam totalmente pretos enquanto percorriam cada centímetro de neslihan. "na verdade, você me deixou curiosíssimo para saber qual música dedicaria a mim." inclinou o próprio corpo para frente, ainda sentado, o olhar retornando ao dela. "além disso, não quero que me culpe quando você perder. então vai lá, me surpreenda."
entrelaçada à figura loira como se ele fosse a última barreira entre ela e a ruína de sua sanidade , com as íris semicerradas observou camilo cobrir a distância entre a mesa que ele invadira e o palco . seus lábios retorciam-se em uma expressão nula — não permitiria que ele notasse a diversão que escondia em seus olhos ou a excitação que desafiá-lo provocava em sua natureza competitiva . respostas positivas , até o momento em que as palavras dele a atingiram . é claro que camilo recorreria a artimanhas para garantir uma vitória injusta , como ela poderia ter esperado algo diferente , por um segundo sequer , era uma reflexão de ingenuidade que se recusava a encarar mais a fundo . com as pálpebras entreabertas se estreitando ainda mais , a irritação as fazia palpitar , tomando o lugar da breve sensação de triunfo com a própria performance .
assim que as primeiras notas introduziram a música , as palavras iniciais proclamadas em melodia pela voz grave do ricci , e ele apontando em sua direção , a mulher desejou fazer como a canção dizia e empurrá-lo em uma piscina . olhares recaíam sobre suas reações , incapaz de serem contidas com indiferença , não quando camilo estava envolvido . antes que pudesse processar a sugestão lançada no ar , ele se aproximou , os dígitos quentes cingindo a pele do seu rosto . com a respiração contida em exasperação , exalou o ar irritado em um rompante assim que ele recuou . cogitava puxar matteo pelas palmas ainda unidas e simplesmente abandonar o moreno com todo aquele espetáculo , mas antes que pudesse oferecer um olhar sugestivo ao mais novo , mãos gélidas marcadas por todos os anos vividos se esgueiravam pelos braços de neslihan . com uma força surpreendente , a donna , com a expressão brilhando em intuito maquiavélico , a arrancava de seu assento . sussurrando reprimendas de como ela poderia deixar um partido tão bonito , gentil , e apaixonado , de lado para escolher um adolescente ? seria ela , por acaso , uma etarista ? as pontas das orelhas queimavam com palavras sufocadas , afinal , ela tinha respeito às experiências vividas , e os saltos raspavam o chão em protesto . com a matrona a empurrando para os braços , metafóricos , do ricci , não teve escolha a não ser encará-lo , as luzes iluminando o repuxar dos lábios forçado , que em nada velava os olhos que o fuzilavam .
no intuito de não assemelhar-se à personificação do homem de lata , desprovida de um coração diante do teatro de camilo , digno de um tony award , começou a enunciar as palavras junto dele . as orbes inflamadas prendiam-se às masculinas , exagerando mais um sorriso carregado de falso fascínio . ao tê-lo prostrado de joelhos em sua frente , um riso ameaçou escapar de sua garganta , mas o engoliu , optando por cravar as unhas sob os bíceps alheios e puxando-o para uma posição digna . ❝ eu vou te matar , e nenhum investigador neste mundo conseguirá recuperar todas as partes do seu corpo quando eu terminar . ❞ entre dentes , as palavras eram quase inaudíveis em meio aos aplausos e assobios que celebravam o drama que estrelavam . as bochechas doíam ao ter de manter os lábios dispostos no arco fingido — contrário aos dele , que se formavam em uma expressão de puro deleite — , e ao descer os degraus , desfez seu aperto , recusando-se a dirigir mais um olhar sequer ao ricci . sabia que ele a seguiria , nem que fosse unicamente para gabar-se da vitória que ele considerava conquistada .
sabendo que nem mais um minuto no bar seria passado sem que todos os observassem como peças vivas em um museu , neslihan pegou sua bolsa , depositando euros suficientes para cobrir seus martinis e seja lá o que matteo houvesse pedido . fazendo o loiro levantar-se e ajeitar a camisa de botões com um breve relance , virou-se para camilo . ❝ parabéns , você conseguiu trapacear no karaokê . eu diria que é admirável , não fosse tão lamentável . ❞ ainda tinha um pequeno sorriso fixo para os que os estudavam . ❝ agora , se me me permite , tenho mais o que fazer com a minha noite do que te entreter por mais um minuto , caro . ❞ ao dar as costas , curvou seu braço ao do seu primeiro acompanhante , seguindo para a porta , os passos pesados denunciando a irritação em suas veias . parando abruptamente , ergueu um dedo no ar , como se acabasse de lembrar-se de algo , e encontrou o olhar de camilo por sobre os ombros . ❝ ah , e pode entrar em contato com minha assistente para falar o que deseja como pagamento . ❞ com uma saudação cômica , retomou o caminho . agarrando-se com mais força ao loiro , um protesto deixou os lábios alheios , recebido com um revirar de olhos . as suspeitas anteriores se provariam verdadeiras não muito depois , matteo completamente imemorável e incapaz de apagar a ira provocada pelo ricci de seus pensamentos .
@khdpontos
flertar era fácil demais. e camilo adorava coisas fáceis! tanto em sua vida havia conseguido daquela maneira, e não acreditava ser demérito algum. por isso suas noites eram sempre repletas daquela que poderia ser classificada como uma de suas atividades favoritas, deliciando-se sempre com a troca nunca decepcionante de olhares interessados e palavras recheadas de duplo sentido que geralmente caminhavam para um final muito feliz. poderia ter adentrado o local e procurado pelo primeiro par de olhos brilhantes de desejo, e se o tivesse feito, àquela altura estaria provavelmente encontrando alguma maneira despretensiosa de adicionar um ou outro toque físico que fizesse o ideal trabalho de complementar cada uma de suas palavras sacanas. olhou em volta por pouco mais que dois segundos, imediatamente notando uma jovem loira sozinha — ela certamente serviria aquele propósito. quando retornou a atenção à neslihan, porém, o sorriso retornou aos lábios de uma forma mais sincera que as expressões de pura provocação até então. sim, ele poderia ter se distraído com outras coisas naquela noite; coisas mais garantidas, mais leves e certamente mais embriagadas. mas ah! havia alguma coisa simplesmente irresistível em um belo desafio. jogar aquele jogo, cuidadosamente estratégico e perfeitamente incitante, jamais o decepcionava. não com a gökçe. “acredite quando eu digo, não poderia estar mais ansioso para descobrir” e não duvidava mesmo de que ela fosse capaz de muito. uma força da natureza.
não se moveu quando ela se aproximou, mas apertou os dentes, travando um pouco a mandíbula inconscientemente. o aroma já notável se fez dolorosamente presente sob seu olfato, e conquistou um espaço no fundo da mente do homem. ele não esqueceria a fragrância tão cedo. atento à cada movimento da mulher como se somente houvessem os dois no estabelecimento, e a frase apenas não o satisfez mais do que a maneira que a perna da morena tocou a sua. era claro que ela entendia as intenções do ricci, o que por si só não mudava o fato de que ele ainda considerava uma vitória que fosse tão irresistível a ela engajar em mais uma batalha consigo, mas ainda reforçava o porquê nunca era decepcionante aquele cabo de guerra que os dois incansavelmente jogavam. as palavras alheias que seguiram não chegavam a atingi-lo, até porque em algum ponto, camilo apenas conseguiu focar no quão perto estava a boca bem desenhada da mais jovem. é, ele podia ter se ocupado aquela noite com qualquer outra pessoa, mas dificilmente alguma delas seria responsável pela adrenalina que ele sentia percorrer seu corpo. se camilo se movesse um centímetro que fosse, roubava-lhe um beijo. não o fez, porém, atendo-se às regras do jogo silencioso. observou-a soprar um beijo na direção de seu acompanhante; não se incomodou. ela podia fingir o quanto fosse, matteo era o peão ali.
camilo observou a apresentação com toda a atenção que esta merecia, sem deixar de notar o quão verdadeiramente agradável era a voz feminina. ele não precisava prestar atenção ao seu redor para saber que todos os olhares estavam fixos em neslihan, tal qual seu próprio. não se incomodou com a presença do loiro no palco, nem sua participação na performance. camilo ajeitou-se na cadeira, sentindo em sua perna um traço do breve toque de instantes atrás. sinceramente, para si, pouco impressionava a maneira que as mãos grandes do outro homem se encontravam em seu quadril, ou o jeito que distribuía beijos em seu pescoço; porque sabia que se fosse ele ali, não a permitiria se concentrar em nada além do seu toque. ao fim da música, a troca de olhares entre eles ainda era mais quente do que qualquer encostar de matteo. e se camilo estava fadado a terminar aquela noite sozinho independente do resultado da pequena aposta, então neslihan estava fadada a se frustrar buscando em outra pessoa uma faísca do fogo que havia entre os dois conhecidos. milo se ergueu ao final, batendo palmas como as tantas outras pessoas encantadas, e não evitou um riso diante da fala alheia. “e ainda sim, não parecem ansiosas para se livrarem dela” retrucou, sem fazer menção alguma de se afastar, até que a turca se sentou.
não deixou de notar a última provocação, e se matteo tivesse mais de um neurônio funcionando, ele também perceberia a forma ridícula que estava sendo usado. mas não se ocupou demais com aquele pensamento, ah, não! ele tinha uma aposta para vencer. subiu no palco sem demora e sem vergonha. só o que precisava era instigar o público, e sabia bem o que fazer, ainda mais em uma cidade tão carente de histórias românticas como khadel. enganava-se quem achava que o ego de camilo era grande demais para que ele se rebaixasse de algum modo, porque para conseguir o que quer, não tinha problema algum em se expor. “boa noite, pessoal! boa noite!” começou, obtendo algumas respostas animadas. “eu não costumo fazer isso, mas preciso de uma ajuda.” claro que ele não pediria palmas, ainda queria uma vitória justa. mas isso não significava que ele não poderia mentir para chegar lá. “tem uma mulher aqui que… roubou meu coração.” começou, do jeito mais dramático que ele sabia ser “e sinceramente, eu não sei mais o que fazer. ela continua pisando em mim, mas eu não aguento, eu sempre volto! então me ajudem a fazer ela me notar, pode ser? quem souber essa, canta aí comigo.” camilo foi até o responsável pelas músicas, sussurrando o pedido. tão logo a entrada animada de just the girl, do the click five, começou a tocar. com o início da letra, milo apontou na direção de neslihan, de modo que o público passou a dividir a atenção entre os dois, como se assistissem ao vivo um clichê ridículo de comédia romântica americana. a guitarra anunciou o refrão e ele pôde ouvir alguma senhora gritar para que ricci fosse até a turca. assim ele o fez, descendo as escadas do palco e se aproximando da mesa. se matteo não estava se sentindo um idiota antes, dificilmente tardaria a fazê-lo. conforme a letra avançava, tinha a impressão de que o bar inteiro os rodeava, interessado no que acontecia. não era todo dia que cantavam uma declaração (ainda que falsa) naquela cidade. a luz outrora no palco agora iluminava a mesa, e camilo se aproximou da jovem sentada, inclinado, e segurou a ponta de seu queixo com o indicador e o polegar enquanto cantava. “she’s just the girl i’m looking for” piscou-lhe um dos olhos e se afastou, retornando ao palco para seguir com a canção. engajados com a cena, camilo notou que uma boa parte cantava junto dele, ou ao menos tentava seguir a letra no telão. também percebeu que a mesma senhora que havia gritado antes agora caminhava até neslihan, insistindo que ela se levantasse, praticamente a empurrando de volta ao palco em que se encontrara minutos antes. se não estivesse ocupado com a própria performance, teria parado para rir. o segundo verso e refrão foram cantados diretamente para ela, e durante a ponte, colocou o microfone para a plateia cantar, como se fosse um cantor em seu próprio show. já no final, a volta do refrão agora vinha com ainda mais apoio geral, e na repetição do último verso, ele se jogou de joelhos, terminando a canção diante da gökçe, ouvindo a resposta à sua performance e sorrindo absolutamente satisfeito. podia até mesmo jurar ter ouvido alguém gritar por um beijo.
partner in justice : @aaronblackwell !
location : casa comune !
a cada novo evento anunciado como a oportunidade definitiva para encontrar sua alma gêmea , a paciência de neslihan se desgastava sob o peso de tentativas desesperadas de acelerar a resolução de algo cuja existência sequer possuía comprovação racional . embora tivesse prometido a si mesma que enfrentaria cada sugestão e intervenção com a elegância herdada de münevven , sentia-se como um animal acuado , pronto para reagir à menor ameaça . já havia recusado o convite dos proprietários da casa comune , mas , como sempre , a insistência dos habitantes de khadel se mostrava uma força quase sobrenatural . agora , com o cartão de confirmação em mãos — um gesto meramente protocolar , visto que a presença deles já não necessitava de qualquer formalidade — , ela lançou um olhar suplicante para aaron . a expressão masculina refletindo a sua própria , como se ambos estivessem no corredor da morte, aguardando suas sentenças .
dançar era algo que apreciava . libertar-se das tensões acumuladas sempre lhe fazia bem . mas não daquela maneira , naquele estilo . um suspiro escapou de seus lábios , carregado de arrependimento , enquanto lia mais uma vez a indicação do ritmo descrito na entrada do estúdio . salsa . ❝ quanto vou precisar me desculpar por isso ? ❞ o amigo era a única pessoa que lhe ocorrera quando , pressionada , teve que confirmar a participação na sessão . ainda recordava o entusiasmo do outro lado da linha diante da mera possibilidade deles serem destinados . uma amizade de tantos anos… tenho certeza de que vocês foram feitos um para o outro . a ideia arrancava um sorriso discreto da mulher . se houvesse uma mínima chance de um final feliz , aaron seria , sem dúvida , sua melhor aposta . o convívio entre eles era tão natural que não lhe parecia um fardo imaginar-se ao lado dele pelo resto da vida . já estavam na vida um do outro há mais de duas décadas e , com um pouco de sorte , não viveria tempo suficiente para triplicar essa marca . ele era segurança , previsibilidade , compreensão e aceitação .
❝ aqui vai uma ideia . ❞ ponderando , inclinou-se ligeiramente para ele . ❝ se assustarmos nossos instrutores o bastante , será que encerram a aula mais cedo ? ❞ a sugestão era tentadora , embora duvidasse que aqueles que tanto insistiram em sua presença desistiriam tão facilmente . ❝ preparado ? ❞ indagando , aproximou-se para enlaçar seu braço ao dele . passou uma das palmas pelo tecido do vestido , como se o gesto fosse suficiente para prepará-la para o que , naquele instante , parecia a verdadeira dança do apocalipse .
@khdpontos
os corredores da prefeitura não eram estranhos à presença de neslihan , ainda menos desde que aceitara a proposta do prefeito . no entanto , raramente se demorava ali , a mente sempre em ebulição , projetada a centenas de quilômetros na solução de problemas , enquanto seu tempo era meticulosamente cronometrado . pouco lhe importava que até mesmo seus clientes externos parecessem ter recebido o memorando sobre sua suposta identidade como uma das encarnações históricas de khadel , ou que seu cotidiano estivesse , cada vez mais , entrelaçado ao absurdo daquela maldição .
havia finalizado uma rodada de reuniões com antecedência e acelerado a entrega dos relatórios iniciais sobre as medidas a serem implementadas pelo município , tudo para liberar os dias seguintes para a viagem que aaron a arrastava , sob a demanda insana de zafira . retornava agora com um imenso copo de americano em uma das mãos , enquanto a bolsa e a pasta repousavam firmemente na outra . foi ao acessar a entrada lateral , exclusiva aos funcionários , que avistou a silhueta vagamente familiar de catarina no saguão , debruçada sobre o mapa exposto . naquele instante , não estava particularmente inclinada a interagir com mais um dos nove envolvidos no incessante drama que a atordoava e , por isso , optou pelo caminho mais longo até o salão de conferências .
seus saltos ecoavam pelo mármore no compasso da inquietação enquanto levava um gole profundo do café , concentrando-se no amargor revigorante da bebida , quando , ao dobrar um dos corredores , foi subitamente surpreendida por ninguém menos que a própria catarina , surgindo como uma aparição . não fosse pelos reflexos aguçados por anos de tênis e hipismo , o café teria banhado ambas dos pés à cabeça .
refletindo o passo que a outra dera para trás , neslihan curvou levemente os lábios em um sorriso polido , ainda que ligeiramente insincero . ❝ sei scusata . ❞ aquiesceu . sua natureza sempre fora inclinada à desconfiança , e algo na presença da marino despertava uma cautela instintiva . rápido demais a morena havia se infiltrado sob as defesas do seu melhor amigo — algo que , além dela própria e olivia , ninguém jamais conseguira — e , embora tivesse testemunhado o brilho singular no olhar de aaron ao lado da outra no giardino , neslihan precisava tirar suas próprias conclusões antes de aceitá-la como alguém importante , ou influente , ao lado de , e decente o suficiente para , o blackwell .
o arqueamento discreto das sobrancelhas denunciava a breve diversão diante da justificativa de catarina . minutos antes , vira-a analisando a disposição do edifício , e embora soubesse que nem todos tinham sua capacidade de memorizar um mapa com um único olhar , uma faísca nos olhos castanhos alheios indicava o contrário . de todo modo , não era exatamente estratégico iniciar um jogo de hostilidade logo na primeira interação — principalmente quando se desejava conhecer alguém antes de definir uma postura definitiva . e bem , talvez aquela fosse uma oportunidade para desvendar o enigma , ou ameaça , que a outra representava .
❝ catarina , certo ? prazer , neslihan . ❞ desta vez , o sorriso ganhava um tom calculadamente mais amplo , ainda carregado de um divertimento . ❝ claro , posso acompanhá-la até lá . e se me disser o que procura , posso indicar por qual sessão começar . ❞ fez um gesto sutil na direção do corredor de onde viera , quando na mente surgiu uma provocação . interrompendo o próprio passo , virou-se ligeiramente e , apontando com o copo fumegante para a direção oposta à que daria acesso aos arquivos . ❝ por aqui . ❞ declarou , sem alterar o tom .
antes das missões com @neslihvns
prefeitura de khadel
Curiosidade e criatividade é inteligência se divertindo, Catarina havia lido uma vez e as palavras haviam ficado com ela. Não apenas por sua memória eidética, mas porque ela sempre foi uma criança curiosa, criativa e inteligente, e isso não apenas virou um trunfo e uma profissão no seu futuro, como foi responsável por muitas das suas confusões. Por isso, independente do conto da carrochinha que a cidade alimentava sobre os reencarnados, Cat estava legitimamente curiosa sobre quem eram aquelas pessoas que alguns realmente acreditavam que podiam ser e tinha quase certeza que isso a levaria a muitas confusões. Como uma boa investigadora, ela estava disposta a ir fundo no assunto, independente do caos que causaria.
Havia começado um arquivo com cada um daqueles desconhecidos que agora pareciam fazer parte da sua vida de alguma forma, mas precisava também de um sobre o passado, sobre a história, sobre aquelas pessoas que um dia existiram. Não sabia o quanto os outros sabiam, mas ela não gostava de se sentir como a única que não estava por dentro de uma piada interna. Ela sempre precisava saber. Não havia um mistério que Catarina não pudesse resolver (talvez apenas o da sua própria família).
Na pensione, Cat havia tirado tudo sobre da parede e começado a pregar algumas informações. Fotos achadas online, informaçõe passadas por terceiros. Tudo — tudo — deveria estar interconectado de alguma forma. Não era simplesmente estranho que alguém havia lhe contratado para Khadel e, do nada, ela estava na cachoeira com um grupo de estranhos? Que seu cordão parecia fazer referência a Khadel? La città senza amore. Bateu um marcador nos lábios, olhando os post-its presos na parede, antes de decidir que ela precisava de mais informações. Nem tudo estava na internet, então ela iria old school.
Cat entrou na prefeitura, procurando onde eles mantinha os arquivos. Acreditava que podia convencer na lábia alguma senhorinha que trabalha lá, mas não iria dispensar completamente a ideia de furtar os documentos se necessário. Deixaria o plano aberto a adaptações.
"Ops, scusa," disse dando um passo para trás ao quase dar de cara com outra pessoa enquanto virava uma curva. Lembrava da morena da cachoeira, mas também lembrava dela por alguns olhares atravessados quando ela estava com Aaron. Não sabia se era algum sentimento de possessão que a outra tinha com o homem, ou se a posessão na verdade era uma obsessão, e talvez ela fosse apaixonada pelo outro. Neslihan. Havia achado o nome na legenda da foto de um jornal, com um homem que ela imaginou ser o pai da outra. Catarina não era boba. Era o momento perfeito para fazer a forrasteira perdida, a donzela indefesa, e ganhar o favor da morena. "Você sabe onde ficam os arquivos? Acho que me perdi." Catarina sabia exatamente para onde estava indo. Havia memorizado o mapa que ficava no saguão, mas podia utilizar do tempo juntas para entender quem era a mulher.
( @khdpontos )
𝒕𝒉𝒆 𝒂𝒄𝒕𝒊𝒗𝒊𝒔𝒕 ! neslihan gökçe , 29 , human rights lawyer . can you hear my heart beating like a hammer ?
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