Matteo não respondeu de imediato. O olhar dele percorreu o rosto dela, demorando meio segundo a mais nos olhos — como se estivesse tentando decifrar o que ela realmente queria dizer por trás do deboche. "Eu não julgo." A voz saiu baixa, quase rouca, e seus ombros rolaram quase automaticamente. Seu olhar deslizou para a maquiagem discreta, nada característica de Scarlett, depois voltou para os olhos dela. "Quando eu disse que sou santo?" Perguntou com curiosidade. Scarlet, Aleksander — eles não pareciam entender a diferença entre ser calado e ser santo. Matteo enfiou as mãos nos bolsos do casaco, os ombros levemente tensos, e desviou o olhar por um instante. Parecia que ia embora. Mas não foi. "Você devia ser mais legal — afinal, a gente está no mesmo buraco." Existia uma chance da Scarlett ser sua alma gêmea? Sim. Ele iria sequer entreter aquela possibilidade? Absolutamente não. Mas era assim que ele se sentia com a maior parte do grupo.
Scarlet odiava ir à igreja, mas ao menos uma vez por mês dava o ar da graça apenas para manter as aparências, principalmente pela relevância de sua família e para manter a imagem de "boa moça", que convenhamos, boa parte das pessoas daquela cidade sabia que não era bem assim. Conseguia atuar perfeitamente, se mostrando atenta ao sermão e até mesmo fazendo as rezas que sabia de cor. A maquiagem que geralmente era pesada e com um batom vermelho chamativo, hoje era algo tão leve que era quase imperceptível. Quando acabou, cumprimentou as pessoas que estavam ao seu lado com um belo sorriso, mesmo que fosse falso, ninguém sequer notaria isso mesmo... Ou foi o que pensou quando Matteo se aproximou. - Como pode ver, estou intacta. Mas você não é bem um santo também para me julgar, não é mesmo? - O respondeu em um leve tom de deboche, e no mesmo tom de informalidade que, não sabia em qual momento ao certo, adquiriram essa "intimidade" para tal.
Se Matteo se esforçasse um pouco, ele poderia ter esboçado um sorriso com a pequena piada de Pasqualina. Ter se tornado um pouco mais receptivo ao perceber que ela não era uma das garotas loucas que estavam atrás dele pela maldição. Não que Matteo tivesse sorte, quando não era uma louca em relação à maldição, era simplesmente louca. Ele não tinha muita sorte naquele departamento. Porém, ele não conseguiu fingir o sorriso, não conseguiu fingir que estava tudo bem, pelo menos não pelas suas expressões, por mais que as palavras falsas saíssem com facilidade. "Eu estou bem, Lina," ele disse distraidamente. O que mais poderia dizer ou fazer? Mesmo Pasqualina sendo uma das pessoas naquele grupo exótico, eles não tinham tanta intimidade, por mais que se conhecessem por muito tempo. Matteo costumava ser como óleo e água com a maioria das pessoas, então não era estranho que ele e Pasqualina não tivessem muito em comum. Ele respirou fundo e finalmente forçou o sorriso, se virando para ela, "e você? Como estão às coisas?" Mesmo não perguntando diretamente, queria saber como ela estava com aquela loucura de maldição.
"Ah, desculpe..." Pasqualina já se preparava para levantar, embora o assento ao lado dele estivesse claramente disponível. O aviso de ocupado em forma de um resmungo pareceu direto o suficiente. Sentou-se novamente depois dele ter percebido que não era uma das fangirls da maldição. "Oh, não, não vou pedir para tirar foto com um 'reencarnado'." Repetiu o gesto das aspas, com um sorriso fraco. Depois das missões, Lina andava muito pensativa, com um semblante aéreo e ao mesmo tempo preocupado, não imaginava que alguns do grupo acabariam se machucando de forma tão severa. "Só vim dizer oi e perguntar como você está. Está tudo bem?" Perguntou com o olhar fixo na garrafinha de água que levava na mão, sem retonar o olhar a Matteo.
@khdpontos
Deu um curto aceno de cabeça para indicar que não havia sido um grande problema. Matteo estava ciente, em primeira mão, em como aquela atenção era chata. Os olhares que o acompanhavam para todo lugar nunca foram tão intensos quanto agora e tinha a sensação sufocante que as pessoas colocavam mais esperança naquela história do que deveriam. Ele nem ao menos acreditava que aquele grupo de desajustados tinha poder de mudar alguma coisa. Porém, se não podia ajudar toda a população, ao menos pode ajudar, Christopher. O que ele deveria realmente agradecer é que elas não olharam ambos como dois pelo preço de um. Talvez a sua fama de rabugente estivesse sobressaíndo ao seu título de solteiro cobiçado. Ou talvez estivesse esperando que eles sutilmente estivesses num encontro. O que, para Matteo, era um pensamento ridicularmente cômico. A ideia de Christopher ser sua 'alma gêmea' parecia tão impossível quanto Camilo Ricci. Se ele acreditasse em um destino cósmico, eles provavelmente seria uma piada cósmica para todos. O que, além do local em que nasceram, tinham em comum? Ele olhou Christopher de cima a baixo ─ tudo bem, não o conhecia de verdade, mas entre sua amizade com aquele que era seu nêmesis, sua profissão e a sua cantoria pelos bares da cidade, Matteo não via nada em comum entre ele. "Aparentemente alguém começou um rumor que se você transar com um reencarnado, você consegue se apaixonar," respondeu meio sem emoção. Ouviam rumores diferentes sobre os reencarnados todos os dias. Os rumores em relação à maldição estava começando a sair do controle desde que Olivia anunciou para todo mundo em praça pública a confirmação deles. Não que ele já tivesse aceitado essa condição. Matteo não se colocaria naquele grupo tão cedo. A distoância entre eles é nítida, mas ele não estava desconfortável com o novo companheiro do dia. Talvez porque estivesse no único lugar onde se sentia verdadeiramente a vontade, talvez a cada dia que passasse se importasse menos com o status. A confusão mental que o dia na cachoeira trouxe parece menos assustadora a cada dia que passava. "A menos que você queira voltar para os urubus," ele disse, olhando por cima do ombro para as mulheres. Elas já tinham se dissipado, mas ele ainda pegou uma ou outra olhando furtivamente para o homem. Seu suspiro foi longo, mas não se pendeu muito nos outros. Não era comum para ele ter um companheiro, a menos quando estava treinando alguém especificamente. Não era exatamente o caso dele, mas não duvidava que a forma de Christopher em um exercício ou outro seria o suficiente para lhe irritar e fazer com que ele mostre o correto. "Você tem um plano?" Ele perguntou, ao menos para ele era óbvia a referência ao plano de exercício, ao que iria fazer na academia, ou ao menos qual músculo iria trabalhar. Se iriam enfrentar aquele dia juntos, tinham que ao menos estar nos aparelhos próximos.
Christopher estava longe de ser um exemplo de dedicação ao condicionamento físico. Fazia apenas o necessário para manter a estética dentro dos seus próprios padrões e, depois, agradecia silenciosamente ao universo por ter sido agraciado com uma boa genética. Diferente do prazer genuíno que sentia ao passar horas sozinho, dedilhando as teclas do piano ou as cordas do violão, a academia lhe causava uma sensação quase claustrofóbica — especialmente em dias lotados como aquele. O espaço tomado por corpos suados, aparelhos disputados e, pior ainda, a presença inevitável de indivíduos cuja relação com o desodorante parecia inexistente tornava tudo ainda mais desagradável. Ainda assim, fazia questão de ir um pouco além do mínimo. Confiava na sorte, mas nunca a ponto de depender apenas dela.
Naquele dia, Christopher se arrependeu de cada gota de combustível desperdiçada para chegar ali. Assim que cruzou a entrada, foi imediatamente cercado por uma enxurrada de pessoas, todas ávidas por respostas que ele não queria — ou simplesmente se recusava — a dar. Perguntas sobre a maldição, sobre quem ele achava ser sua suposta alma gêmea e uma infinidade de outras especulações ecoavam ao seu redor, tornando impossível fingir que não as ouvia. Foi então que uma voz masculina se destacou no meio do burburinho, chamando por ele. Ao virar-se na direção do som, Christopher avistou Matteo. "E aí, Matteo. Já estava achando que ia se atrasar no primeiro dia." Apesar da falta de proximidade entre eles, reconhecia o outro perfeitamente — não apenas pelas incontáveis vezes em que ouvira Camilo xingá-lo, mas também pela fatídica noite na cachoeira. Não tinha uma opinião formada sobre Matteo, mas, naquele momento específico, depois de ser salvo daquela multidão insuportável, o cara facilmente poderia ocupar o top cinco de sua lista de pessoas favoritas.
"Valeu por isso." Murmurou em um tom mais baixo assim que se afastaram do grupo. Ainda lançando um olhar discreto por cima do ombro, como se temesse que os curiosos voltassem à carga, Christopher fez uma careta antes de resmungar: "Por um momento, achei que era uma carcaça cercada por urubus." Endireitou a postura, tentando recuperar um ar de normalidade e evitar atrair mais atenção indesejada. Depois, voltou o olhar para Matteo, avaliando-o rapidamente antes de soltar, com um misto de simpatia e incerteza: "Isso quer dizer que o treino de hoje vai ser em dupla...?" O tom era amigável, mas a hesitação era perceptível. Afinal, não se conheciam de verdade, e Christopher ainda tentava decifrar qual seria a melhor maneira de lidar com ele.
Não podia culpar Christopher por não querer se envolver com aquelas mulheres. Existiam maria-chuteira, maria-gasolina, e agora, infelizmente, parecia que podiam cunhar o termo maria-maldição. Não que ele esperasse que Christopher fosse alguém que gostasse da atenção o tempo todo, como seu melhor amigo (ou talvez fosse exatamente o que esperava dele). Já Matteo, que estava acostumado com a atenção que ganhava na cidade, estava cansado da nova onda de atenção. Antes a atenção ao menos fazia algum sentido. Fosse pelo seu corpo ou por sua falta de disponibilidade, ao menos era por algo que ele fez, e não uma coisa completamente alheia a ele. Mas estava aprendendo a ignorar, afinal era tudo que podia fazer. Já tinha que lidar com as demandas de Zafira e com a loucura que era uma daquelas pessoas serem "sua alma gêmea", ele não precisava adicionar nada para que sua cabeça estivesse pior do que quando tentava passar pelo ensino médio sem Neslihan para ajudá-lo.
“Eu faço luta,” ele disse distraidamente. Não que fosse o que ele iria fazer naquele dia, mas de certa forma havia se prendido ao outro rapaz, então o mínimo que podia fazer era alinhar o que fossem fazer, “mas não pulo a musculação.” Matteo sabia o que certas pessoas pensavam dele, mas naquele lugar ele não podia ser questionado sobre o que fazia. Seu hiperfoco com seu corpo havia se tornado indiscutível e essa era, possivelmente, a razão pelo qual ele havia aprendido sobre exercício físico e alimentação de forma certeira. "Prefere começar com costas ou braços?" Matteo perguntou, focando naquilo que podia controlar e sem sair muito do assunto de onde estavam. Afinal, se não fosse pela maldição, o que mais ele e Christopher teriam em comum?
Christopher pressionou os lábios ao ouvir a menção do rumor. Seria Camilo o responsável por espalhá-lo, ou teria sido obra das mulheres que festejaram com eles naquela noite? No fim das contas, pouco importava. Conhecendo os habitantes de Khadel, aquele boato ainda ecoaria por um longo tempo. Pelo menos agora, ele já poderia se preparar para situações como aquela. "Sempre tem um imbecil " murmurou, tentando disfarçar o fato de que tinha quase certeza de quem era o culpado. A fala seguinte o fez virar levemente a cabeça na direção do grupo que, instantes antes, quase o engolira vivo. Embora não estivessem mais o encarando descaradamente, ainda lançavam olhares furtivos em sua direção. Estariam imaginando que ele e seu companheiro estavam em um encontro? Se algo do tipo chegasse aos ouvidos de Camilo, Christopher já conseguia prever os xingamentos que receberia. "Ah, não. Vim buscar um pouco de força para matar meus leões do dia, não para trocar de animal" resmungou, franzindo o cenho antes de voltar o olhar para frente.
"Bom, eu treino luta aqui. Muay Thai, para ser mais exato" disse em um tom casual. "Normalmente, faço alguns exercícios antes do sparring." Com um leve movimento de cabeça, apontou na direção do ringue, onde duas duplas trocavam golpes em sequências bem ensaiadas. Os ecos dos impactos ressoavam pelo ginásio, misturando-se ao cheiro de suor e couro desgastado. As vezes era complicado refrear a vontade que tinha de sair passando desodorante das pessoas ali dentro. "Mas, pelo que estou vendo, meu mestre esqueceu de me avisar que não viria trabalhar hoje " acrescentou com um toque de sarcasmo, dando de ombros. Ele então voltou a encarar Matteo, estudando-o por um instante. O que ouvira de Camilo deixava claro que Matteo não era exatamente o cérebro mais afiado de Khadel, mas seu físico evidenciava que ali era possuía plena noção do que fazer, o que por sua vez fazia com que Christopher ficasse menos recesseoso ao segui-lo em um treino. " Você faz alguma luta também ou fica mais nos aparelhos? É parecido o suficiente para conseguirmos encaixar algo?"
igreja de khadel com @eusouscarlet
Matteo não ia há igreja todos os domingos, apenas em algums. Por insistência de sua mãe, aquele era um deles. Depois da festa das máscaras, talvez ele precisasse pedir perdão pelos seus pecados. Matteo nunca foi altamente religioso. Também nunca havia visto nada de errado em homens ficando com homens. Porém, nunca havia sido o caso com ele. E, como se a sua situação não pudesse piorar, um dos homens que ele havia beijado era a pior pessoa do mundo. Foi uma grande surpresa que Matteo havia sentado o sermão inteiro e não havia sido enviado direto para o inferno. Se não por ter ficado com homens, pelas mentiras envolvidas naquela situação. No fim do sermão, um rosto familiar surpreendente entrou em seu campo de visão, e pedindo licença para sua mãe, ele foi até a ruiva. "Pensei que você derretia entrando na igreja," disse, apesar da falta de intimidade entre eles. Depois de dois rituais e uma maldita maldição que os entrelaçava, talvez ele acreditasse que pudessem ser um pouco informais.
Matteo: Você sabe qual objeto você vai pegar no ritual?
Tentou forçar um sorriso para dispensar os homems que se aproximaram da sua companhia, mas seu rosto parecia mais ter se contorcido numa careta; o que certamente fariam os homens se afastarem, junto com a altura e largura de Matteo que deveria ser maior que a junção dos dois homens. Deu um sorriso curto enquanto se afastavam em direção à mesa escolhida, "não pode culpá-los por tentar a sorte deles," adicionou num tom levemente zombeteiro. Para ele, era quase cômico alguém na pequena cidade de Khadel achar que havia chances com Helena, ele incluso. Se aquela não fosse uma piada de mau gosto, ela provavelmente era quem havia recebido a pior mão entre eles. O grupo mais improvável que poderia estar conectado de alguma forma e, entre eles, Helena, que provavelmente poderia escolher qualquer pessoa que quisesse em outras circunstâncias. Não sabia quais sentimentos tinha, mas pena por ela ter que aturar aquilo era, definitivamente, um entre eles.
Não era um grande acompanhador das notícias de celebridade, mas o stalker de Helena era uma coisa muito comentada no burburinho de Khadel para passar despercebido, até mesmo por ele. "Então... Como estão as coisas desde que você voltou?" As palavras lhe saiam tão estranhas e faziam seu estômago se retorcer de uma forma desconfortável. Não era como se fizesse algo horrível, mas a simpatia parecia forçada e fazia com que ele quisesse cavar um burraco e sumir dali. Ao mesmo tempo, acreditava que o silêncio seria tão desconfortável quanto e faria toda a sua pele formigar. De forma nenhuma ele iria ganhar naquela situação. Era ridículo — Matteo estava provavelmente na situação que muitos desejavam e, ainda assim, não poderia se sentir mais inadequado. Qualquer homem ali provavelmente daria o mundo para estar em seu lugar.
Apesar de ser uma figura pública, Helena estava conseguindo esconder com impressionante destreza de seus fãs a ideia excêntrica de encontros com suas possíveis almas gêmeas. A mídia estava tão absorta no caso do stalker que o pedido de privacidade que ela havia feito foi respeitado — e não era para menos, seus advogados haviam sido extremamente convincentes.
A escolha, como não tinha muitas, de quem iria para qual encontro consigo foi até fácil, assim como convidar Matteo para ser seu par; tanto que ela nem precisou recorrer ao truque de mencionar que fora o trampolim que ele precisava para alcançar o sucesso. Escolheu o the Loft pela gama de possibilidades de atividade, não era como se não tivesse feito suas pesquisas sobre o homem, porém o tiro saiu pela culatra afinal quando foi pegar uma bebida dois rapazes lhe pararam para pedir autógrafos e tentar fazer amizade com a atriz. Ou melhor, importuná-la e não a deixar sair daquela conversa.
A chegada de sua companhia a fez abrir um sorriso um tanto quanto aliviado "Oi Matt, você demorou... O que acha daquela ali?" a morena pediu licença pra os homens, que olhavam seu acompanhante com um tanto de submissão, eram espertos o suficiente e para não contrariarem quando ela saiu andando para uma mesa um tanto afastada do palco "Obrigada por ter aparecido, aqueles dois foram bem... Insistentes" ela respirou aliviada sentando na mesa para poder terminar seu drink em paz
O prefeito de Khadel se sente honrado em ter [ MATTEO BIANCHI ] como morador de sua excêntrica cidadezinha. Aos seus [ 29 ] anos, ele é bastante conhecido pelos vizinhos como [ CROSSFITEIRO ]. Dizem que ele se parece com [ CHARLES MELTON ], mas é apenas um [ MODELO E INFLUENCER FITNESS ]. A ausência do amor em sua vida, deixou [ TEO ] um pouco [ EXIGENTE ] e [ EGOCÊNTRICO ], mas não lhe atormentou o suficiente para deixar de ser [ DETERMINADO] e [ LEAL ]. Esperamos que ele encontre a sua alma gêmea, quebre a maldição da cidade e consiga ser feliz!
triggers ─ menções de bullying, transtornos de aprendizagem e déficit de atenção
Giulia Bianchi queria mudar a vida da sua família. Mas um erro – ou talvez uma tentativa desesperada de sentir algo – mudou a dela primeiro. Nativa de Khadel, a maldição estava sempre presente, mas assim como sonhava em elevar o status social e financeiro da sua família, sonhava em; sentir algo como lia nos livros e via nos filmes. Claramente, a tentativa havia sido inútil. Qualquer faísca que pudesse ter achado que sentia na noite anterior havia se esvaído no amanhecer e, por sorte, o homem foi embora da cidade. Giulia, que também esperava que iria embora da cidade no começo do ano letivo para a universidade de Roma, foi pega de surpresa com os enjôos constantes, o cansaço excessivo, e não pode ignorar os sinais do iminente desastre nos seus planos.
Como todos na cidade, Matteo não era fruto do amor. Ele era uma inconveniência na história dos Bianchi. Por mais que Giulia tivesse decidido manter e cuidar do filho, não podia deixar de ser lembrada de tudo que não havia alcançado por conta da criança. Seus pais também haviam sido decepcionados pelo que acreditavam que seria o futuro brilhante da filha, mas os Bianchi acreditavam em cumprir o seu papel e assumir as consequências dos seus erros. Matteo era a consequência.
Nascido no ápice do inverno, Teo era um bebê adorável. Apesar de não ter sido exatamente desejado, não deixava de ser uma criança encantadora, com bochechas tão redondas quanto o restante do corpo, e a pele levemente mais escura que lembrava o pai, desaparecido da vida de Giulia. Ela até tentou procurá-lo nos primeiros meses, mas não teve muito sucesso, com a família toda dele indo para fora de Khadel. Por mais que a criança não fosse parecida com os Bianchi, ele seria puramente Bianchi por fim.
Logo nos primeiros anos de vida, Teo começou a mostrar sinais de desajustamento e dificuldade de aprendizagem. Demorou mais para andar e falar que outras crianças. Não mostrava os mesmos sinais de desenvolvimento nas idades corretas. Giulia não conseguia passar tanto tempo quanto deveria com o filho, precisando trabalhar em mais de um emprego para que pudessem ter o mínimo de conforto. Definitivamente não conseguia ir com tanta frequência aos terapeutas e psicólogos infantis indicados seu causar um déficit no orçamento deles por meses.
Já no primário, não conseguia ficar parado por muito tempo para a classe, sendo constantemente enviado para a diretoria. Logo, ficou alto demais para sua idade, com os braços parecendo pesados demais para o seu controle. As roupas surradas e normalmente num tamanho menor que ele não ajudava nada para que ele se ajustasse com os colegas. Crianças podem ser francas demais, no limite do malicioso, e os comentários maldosos nunca lhes foram poupados.
A cada ano que passava, as brincadeiras se tornavam cada vez mais maldosas. Por mais que Matteo se mantivesse calado, na dele, e sem perturbar ninguém além da sua mãe, que constantemente tinha que atender as reuniões relacionadas às suas dificuldades escolares, ele era um alvo fácil. Não revidava, escutava calado, e isso só fazia com que as outras crianças se aproveitassem mais.
Foi numa surra particularmente dolorosa aos quinze anos que fez com que Matteo se jogasse com tudo na academia. Havia começado porque ele queria se defender. Mas, à medida que ele começou a se exercitar, Matteo descobriu coisas que nunca tivera antes: disciplina, determinação e um propósito. Nunca havia sentido como se estivesse no mundo para fazer nada, nunca se sentiu bom em nada, mas, de repente, havia encontrado algo em que se sentia capaz. E, com o tempo, as mudanças na sua aparência física se tornavam visíveis, assim como a mudança de atitude dos outros em relação a ele.
Com isso, cada vez ele queria experimentar mais, ele queria ser melhor, mais desejado, mais bem tratado. Já não sabia se ele fazia isso porque desprezava os outros, ou porque desesperadamente precisava da aprovação dos outros. Talvez fosse culpa da maldição que não os deixasse sentir amor de verdade.
Ele foi encontrado pelas fotos e vídeos desengonçados de treino que postava e convidado a fazer alguns trabalhos de modelo, no final da adolescência. Um determinado ensaio que fez aos vinte e um anos se tornou viral, fazendo com que Matteo deixasse de ser um modelo qualquer para ser uma sensação da noite para o dia. Seu instagram explodiu e ele não sabia muito bem o que fazer, tendo que pedir ajuda de outros para conseguir administrar aquela nova vida.
Quem vê Matteo nas redes sociais encontra um modelo impecável, moldado à perfeição. Mas aqueles que ousam atravessar sua fachada cuidadosamente construída descobrem que a superfície é apenas um escudo — e que por trás dele há muito mais do que apenas um corpo esculpido. Aqueles que se atrevem a atravessar a fachada, são recebidos com uma assertividade mordaz que beira ao rude. Aos que são ainda mais atrevidos e decidem forçar o seu caminho para a vida dele, conhecem um lado muito diferente do egocêntrico narcisista que se importa apenas com a sua imagem física e descobrem um Matteo leal e dedicado, que só nunca aprendeu a confiar em alguém num nível profundo.
O fato de que havia aceitado um encontro deveria ter sido um motivo de fofoca, mesmo que a pessoa com quem ele havia aceitado o encontro fosse Helena Sorrentino. Matteo normalmente dava motivos para as pessoas fofocarem exatamente pelo número de encontros que ele não aceitava e o fato de que apenas a estrela de cinema havia sido suficiente para fazer com que ele mudasse de ideia certamente iria aumentar o conto de que ele achava que ninguém era bom o suficiente para ele. Ninguém podia ver as engrenagens da sua cabeça trabalhando arduamente para fazer sentido de toda aquela história.
E pouco fazia sentido.
Talvez se fosse mais sociável já teria tido as respostas que gostaria e poderia sair dali vitorioso, mas, no momento, ele arranhava o tampo da mesa distraidamente com uma das unhas para manter-lhe presente no encontro enquanto evitava ir muito a fundo na sua psique. Era claro que o encontro era desconfortável para ele, sempre numa posição de defesa, mas parecia inocente suficiente pelo olhar externo. A música, as pessoas, as péssimas vozes massacrando a música escolhida no karaokê... Não havia nada naquela situação que o fizesse mais confortável e sabia que não deixava as coisas mais fáceis para Helena. Mas uma das coisas que havia aprendido era a determinação de levar as coisas até o fim. E, assim, ele veria aquele encontro com Helena até o fim, por mais desastroso que acabasse sendo. As palavras dela lhe atingiram como um caminhão, já que ele nunca havia imaginado uma vida fora de Khadel e, agora, simplesmente ele era forçado a imaginar as coisas mais frutíferas e longínquas em um curto espaço de tempo. Matteo não sabia se estava disposto a vida que Helena poderia lhe dar, assim como ela bem decididamente não estava propensa a vida que ele tinha em mente. Ele poderia ganhar muito, mas tinha que estar aberto também a abrir mão de muito.
Ele franziu as sobrancelhas com leve confusão. Matteo não precisava que ela apontasse que a fama que cada um deles possuia era diferente. Mas a fama que ele possuía não era algo que ele desejou ou buscou. Um acidente do destino. Não podia necessariamente reclamar, afinal, era responsável por ele ter uma vida financeira mais estável que sua mãe jamais teve, porém sempre revirava os olhos com a atenção que recebia. E, particularmente em Khadel, Matteo recebia bastante atenção. Ele sempre quis ser incluído, ser tratado como um deles, mas mesmo com tudo que havia feito para se encaixar, não poderia se sentir mais deslocado. Tentou desviar do assunto inicial ─ gostava de música, definitivamente não iria cantar ─ e aproveitou o toque sutil dela para entrar no assunto que eles realmente deviam dar atenção. Tudo poderia mudar dependendo do que ela acreditasse. Se Helena realmente acreditasse na maldição, ela estava buscando encontros românticos e ele seria uma péssima escolha, ainda mais no Loft. Deveria ter chamado o Christoper! "Então você acredita que existe uma maldição?" Matteo levantou uma sobrancelha com a pergunta. Ainda estava descrente em relação ao status da maldição, mas estava definitivamente curioso com os acontecimentos recentes, e era aonda mais buscava respostas dos supostos encarnados.
As musicas de fundo e a movimentação das pessoas no local eram uma distração bem vinda para os mil pensamentos que passavam na cabeça de Helena. Já tinha falado com seus fãs e, com o pedido para que pudessem deixá-la aproveitar a noite como eles, ninguém realmente parecia notar o quão estranho era a relação do casal. A risada, porém, saiu dos lábios da negra que negou com a cabeça rapidamente para aquela pergunta "Eu posso estar gostando dessa calma, mas certeza que eu surto se ficar mais do que algumas semanas nesse lugar." respondeu leve encostando o corpo na cadeira brincando com o canudo da bebida despretensiosamente. Sua mente vagava em alguma forma de quebrar o gelo sem ficar parecendo uma esnobe ou uma idiota. Normalmente as pessoas vinham super animadas e interessadas em conversar consigo, então o jeito mais retraído do homem a deixava desconcertada. Só que tinha se proposto fazer dar certo "Sem querer desvalorizar seu trabalho, mas essa fama de Instagram é bem diferente do que eu vivo. Isso aqui..." ela fez um sinal para o bar inteiro como se pudesse sinalizar a situação que estavam "Não aconteceria onde moro. Estar entre os civis sem uma câmera apontada para mim, sem o furor dos fãs... Ou pelo menos não sem pagar o dono do restaurante." ela deu um suspiro saudoso, mas acabou por dar uma risada discreta negando com a cabeça. Amava aquela vida. Não lhe custava atender o publico, tirar fotos, gravar textos... Na verdade ela amava como valorizavam seu trabalho, então gostava ainda mais quando os olhos voltavam para si. Ela até ia oferecer o gostinho de sua vida, talvez um story no instagram, na esperança de abrir um pouco mais aquelas barreiras, mas achou que seria pretencioso demais querer comprar alguém assim na cara dura "Gosta de musica? Digo, estamos num karaokê... Seria um belo fora se tivessem te botado aqui contra vontade. Não sei os critérios que estão usando para decidirem quais são os melhores lugares... Mas temos que convir que não tamo sabendo é de nada com esse lance da quebra da maldição..."
Não podia deixar de notar como ela havia ficado mais bonita. Mesmo na adolescência, Neslihan já atraia olhares — ao menos o seu olhar. Era um garoto magrelo e estranho com a única garota que era legal com ele, obviamente ele não era exatamente imune. E ela era bonita. Nada daquilo exatamente ajudava nas sessãos de estudo que tinha com ela. Os cabelos escuros estavam repuxados para trás num familiar rabo de cavalo, e ele se lembrava de como ela também puxava os cabelos para fora do rosto enquanto estava pensando. Quando era adolescente, ele era bem familiar com o perfil da mulher, espiando entre um exercício ou outro que não conseguia entender. Agora, não fazia questão de esconder que estava olhando diretamente para ela, afinal só haviam os dois naquela quadra.
"Nes," cumprimentou despojadamente. Apesar da distância entre eles, tanto física, quanto emocional, o apelido rolava dos seus lábios com facilidade e uma familiaridade estranhamente reconfortante. Não era exatamente como se soubesse o motivo deles terem se afastado. Não havia sentimento ruim da sua parte. Era apenas como se tivessem descobrido o quão diferente eles eram. Neslihan era muito boa para ele, no sentido que ela havia sido uma das poucas pessoas a ser gentil e amigável, de ter diversas vezes se colocado entre os tiros dados para ele. Ao mesmo tempo, ela era muito melhor que ele em tudo. Havia mais financeiramente, materialmente, emocionalmente, em seu raciocínio. Ele constantemente se sentia um completo desajustado ao redor dela. Era como se ela refletisse todas as coisas em que ele falhava miseravelmente. Ao mesmo tempo, ela não o fazia se sentir mal consigo mesmo. Não, Matteo fazia tudo aquilo dentro da sua própria mente, enquanto Nes não era nada além de agradável. Quando Matteo finalmente começou a não se sentir tanto o patinho feio... Ela já estava distante. Seu ego talvez tivesse ficado um pouco ferido de nunca poder ter mostrado seu outro lado, mas não havia ressentimentos da sua parte. Só não sabia se havia algum da parte dela, do motivo que poderia ter levado ao seu afastamento. "Não venho há algum tempo," falou, notando que não era exatamente a verdade e, junto dela, se sentia compelido a falar a verdade, mesmo que não viesse com naturalidade, "na verdade, não venho faz alguns anos." Sentiu o rosto aquecer levemente com o fato que as palavras rolavam com mais facilidade do que gostaria. O sentimento de familiaridade ao redor dela, como se tivessem estacionado no tempo. Talvez Matteo precisasse de passar algum tempo fora da academia e com um outro ser humano porque aquela carência para alguém que não lhe dava atenção num período de quase treze anos deveria ser deprimente.
"Aceito a companhia," ele disse, deixando a própria sacola cair próxima dela com a raquete também repousada no chão enquanto se curvava sobre as pernas num aquecimento rápido, "mesmo que já sabemos que vai ganhar, não é?" Suas habilidade com a raquete poderia ter melhorado, mas nada se comparava com todo o treino que ela havia tido durante anos. Para Matteo, aquele esporte era um passatempo na sua rotina que ainda o mantinha ativo, mas ele achava que era mais que aquilo para ela. "Como—como você está?" Perguntou de forma hesitante, mas inocente. Não queria pular para o assunto da maldição, da cachoeira, nem que havia visto ela com Camilo no restaurante. Ele queria ver se o senso de familiaridade que sentia era apenas coisa da sua imaginação ou se ainda existia alguma camaradagem entre eles.
antes mesmo que os primeiros raios solares rasgassem o véu da madrugada , neslihan já percorria o caminho até o pequeno complexo esportivo , a raquete equilibrada entre os dedos . o aroma fresco da grama recém aparada , meticulosamente ajustada aos padrões internacionais , impregnava seus sentidos , oferecendo um instante fugaz de alívio . mas nem mesmo aquele perfume familiar conseguia dissipar por completo a sensação de exaustão latente , o peso dos dias recentes transformando-a em um animal ferido , perdido na escuridão de uma floresta desconhecida . retirou o cardigã , sentindo o arrepio escalar-lhe os braços sob a brisa cortante da alvorada , após depositar a bolsa junto à rede — um ritual já automático — , com as raquetes extras . por vezes , dependendo do humor , estourava as cordas de poliamida com a força desmedida de seus golpes , como se o próprio equipamento carregasse consigo a frustração acumulada , então sempre trazia as excedentes . com os cabelos firmemente presos no alto da cabeça e os nervos tensionados , não desperdiçou tempo com aquecimentos triviais . a corrida ao redor da villa , antes de ceder à tentação de pegar o carro e dirigir até ali , fora mais do que suficiente para preparar os músculos . seu único objetivo era derrotar a máquina lançadora — um adversário silencioso , preciso e incansável . e assim , a mulher se perdia nos movimentos meticulosamente calculados , os golpes ressoando contra as cordas tensionadas da raquete , canalizando a exasperação que lhe queimava por dentro . o tempo se tornava irrelevante , a única certeza era o alívio sutil que se insinuava em seus ombros , a rigidez gradualmente cedendo enquanto sua mente se libertava das inquietações que , dia após dia , pareciam se entranhar mais fundo em seu consciente .
um sorriso despontou quando sua memória a transportou para o instante em que segurou uma raquete pela primeira vez — uma das muitas exigências paternas . dentre todas , talvez aquela fosse uma das poucas que ainda preservava com apreço , mesmo que , na época , as cordas fossem de tripa natural , um material que agora se recusava a sequer ponderar . o cenho se franziu ao recordar os treinos extenuantes , excessivos para uma criança sem qualquer ambição profissional no esporte , mas menos que a perfeição jamais fora aceito sob o teto dos şahverdi , então se tornou a norma . a respiração adquiriu uma cadência melancólica ao lembrar dos dias em que tinha companhia – uma companhia que ia além da miríade de treinadores cuja simples presença a fazia desejar nunca mais encará-los . matteo surgiu em sua mente como um relâmpago — um vestígio confuso em sua mente com a forma como tudo havia se desfeito , em meio ao caos infernal no qual ela era a personagem principal .
com o suor escorrendo por cada poro de sua pele , sacudiu as memórias com um último golpe certeiro na bola final lançada pela máquina . levando as mãos à cintura , puxou o ar límpido da manhã para dentro dos pulmões exaustos , contando mentalmente até dez . na última expiração , foi arrancada de seu momento de trégua por uma voz masculina . por um breve instante , sentiu a alma sair do corpo , como se sua própria lembrança tivesse evocado matteo em carne e osso à sua frente . com a destra pousada sobre o coração acelerado , inclinou levemente o quadril e esboçou um sorriso contido — um reflexo de algo reprimido há muito tempo , ou talvez apenas até o momento em que todos foram tragados pelo mistério que pairava sobre khadel como um véu espectral , quando sua rotina meticulosamente planejada começou a ruir . ❝ ei , teo . ❞ o apelido escapava com naturalidade , como se treze anos não tivessem se esgueirado entre eles sem quase nenhuma palavra trocada . enquanto caminhava até a bolsa deixada ao pé da rede , procurando pela garrafa d’água , seus olhos captaram um detalhe que fez o pequeno sorriso persistir , a raquete que pendia das mãos dele , os adesivos no cabo denunciando sua familiaridade . ❝ nunca te vi por aqui antes… mas suponho que nossos horários se diferem na maior parte dos dias . ❞ ergueu uma sobrancelha , indicando com o olhar o objeto desgastado entre os dedos masculinos . ❝ veio jogar sozinho ou aceita companhia ? ❞ a pergunta carregava o mesmo tom melancólico das lembranças que há pouco enevoaram seus pensamentos . ❝ eu poderia usar um adversário mais desafiador . ❞
Ele soltou uma risada. Não esperava que Aaron tivesse qualquer senso de humor. Não que Matteo fosse conhecido pelo seu grande senso de humor, mas estava esperando mais um punhado de comentários ríspidos e sarcásticos. Pelos burburinhos, Aaron era tão conhecido por isso quanto ele era conhecido pela sua falta de vontade de conversar com os outros. "Pela diversão?" Perguntou com se não o entendesse, com uma sobrancelha levantada. "Eu estou aqui porque nosso amigo falou para eu o encontrar aqui. Eu não sabia que era um encontro." Talvez a sua resposta fosse muito defensiva, mas ele não queria que o outro ficasse pensando que ele estava indo para um encontro e, pior, com Nico. Tinha uma reputação para manter. "Eu acho que as forças cósmicas tem mais o que fazer do que decidir a minha vida amorosa," Matteo disse de forma resoluta, so contentando em dar uma resposta rasa. Com oub sem maldição, não acreditava que havia algo escrito nas estrelas, algum caminho que ele deveria seguir. Se existisse, alguém nesse universo devia odiar muito sua família, porque eles não podiam ter recebido uma mão pior para o jogo da vida. "O grupo de almas gêmeas? É mais capaz de termos sido assassinos e vítimas um do outro do que qualquer coisa romântica," comentou passageiramente, se rendendo ao copo de vinho em sua frente e tomando um gole. "Como você foi parar na cachoeira?" Perguntou.
Aaron soltou um riso curto, balançando a cabeça enquanto girava a taça de vinho que já tinha na mão. "Não, não diria isso." Levou a bebida aos lábios antes de continuar, a expressão carregada de ironia. "Mas, considerando que sua alternativa era o Nico, eu definitivamente sou um upgrade." Ele apoiou um cotovelo na mesa, observando Matteo com um interesse mais analítico agora. A cidade inteira estava obcecada com aquela história de almas gêmeas, e era interessante ver como cada um lidava com isso. Matteo, ao que parecia, estava tão cético quanto ele – o que tornava aquilo tudo um pouco mais suportável. "Mas já que tocamos no assunto," continuou, agora mais relaxado, "o que você acha dessa coisa toda? Vai fingir que não acredita e só está aqui pela diversão, ou já está começando a pensar que pode ter uma força cósmica decidindo sua vida amorosa?" A pergunta veio com um tom levemente provocativo e levemente julgador, mas sem pressão real. Apenas uma forma de medir a temperatura do encontro – e do próprio Matteo.
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